Os dois Centros Integrados de Recuperação, Valorização e Eliminação de Resíduos (CIRVER) localizados na Chamusca receberam 398 mil toneladas de resíduos industriais perigosos de proveniência nacional e internacional em 2019, tendo a maioria sido depositada em aterro.

Os dados foram fornecidos à Lusa pelos administradores dos dois CIRVER que funcionam no Eco Parque do Relvão, freguesia da Carregueira, na Chamusca, desde 2008, viabilizando uma solução específica para cada tipo de resíduos, sobretudo industriais perigosos.

De acordo com Jorge Afonso, administrador do CIRVER SISAV, no último ano o centro “tratou 208.000 toneladas de resíduos perigosos, das quais 18% de proveniência internacional”. A componente de resíduos para eliminação com proveniência do estrangeiro foi de 11% dos resíduos totais do SISAV, representando aproximadamente 60% das importações.

“No caso do CIRVER SISAV, estes resíduos entram a preços mais elevados do que os resíduos de origem nacional”, acrescentou o responsável, adiantando que “tratar resíduos perigosos nunca é barato”, pelo que o caminho “será sempre minimizar a produção de resíduos e aumentar a reciclagem”.

Tendo em conta os dados fornecidos, grande parte das importações do SISAV são “com código R”, ou seja, são reciclagens de resíduos. São tratados na unidade “combustíveis provenientes de fundos de navios, misturados com água salgada ou de centrais eléctricas no estrangeiro” dos quais é possível fazer um combustível utilizado na indústria.

“O CIRVER SISAV impede grandes quantidades de água do mar de ficarem contaminadas, produzindo um combustível e assim contribuindo para a economia circular”, pode ler-se na resposta.

É esta economia circular que é pretendida nestes dois espaços, segundo o presidente da Câmara Municipal de Chamusca, Paulo Queimado, que explicou à Lusa que o trabalho realizado se faz “muito das simbioses industriais”.

“Aquilo que é o resíduo e aquilo que as empresas podem vir a valorizar aproveitando o máximo possível na sua unidade. Depois, esse seu resíduo será matéria-prima para outra empresa que valoriza o que pode valorizar e assim sucessivamente até haver uma parte ínfima que vai para aterro”, disse Paulo Queimado.

O autarca referiu ter “plena confiança” no trabalho realizado pelos dois CIRVER da Carregueira, sublinhando que as unidades “são feitas especificamente para fazer o tratamento dos resíduos nas melhores condições de segurança e com as tecnologias mais recentes e avançadas”.

O também presidente do Conselho de Administração do Eco Parque adiantou que no ano passado houve a renovação de uma licença, o que só por si demonstra a confiança: “As empresas fizeram o processo adaptativo às tecnologias mais recentes e convenientes para o tratamento dos resíduos”.

Tanto a unidade SISAV como a ECODEAL receberam resíduos industriais perigosos de Malta, Grécia e Itália. A primeira importou ainda resíduos da Irlanda, Reino Unido e Cabo Verde.

Manuel Simões, director-geral do CIRVER ECODEAL, avançou à Lusa que no decorrer de 2019 a sua unidade tratou “cerca de 190 mil toneladas de resíduos industriais perigosos, sendo que cerca de 18% eram resíduos industriais perigosos de países da União Europeia que não possuem instalações para os tratar ou não têm capacidade de tratamento instalada para a quantidade produzida nesses países”.

A ECODEAL tratou “essencialmente lamas industriais de processos de tratamento físico-químico”. A maioria dos resíduos recebidos de outros países teve como destino final o aterro.

Segundo Manuel Simões, o aterro da ECODEAL tem uma capacidade licenciada de 1.700 mil toneladas e durante os últimos 10 anos de actividade foram já depositadas em aterro “cerca de 900 mil toneladas – dessas, menos de 5% são resíduos de origem internacional”.

A entrega neste CIRVER de uma lama industrial perigosa, por exemplo, pode custar a um produtor nacional cerca de 75 euros por tonelada, além dos 11 euros por tonelada da taxa de gestão de resíduos (que reverte para o Estado). Se o mesmo resíduos for de origem internacional o preço fica por 105 euros/tonelada (a que acrescem os 11 euros/toneladas da taxa).

Economicamente, na actividade desenvolvida no Relvão, “os movimentos transfronteiriços de resíduos têm dado um ