Muito se tem falado, nos últimos dias, da ameaça da VASP – Distribuição e Logística, S.A. interromper, a partir do dia 2 de Janeiro de 2026, a distribuição de jornais nos distritos de Beja, Évora, Portalegre, Castelo Branco, Viseu, Guarda, Vila Real e Bragança.
A empresa alega uma “situação financeira particularmente exigente, resultante da continuada quebra das vendas de imprensa e do aumento significativo dos custos operacionais”.
O Correio do Ribatejo já trabalhou com a VASP. Abandonámos esse serviço porque nunca víamos o dinheiro das vendas. Ficava por conta do serviço prestado. Logo no primeiro mês em que assegurámos a distribuição por meios próprios, o que ainda hoje se verifica, começámos a ver dinheiro das vendas. Uma verba que não nos enriquece, é certo, mas que deixou nos cofres desta empresa uns euros consideráveis. Com esta decisão aumentámos ainda o número de assinantes que nos lêem mais longe de Santarém que, deixando de ter jornais no cada vez mais reduzido número de bancas disponíveis para a venda, optaram por fazer uma assinatura do jornal recebendo-o comodamente na sua morada.
Nenhuma decisão definitiva foi ainda tomada e acredito que até possa não passar de um bluff de quem domina o mercado da distribuição de jornais e outras publicações em Portugal, exercendo mais pressão sobre o Governo para que este subsidie a empresa privada.
Todos sabemos que a informação é um bom instrumento para a literacia e formação cívica e crítica dos cidadãos, para além de ser um direito constitucional, pelo que ninguém pode ser excluído deste direito básico, viva em Lisboa ou em Freixo de Espada à Cinta. A restrição desse acesso penaliza de forma injusta as populações de territórios de baixa densidade e aprofunda as assimetrias regionais. E Portugal é um país tão pequeno, servido de boas vias de comunicação que encurtam ainda mais essa distância, pelo que não se compreende que esta possa ser critério que justifique este tipo de medidas.
A concretizar-se este seria um cenário sem precedentes em democracia. Mas não deixa de ser o que todos estamos a construir quando vimos no digital a solução única pra ficarmos informados e menosprezamos o papel como presente e futuro da Imprensa escrita em Portugal.
O que se passa com os jornais passa-se noutros sectores. Fecham-se centros de saúde, escolas, ligações rodoviárias, agências bancárias, postos dos CTT, alegadamente por não ser rentável mante-los e, com isto, desertifica-se, cada vez mais, o interior, nesta marcha triste, rumo a um abismo servido em bandejas de pechisbeque pelas redes sociais, onde haverá sempre quem acredite que chegam para ficar bem informado…
Portugal é cada vez mais Lisboa. O resto, é cada vez mais paisagem.
