Teve lugar no passado sábado em Montemor-o-Novo a tradicional Corrida de Toiros da “Barra de Ouro”, designação que conquistou a partir da disputa de um troféu, a Barra de Ouro, entre os Grupos de Forcados Amadores de Santarém e os de Montemor, uma espécie de derby anual, em que nenhum dos conjuntos quer perder, mas, claro, nestas coisas raramente há empates.
Desta feita o “ouro” ficou em casa, pois os Forcados locais destacaram-se na consumação de duas pegas ao primeiro intento e uma ao terceiro, enquanto os Amadores escalabitanos pegaram um toiro à terceira tentativa, um à segunda e outro à quarta, numa tarde muito dura para ambos os Grupos, pois os toiros de Fernandes de Castro saíram sérios e com muito poder, o que não facilitou a vida aos forcados da cara nem às “ajudas”.
Por Santarém foram solistas o Cabo João Grave, que consumou rija pega à terceira tentativa, Joaquim Grave, à segunda, e Francisco Cabaço, numa dura pega, ao quarto intento. Pelos Amadores de Montemor pegaram Vasco Ponce, que concretizou uma valorosa pega, ao primeiro intento, Vasco Carolino, ao terceiro, aguentando duras viagens, e José Maria Pena Monteiro, que fez a pega da tarde, ao primeiro intento, com uma determinante primeira ajuda do Cabo António Pena Monteiro.
No que concerne às lides equestres assistiu- se a um bom duelo entre duas famílias toureiras, a de João Moura e a de Luís Rouxinol, duas grandes figuras do toureio, com uma história magnífica em favor da arte de bem lidar toiros, muito fiéis aos respectivos estilos, mas ambos sempre em plano de triunfo. Desta feita fizeram-se acompanhar dos filhos, Miguel Moura e Luís Rouxinol Júnior, respectivamente, que igualmente deram boa conta do recado. João Moura iniciou as hostilidades dando nota de que não estava ali para facilitar, recebendo o primeiro toiro da tarde em sorte de gaiola, que não foi bem-sucedida, porque o hastado não acometeu como era esperado, mas o Marialva de Monforte prosseguiu uma lide muito séria frente a um toiro difícil e complicado. João Moura evidenciou que continua a ser um grande lidador e, sobretudo, que usa o elevado conhecimento que adquiriu ao longo da sua carreira para encontrar soluções onde parece que elas não existem.
Luís Rouxinol enfrentou outro toiro complicado, não facilitando a vida ao cavaleiro de Pegões, que, mercê da elevada experiência superou bem o sofrível tércio dos compridos, destacando-se em seguida na colocação da ferragem curta em sortes muito meritórias. Culminou a sua actuação com um poderoso par de bandarilhas, que o público aplaudiu com entusiasmo.
Miguel Moura recebeu o seu toiro com um valoroso ferro em sorte de gaiola e em seguida desenhou uma lide muito interessante, a aproveitar bem as condições de lide do seu oponente, o melhor da tarde, até então. Privilegiando as sortes frontais, Miguel Moura destacou-se em alguns ferros colocados em terrenos de elevado compromisso, superiormente rematados.
Luís Rouxinol Júnior não teve a seu favor um toiro cómodo ou fácil, porém, empenhou-se em consolidar uma lide séria, elegendo os melhores terrenos para citar de frente e logrou colocar alguns dos mais emotivos ferros da tarde, quarteando- se nos terrenos do toiro e cravando a ferragem como mandam as regras. O seu qualificado labor teve o grande mérito de mexer com o público que soube valorizar a verdade com que o jovem Rouxinol lidou e o risco a que se expôs em sortes tão “arrimadas”.
Os últimos dois toiros da corrida foram lidados a duo, cumprindo dar nota de que todos os marialvas se empenharam em premiar o público presente com actuações de elevado nível. Porém, naquilo que o homem põe o toiro dispõe e, assim, João Moura e Miguel Moura rubricaram bons momentos de brega e cravaram vistosa ferragem, porém, ficando muito aquém de Luís Rouxinol e de seu filho, que tiveram a sorte de dispor do mais colaborante toiro da corrida, o qual foi superiormente aproveitado pelos marialvas de Pegões, que encantaram o público com uma actuação de luxo, onde a harmonia técnica e artística entre ambos foi uma constante.
NN