O cardeal Américo Aguiar alertou hoje para o “défice” de participação no seio das comunidades católicas, num momento em que decorre o processo sinodal lançado pelo Papa Francisco e cuja sessão conclusiva decorrerá no Vaticano no mês de outubro.

Em Fátima, à margem dos trabalhos da Semana Bíblica Nacional, o também bispo de Setúbal lamentou que se assista a “um défice de cidadania, não só civil, mas também na pertença à Igreja”.

“Estamos muito habituados a pronunciar-nos em circuito fechado, porventura, ou num teclado, que é muito mais cómodo, e depois, quando chega a hora de dar o corpo ao manifesto, pessoalmente, e arregaçar as mangas juntos e fazermos caminho, a adesão é mais lenta”, disse o bispo de Setúbal, citado pela agência Ecclesia.

“É muito importante descobrir e ouvir, porque o outro, às vezes, tem a solução, tem a experiência, tem a realidade da vida e dos problemas que nos ajudarão, que nos iluminarão a tomar as decisões mais certas”, acrescentou.

A segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 02 a 27 de outubro, no Vaticano, com o tema “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão”.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) estará representada nos trabalhos pelos seus presidente e vice-presidente, os bispos José Ornelas (Leiria-Fátima) e Virgílio Antunes (Coimbra).

Segundo o relatório preparado pela CEP para esta fase do sínodo, a Igreja Católica tem de “saber auscultar as vozes dos que, de alguma forma, se sentem excluídos”, como as famílias reconstruídas, as pessoas separadas ou as pessoas com atração pelo mesmo sexo.

O objetivo desta auscultação deverá ser o de “integrar na vida da Igreja o seu contributo”.

No documento, é sublinhada “a necessidade de uma renovação contínua da Igreja para atender às necessidades reais das pessoas e responder aos desafios contemporâneos”, não obstante se mantenha “uma fidelidade à tradição eclesial”.

Assim, importa “valorizar o papel das mulheres na vida eclesial e assegurar que possam participar nos processos de decisão, assumindo papéis de liderança, especificamente nos conselhos pastorais e económicos”.

“Deve-se procurar a meta da paridade, reconhecendo explicitamente o contributo crucial das mulheres, não apenas na pastoral e nos ministérios, mas também na missão da Igreja junto das comunidades”, advoga o documento.

Por outro lado, os participantes nesta fase de recolha de contributos para a proposta da CEP à segunda Assembleia Geral do Sínodo apontam para a importância de “construir a Igreja em torno da unidade, inclusão e diversidade, acolhendo todas as pessoas (com deficiência, jovens, idosos, em situação de pobreza, imigrantes e que se encontram nas mais variadas “fronteiras” da sociedade)”.

A participação dos leigos – não substituindo o papel dos padres nas comunidades -, dos jovens, aproveitando a dinâmica deixada pela Jornada Mundial da Juventude realizada em Lisboa em 2023, das pessoas com deficiência, integrando-as, nomeadamente nos Conselhos Pastorais como forma de reconhecer e valorizar as suas capacidades apostólicas, são outras direções apontadas pelo relatório.

Uma aposta na formação permanente dos membros do clero, em áreas como psicologia e trabalho em equipa, com “estágios” em comunidades mais desfavorecidas e periféricas (prisões, comunidades em que se cuide de doentes) ou em comunidades diversificadas (meio rural/citadino, interior/litoral, de migrantes, com minorias étnicas, nas quais a presença do presbítero não é tão frequente e outras realidades distantes do seminário, é também considerada premente.

No capítulo da formação merece destaque, também, “o acompanhamento do amadurecimento afetivo e sexual na formação dos ministros ordenados”.

O documento é perentório a aconselhar que se continue a fazer “um discernimento” sobre “questões doutrinais/pastorais que ainda causam dúvida, controvérsia ou desacordo na vida da Igreja”, como “a moral sexual, o celibato dos padres, o envolvimento de ex-padres casados, a possibilidade de ordenação de mulheres”.

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