Se os carros estão em cima dos passeios é porque os passeios estão debaixo dos carros. Portanto, os passeios não deveriam ser feitos por baixo dos carros.
Construiram-se passeios sem qualquer planeamento sustentável e ajustado aos novos tempos citadinos, e estamos agora perante uma escassez de passeios para tantos automóveis.
É necessário fazer mais passeios, de modo a permitir um ajustamento do espaço urbano ao tráfego local. Não será tarefa fácil, pois numa primeira fase do projecto os passeios existentes terão que ser alvo de uma intervenção para a sua requalificação, o que obrigará a uma gigantesca operação de remoção dos veículos.
Não sendo de momento viável tal propósito, torna-se necessário perceber que estamos perante um problema estrutural que é transversal à maioria dos peões scalabitanos.
Face a esta situação o cidadão comum tem de optar entre ser peão ou automobilista. Caso opte por ser peão, deverá então circular pela estrada. Se preferir o automóvel, tem de renovar a carta de condução que, segundo um novo Código da Estrada, o habilitará a transitar pelos passeios, em segurança.
Agentes reguladores de trânsito aplicarão multas a todos os peões que não circulem pela estrada, ficando estes também obrigados a usar os parquímetros sempre que pretendam parar. Contudo, o custo de estacionamento para peões será menor que o dos carros, na medida em que ocupam menos espaço, o que é justo.
Santarém está integrada na rede das Cidades Europeias sem Peões, o que lhe confere estatuto privilegiado de Cidade com Centro Histórico Motorizado.
Pena é que as ruas antigas não tenham largura suficiente para se aumentarem os passeios, de modo a permitir também o estacionamento de camiões TIR. Talvez um novo Plano Director Municipal venha encontrar solução para isso, o que irá trazer grande movimento à cidade. Acreditemos!
In: ‘Correio do Ribatejo’ de 11 de Janeiro de 2019