Joana Anastácio Lopes dos Santos apresentou, no dia 4 de Setembro, o seu primeiro romance “Prazeres”, na Biblioteca Gustavo Pinto Lopes, em Torres Novas. Natural de Borba, Joana Santos reside desde 1976 nessa cidade ribatejana onde foi formadora, professora e directora da Escola Profissional. Durante mais de uma década leccionou, como voluntária, língua e cultura Portuguesa na Universidade Sénior Francisco Canais Rocha de Torres Novas.
O livro “Prazeres” é a sua primeira aventura nos romances, onde a autora recua à segunda metade do século XX para contar as venturas e desventuras de uma criada de servir, que parte do Alentejo para Lisboa em busca de uma vida melhor. O livro está disponível para venda na Livraria “D’ Outro Tempo” do alfarrabista Adelino Pires, em Torres Novas.
“Prazeres” é o seu mais recente livro. Com que objectivo lançou este romance?
Prazeres é uma história de ficção cerzida em fragmentos de memória de um tempo (última metade do séc. XX), atravessado pela revolução. O objectivo é sempre o mesmo: o de aproximar as pessoas, de as pôr a dialogar, utilizando a escrita como pretexto. É uma forma de, em conjunto, os nascidos em finais dos anos 40 e anos 50 do séc. XX, reviverem um tempo que os macerou, que os condicionou, mas que foi o tempo que lhes coube, que carregaram e que continuam a ver reflectido nos vários espelhos onde se revêem.
O que a inspirou e o que é que retrata o livro?
O livro fala-nos do percurso de uma jovem simples que sai de um meio rural (Alentejo) para servir numa casa abastada, em Lisboa, talvez o único ascensor social para uma classe desprovida de expectativas. O texto acaba por traduzir e permitir ao leitor reviver ou imaginar muito do que foi o quotidiano sombrio de jovens marcadas, também elas, pela guerra colonial. Lembra, em tom de homenagem: ícones da nossa cultura gastronómica, como foi Maria de Lurdes Modesto; o carisma de Humberto Delgado; o festival da canção, o 25 de Abril e a magia e quase anarquia dos dias que se lhe seguiram. Mas o foco está no estigma e segregação sociais, ainda que a história nos fale de amor, atracção física., obsessão, loucura, sonho, pesadelo, crime, morte e, de certo modo, de superação. O narrador interpela-nos, coloca-nos no caminho como que “post its” , a lembrar-nos um tempo, a propor-nos a eventualidade de uma viagem interior, pessoal, intransmissível, a precisar de afastar, de vez, um ou outro fantasma que não tenha adquirido imunidade com o tempo. Mas este livro não é só isso. É também ou pretende ser uma narrativa de sentidos, com eles a serem todos reiteradamente convocados, especialmente o olfacto.
O que representa para si a escrita?
Para mim, a escrita é evasão, complemento, traço de união, mas concordo com João Cabral de Melo Neto quando diz que as pessoas escrevem por dois motivos: “por excesso de ser (fase transbordante de energia) ou por falta de ser” (vazio que a escrita vem preencher).
Em que altura da sua vida descobriu esta vocação?
Não sei situar o momento do apelo da escrita. Lembro-me que, aos 12, 13 anos, talvez, lia um clássico e sentia vontade de contar a minha própria história. A minha estreia foi na poesia. Estudava a lírica de Camões e escrevi um soneto sobre a mãe.
Como é o seu processo criativo?
Defino o tema, escolho o título, o nome da protagonista (escrevo mais sobre a alma feminina, a que conheço melhor). Depois, é deixar fluir. Com as personagens é preciso ter mão dura. Põem-se em bicos de pés, umas. Desviam-se da rota, outras.
Tem algum tema predominante nos seus livros?
A complexidade e ambiguidade nas relações amorosas e, em geral, nas relações humanas.
Que livros é que a influenciaram como escritora?
“Os Maias”, “Cem anos de solidão”, “Amor em tempo de cólera”, “a Sibila”, são algumas das obras que mais me marcaram.
Tem outros projectos em carteira que gostaria de dar à estampa?
Comecei tarde a publicar. Neste momento, distraio-me com uma crónica semanal no jornal “O Almonda”. Para já a curto prazo, nada.
Um título para o livro da sua vida?
Sem título.
Viagem?
Revisitar Florença e a Grécia.
Música?
Música brasileira ( anos 70 do sécXX); americana- country; portuguesa (os nossos já clássicos: Zeca, José Mário, Sérgio Godinho e Jorge Palma) e as novas vozes, novas revelações.
Quais os seus hobbies preferidos?
Leitura, pintura, música.
Se pudesse alterar um facto da história, qual escolheria?
Todas as formas de injustiça.
Se um dia tivesse de entrar num filme, que género preferiria?
Bergman ou Antonioni.
O que mais aprecia nas pessoas?
O que mais aprecio nas pessoas é o interesse que revelam pelo ser humano, pelo bem estar do outro.
O que mais detesta nelas?
O que mais detesto é, obviamente, o egoísmo.
Acordo ortográfico. Sim ou não?
Acordo ortográfico, sim, por obrigação. Fui professora.