Abitureiras, no concelho de Santarém, está em Festa até ao dia 4 de Setembro, em honra da padroeira Imaculada Conceição.

A Associação Abitureiras em Festa reuniu um cartaz que inclui as presenças dos ‘Sons do Minho’ (dia 1), ‘Camisas Negras’ (dia 2), ‘Banda Bico Dobra’ dia 2), ‘Chave D’Ouro’ (dia 3), ‘Baixinho do Fado’ (dia 4), os DJ Vassalo (dia 1), AfricanGroove (dia 2) e Big F. (dia 3), muita música e animação, combinadas com um serviço de bar e restaurante.

O Trilho Das Dores organiza também o ‘DARK SIDE Night Trail’, uma prova que não vai querer perder. Também o Abitureiras TT aproveita os festejos na freguesia para organizar a Rota das Adegas, um passeio pelas adegas da região.

Adriana Madeira é das mais jovens presidentes ao serviço de uma Junta de Freguesia no nosso país. Ao ‘Correio do Ribatejo’ a jovem autarca conta como tudo começou, a reacção dos pais, a participação dos jovens na vida pública e traça metas para o futuro. “Gosto de ser colega dos meus funcionários e a gestão da junta passa muito por aí”, afirma.

Quanto às Festas da Freguesia que hoje começam, há sempre que inovar, mas é importante “manter a tradição e os costumes”.

O que é que a motivou a querer assumir a presidência de uma junta de freguesia?

Na altura nada me motivou, porque foi um convite aceite de um dia para o outro, sem pensar bem nas consequências. Nunca pensei que fosse ganhar. Só no dia em que nós ganhámos as eleições é que eu fiquei ciente do que tinha acontecido. Até lá sempre pensei que ia perder. Não estava consciente que ia assumir este cargo. No dia a seguir é que me consegui sentar e perceber que tinha uma grande carga às costas, porque eu não conhecia nada do que se fazia e que responsabilidades tinha.

Caí de paraquedas e foi dia após dia a tentar perceber como seria o dia de amanhã. Todos os dias vamos encarando as coisas de maneira diferente. Eu era muito da parte do associativismo, sempre participei muito na parte associativa da freguesia, em termos de junta nunca tinha sido uma pessoa muito participativa, portanto nada indicaria que eu viesse aqui parar.

Um dia mais tarde talvez pensasse nisso, não com 26 anos. Na altura estava fora de questão. Foi uma surpresa.

Como caracteriza o seu estilo de gestão desta junta de freguesia?

Gosto muito de ser perfeccionista, de ter as coisas em condições, gosto de ser colega dos meus funcionários e a gestão da junta passa muito por aí. Trabalhamos todos em equipa em prol de uma só coisa, a freguesia das Abitureiras e o bem-estar dos nossos habitantes.

Não estudamos para sermos presidentes de junta. A gestão da junta deve ser feita com a personalidade de cada um de nós. Claramente que arranjei uma equipa boa que também se aventura nas minhas ideias e confia em mim.

Sempre demonstrou interesse pela política?

Não. A política nunca me disse absolutamente nada. Sempre fui um bocado influenciada pela família em termos de escolha partidária. A minha família sempre foi PSD e talvez também me tenha motivado a seguir esse caminho, mas na altura, quando fiz 18 anos, o presidente que se candidatava aqui às Abitureiras, do PSD, propôs-me que me tornasse militante do partido e assim o fiz.

Como vê a participação dos jovens na política?

Há muito pouca participação dos jovens na política. Ainda não percebi muito bem o motivo. Primeiro há muitos jovens que acham que a política é uma seca. Esquecem- se que somos governados pela política.

Também têm uma imagem dos políticos um bocadinho má. Não podemos pôr os políticos todos no mesmo saco. Eu sou considerada política, mas não me considero.

Nós políticos presidentes de junta, somos completamente diferentes dos políticos que nos estão a governar. Os jovens, se calhar, precisavam de mais motivação, de se verem mais envolvidos em experiências políticas, tentarem dar mais a sua opinião, fazer mais actividades que não puxem tanto para o lado político, mas que se possam misturar com política e nisso a JSD tem feito algumas nesse sentido.

Pensa que ser jovem e exercer um cargo político numa freguesia como Abitureiras traz benefícios?

