Um livro com a chancela das Edições Cosmos foi apresentado hoje no Centro Cultural Mário Viegas em Santarém perante quase uma centena de pessoas.
Há um trigo florido em seara ondulante do conhecimento, quando se junta o saber de Aurélio Lopes, Vítor Serrão, Luís Mota Figueira e João Batista na apresentação do livro “O retorno da Deusa – Mãe” de autoria do antropólogo e investigador Aurélio Lopes que nos propõe uma leitura ampla e profundamente simbólica da figura de Maria, mãe de Jesus, como expressão e continuidade arquetípica das antigas divindades femininas da antiguidade como as deusas da fertilidade, da sabedoria, da proteção e da renovação da vida.
Através de um olhar simultaneamente histórico, antropológico e espiritual, o autor demonstra como a imagem de Maria foi sendo moldada ao longo dos séculos, ganhando dimensões que transcendem o dogma cristão e dialogam com a memória ancestral do sagrado feminino.
O estudo percorre as raízes mitológicas da Deusa – Mãe primordial, evidenciando como, nas diversas culturas do Mediterrâneo e do Oriente Próximo, as antigas representações da Mãe Terra, de Ísis, de Deméter ou de Cibele encontraram, na figura de Maria, uma nova via de sobrevivência simbólica dentro da tradição cristã.
Aurélio Lopes analisa ainda a evolução iconográfica e teológica do culto mariano, destacando a sua ascensão no imaginário popular, nas práticas devocionais e nas artes sacras.
Mais do que uma revisão histórica, o livro propõe uma releitura antropológica do Cristianismo, defendendo que o retorno da Deusa – Mãe é também o reencontro da humanidade com o princípio feminino do cosmos, ou seja o poder gerador, compassivo e mediador entre o humano e o divino.
Nesse sentido, a obra convida a uma reflexão sobre o equilíbrio entre os princípios masculino e feminino nas espiritualidades contemporâneas, e sobre a necessidade de restaurar o valor simbólico do feminino sagrado como dimensão essencial do ser e da nossa cultura.
Com uma escrita clara e elegante, apoiada em sólida erudição, Aurélio Lopes oferece ao leitor um percurso de descoberta e reconhecimento, em que Maria surge não apenas como figura religiosa, mas como ponte viva entre o mito e a fé, entre a Terra e o Espírito.