Sei que isto das cartas abertas é um aborrecimento. Aliás, sempre me pareceu que um mail era mais intimista, mais cordial, digamos que mais pessoal, até ao dia em que desapareceram uns quantos ali para os lados de Belém e foi uma carga de trabalhos para os encontrarem.

Neste caso, basta comprar um exemplar do nosso CR e fica logo com a cartinha toda impressa, além de o nosso arquivo ser totalmente digitalizado. Posto isto, vamos ao assunto.

Vi agora uma pensionista, que se apresenta sempre em nosso nome, como se tivesse acabado de sair do cabeleireiro quando lhe cheira a camaras de televisão, reclamando dos valores que o Senhor anunciou ir acrescentar às nossas pensões no próximo mês de Outubro, desde que verificados alguns pressupostos, como os que enunciou. 

Já antes tinham reclamado polícias, médicos, enfermeiros, bombeiros pedindo revisões chorudas de salários e até os pescadores, invocaram os riscos da sua profissão, para também terem direito ao respectivo complemento, que começou na PJ e agora tem uma legião de candidatos.

Temos de concordar que o senhor se colocou a jeito, mas já deveria de saber que, no reino que governa, ninguém quer ficar para trás do parceiro do lado. 

O tio que veio antes de si, era mais de ouvir e assobiar para o lado, recorria aos estudos prévios para adiar tudo e era mestre em andar à chuva sem se molhar. Está agora naquela cadeira dourada, onde tem tudo, incluindo quem lhe limpe os óculos para deixar de ver manchas nas coisas.

Desculpe estar com estes rodeios, mas estou a ganhar coragem para lhe apresentar o meu problema, enquanto procuro os fundamentos para que não tenha argumentos para indeferir a minha pretensão.

Já se escreveram milhões de palavras sobre as PPP (parcerias público privadas) e os pesados encargos que originaram ao erário público. Mas a coisa está feita e agora é aguentar.

Curiosamente, a comunicação social acaba de informar que a BRISA pede ao estado 222 milhões de euros por perdas entre 2020 e 2022. A ANA, concessionária dos aeroportos, reclama 210 milhões, por perdas no mesmo período. A Rodoviária do Oeste, pede 70 milhões ou, em alternativa, um aumento do contrato por tempo não inferior a dois anos. Finalmente, a Concessão do Douro Litoral, quer uma prorrogação do contrato por 48 meses, informando que já em dezembro de 2023. havia pedido ao estado 43,5 milhões.

Todos se queixam que, naquele lapso de tempo, houve diminuição de tráfego, nas estradas, raros passageiros a voar e ainda menos nos transportes colectivos.

Porquê? Pandemia COVID 19!!!

Como o vírus não tinha nada que entrar em Portugal; como o governo não usou Dum-Dum em quantidade para matar o maldito que paralisou o País; como os contratos consignam que o estado tem que pagar quando não são alcançados os valores indicados, alguém tem de perder, menos os ditos parceiros.

Pela minha parte também tenho a dizer que o confinamento a que me obrigaram, o usar máscara e o não poder ir onde me dava na real gana, trouxeram-me prejuízos que, não se podendo quantificar, podem-se pelo menos mitigar.

Assim, anexo junto a factura da minha estadia de duas semanas em hotel de cinco estrelas, tudo, mas tudo incluído, pela quantia de 12.500.00 euros, valor que já contempla o IVA, referente às férias deste ano, como se fossem relativas aos anos da pandemia e fica tudo esquecido e arrumado.

Terá VEXA todas as razões para concordar que, apesar de tudo, sou o reclamante mais barato deste maravilhoso país, onde anda tanto malandro sem vergonha.

Obviamente, espero deferimento.

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