O sermos jovens eu acho que traz benefícios a qualquer freguesia, porque estão habituadas a terem maioritariamente presidentes de junta de uma faixa etária dos 40 para cima. Eu acho que as nossas freguesias param um bocadinho no tempo.

Ficam um pouco estagnadas. Depende das pessoas, de quem os acompanha, das fases da vida, porque já passamos por uma grande crise e se calhar iremos voltar a passar daqui a uns anos.

Eu digo isto muitas vezes, nós jovens temos o dinamismo e a energia. Os mais velhos têm a experiência e a sabedoria. Todos juntos é que podemos fazer algo mais.

Eu sempre me rodeei de pessoas mais velhas, porque sempre tive a preocupação de pedir opinião. Nunca fiz nada de livre e espontânea vontade. Pedi sempre opinião para tentar minimizar os meus erros. Eu com 19 anos fui presidente do Centro de Convívio e arriscava tudo. Agora já não é assim, porque estou a gerir uma coisa completamente diferente. Dedicamos muito do nosso tempo e se eu não estivesse dedicada a 100% à junta, se calhar também não conseguia fazer muita coisa.

Eu tive de deixar de sair à noite, primeiro porque também tenho um filho, mas eram muitos dias a estudar e a trabalhar certas coisas na junta e a vontade de fazer outro tipo de coisas não é a mesma. Já não é como antigamente, que fazia uma directa e no dia a seguir estava pronta para ir trabalhar. E também as preocupações que levamos para casa. Tudo isso nos desgasta.

Como realiza a gestão do seu tempo? É casada, mãe, assume um cargo político… Sobra tempo para lazer, por exemplo?

Inicialmente não havia. Os primeiros meses foram cansativos, porque eu ainda tinha o meu emprego, era a casa, era o filho, o marido e por isso é que eu digo que as mulheres não se metem tanto na política por causa disso. Nós mulheres temos o dobro do trabalho. Não nos podemos esquecer que ainda somos as rainhas da casa, é mesmo assim. Os homens, por muito que digam que vivem sem nós, não é bem assim. As crianças também acabam por perder um bocado o meio familiar, o estar a três, perdemos muito essa fase.

Agora já conseguimos, mas ao início eram muitas horas no meu trabalho, chegava e vinha à noite para a junta, às vezes até levava coisas para trabalhar em casa. Passados quatro ou cinco meses comecei a deixar a junta para fora do portão. Como eu digo, do portão para fora sou presidente e do portão para dentro sou eu. Tento sempre nunca falhar nos eventos, os fins-de-semana era um caos ao início, porque não sabia gerir muito bem a situação.

Tento sempre ir às outras freguesias quando há festas, gosto de acompanhar os meus colegas, porque também gosto que eles me acompanhem a mim. Para já são quatro anos, não sei qual será o meu seguimento, mas para já é viver o que podemos. Tento gerir o meu tempo. Estou muito dedicada à junta, à casa e à família.

Pensa recandidatar-se ao cargo em 2025?

Acho que cada dia que passa nós não conseguimos planear isso. Hoje é uma coisa, daqui a um ano é outra. Quando achar que devo sair, saio. Quando achar que tenho o meu objectivo cumprido. Obviamente que nós não conseguimos fazer tudo em quatro anos. Não dá, a burocracia é muita. Os segundos mandatos ajudam-nos muito a realizar projectos, porque é quando já temos a casa arrumada, a parte administrativa está segura e avançamos.

Os quatro primeiros anos é fazer uns ajustes. De qualquer maneira não está fora de hipótese, obviamente que não está. Será uma decisão que será tomada uns meses antes das eleições.

Já alguma vez se arrependeu de ter assumido este cargo?

Só me arrependo daquilo que não faço.

Qual foi a reacção dos seus familiares quando lhes disse que iria assumir um cargo político?

Diziam que eu não ia ganhar. Sempre me disseram que era mais fácil nos mentalizarmos do pior, porque aceitar uma vitória é melhor que uma derrota. Os meus pais diziam-me sempre “não penses que vais ganhar porque vai ser uma coisa perdida”.

Quando ganhei ninguém estava à espera, mas eles têm gerido muito bem a situação. Às vezes fico eu mais prejudicada por terem de levar com certas e determinadas críticas. Estamos num meio pequeno e se eu fizer alguma coisa errada a família também acaba por pagar. Sinto-me mal por causa disso, mas eles não. Está sempre tudo bem, o esforço e dedicação sabem que eu tenho.

