Havia alguma expectativa para ver como decorria esta corrida depois do consulado de Rafael Vilhais, que tão bem levou a praça nas últimas temporadas e foi dispensado pela Misericórdia de Salvaterra, a qual cedeu a concessão do centenário tauródromo a uma Comissão de Aficionados.
Mas, felizmente para a Tauromaquia, as coisas correram muito bem do ponto de vista artístico e o público correspondeu muito satisfatoriamente.
As ganadarias participantes no concurso cumpriram enviando toiros com boa apresentação e que na generalidade colaboraram, proporcionando aos toureiros em praça lides de sucesso e pegas valorosas e emotivas aos dois Grupos de Forcados, de Montemor e de Coruche. A corrida teve o condão de ter cadência, não foi sensaborona, e no final todos estavam satisfeitos, o que diz bem da qualidade do que nos foi dado ver.
Ana Batista enfrentou toiros exigentes de São Marcos e de Luís Terrón desembaraçando- se a contento do respeitável. Em ambas as lides andou menos bem com a colocação da ferragem comprida, parecendo que lhe falta uma montada que possa receber os toiros no primeiro estado com mais segurança e mais poder. Depois, nos curtos, com a colaboração de uma excelente montada, as coisas mudaram de figura e a cavaleira salvaterrense brilhou nas sortes frontais, mais carregadas e bem rematadas. O respeitável aplaudiu a sua conterrânea, que alcançou uma nota muito positiva.
Marcos Bastinhas é um toureiro que dispõe de excelentes recursos e que conta com uma “cuadra” muito boa, que lhe oferece argumentos para todas as situações.
Tocou-lhe o toiro mais bravo da corrida, o de Passanha, frente ao qual triunfou com muito brilhantismo, desde a recepção à porta gaiola até ao par de bandarilhas com que rematou esta muito aplaudida actuação.
Na segunda parte lidou um toiro de Varela Crujo, frente ao qual se houve igualmente a contento, empolgando o público com a vivacidade e ousadia com que enfrenta os toiros.
João Ribeiro Telles lidou os toiros de Veiga Teixeira e de Ribeiro Telles e uma vez mais se impôs pela qualidade estética do seu toureio, estribado nos pressupostos clássicos, mas muitíssimo valorizado com a sua expressão artística e com a verdade que põe na consumação das sortes. João Ribeiro Telles é uma das grandes figuras da sua geração, que está a levar a sua temporada muito bem delineada e quando aparece em praça é para dar tudo o que lhe vai na alma. E que é muito!
Os Grupos de Forcados de Montemor e de Coruche estiveram ao seu nível habitual solvendo com muita qualidade o que as circunstâncias lhes ditavam. O facto de cinco toiros terem sido pegados à primeira tentativa já diz muito do desempenho dos dois Grupos, mas que não haja ilusões, pois os toiros não eram fáceis. Mas foram bem pegados e isto diz tudo.
Pelos Amadores de Montemor foram solistas José Maria Marques, que consumou vistosa pega ao primeiro intento, Francisco Borges, numa pega extraordinária, um primor de técnica, também ao primeiro intento, e a dupla António Cortes Pena Monteiro e Luís Vacas de Almeida, que
concretizou uma portentosa pega de cernelha, à terceira entrada, com uma decisão e uma galhardia excelente, tendo saído a dobrar Manuel Carvalho, que foi desfeiteado em três valorosas tentativas, tendo recolhido à enfermaria e depois ao Hospital de Santarém, com quatro costelas fracturadas e um pneumotórax, de que está a recuperar satisfatoriamente.
Os Amadores de Coruche estiveram igualmente a um nível técnico muito elevado e lograram consumar à primeira tentativa todas as suas sortes, tendo sido solistas Martim Tomás, João Prates e David Canejo, bem ajudados pelo Grupo.
Tratando-se de um concurso de ganadarias, no final da corrida foram entregues os troféus aos respectivos triunfadores, que foram, Passanha, quanto à bravura, com ligeira divisão de opiniões, e Veiga Teixeira, quanto à apresentação.
Com boas intervenções dos peões-de- -brega – registando-se a colhida de Fábio Machado, felizmente sem gravidade de maior – a corrida decorreu em bom ritmo, bem dirigida por Tiago Tavares, com diligente assessoria do médico veterinário Dr. José Luís da Cruz.