Reagem muito bem à situação e ajudam-me imenso. Está a ser positivo.

Quais são as principais metas que a Freguesia pretende alcançar neste mandato?

Não sou muito sonhadora e gosto de ter os pés assentes na terra. O principal objectivo que nós temos é que as pessoas venham para cá viver e que tenham condições para estar cá. Para já é manter as escolas activas. Temos muitos jovens a virem para cá viver e é bom darmos esta estabilidade para que se possa fazer cá uma educação boa. Ter condições para os nossos idosos. Temos o Centro de Dia e o Centro de Saúde que funcionam muito bem. O que nos falta aqui realmente é o saneamento básico. Somos a única freguesia do concelho de Santarém que não tem, mas já está em andamento o projecto, dito pelas Águas de Santarém. Quero fazer algo que considero grande, embora muitos não o considerem assim, mas para nós era uma vitória. Fazer um projecto com campo de padel, um parque infantil, porque não temos na freguesia toda, e era um parque de jogos e actividades para idosos. Tudo no mesmo sítio. Fazer um espaço de convívio

para todas as idades. Temos também um projecto agora, vamos iniciar daqui a um mês ou dois, para requalificar a junta de freguesia. Já temos o posto CTT, agora estamos com ideias de abrir a loja do cidadão, mas só com as obras é que o podemos fazer.

Temos ideia de requalificar fontenários e alcatroar algumas estradas que são mesmo necessárias.

O presidente da câmara prometeu-nos que voltava novamente para aqui o sintético, para o campo de futebol, dando também um pouco de vida à colectividade do Centro de Convívio de Cultura e Desporto de Abitureiras.

Nós queremos criar aqui condições para as pessoas. Já temos a bomba de gasolina, já temos uma farmácia, cafés, um restaurante e as associações todas elas estão a trabalhar. Temos tudo em funcionamento.

É manter o que temos, criar e ter condições para que as pessoas gostem de viver cá.

Como é que gostaria de ver a freguesia daqui a 10 anos?

Nunca pensei muito nisso. Certamente que daqui a 10 anos será muito melhor do que está agora. Um bocadinho mais dinâmica e para isso precisamos de coisas para dinamizar a freguesia. Este ano já conseguimos criar a comissão de festas, algo que nunca tínhamos criado. Vamos ter festas com outro nível. Penso também que a nossa festa daqui a 10 anos vai talvez voltar ao que era há 30 anos. Antigamente a freguesia das Abitureiras era muito conhecida pelas festas que faziam. As coisas foram-se degradando e fomos baixando o nível, mas estamos com ideias de voltar a ser o que eramos. Acredito que daqui a 10 anos estaremos num estado muito melhor do que o que estamos hoje. Não podemos fazer em dois anos o que não se fez em 20. Vamos pensando num ano de cada vez.

As Abitureiras vão estar em festa de 1 a 4 de Setembro. Qual a sua importância para a comunidade?

Mostram a tradição que já existe há muitos anos na freguesia das Abitureiras. Já não é o que era. Vai-se sempre modificando e melhorando. Todos os anos muda. Não podemos considerar que as festas de há cem anos sejam as mesmas de hoje em dia, mas acabamos sempre por manter a nossa tradição em termos de gastronomia, na prática da procissão e da missa ao domingo, porque a nossa festa é em honra da nossa padroeira Nossa Senhora da Conceição. Manter a tradição e os nossos costumes. O nosso rancho vai actuar no domingo à tarde a seguir à procissão. Tentamos sempre manter esse registo.

Quais são a expectativas para a edição deste ano?

ano estamos com as expectativas muito altas. Temos um programa muito bom. Temos medo do tempo, porque o tempo é que determina tudo. Acredito que as pessoas vêm na mesma porque temos muita coisa nova para mostrar, temos um recinto totalmente renovado, porque fizemos muitas alterações este ano. Vamos ter um restaurante também. A parte da noite vai ser muito boa porque vamos ter concertos fantásticos, começamos logo à sexta-feira com os “Sons do Minho” que são a cabeça de cartaz.

Há muita gente de fora que gosta muito das Abitureiras, tem muitas lembranças boas da nossa freguesia e acredito que seja um bom ano que as pessoas possam reviver essas memórias. Este ano vai ser uma festa toda diferente!

RV

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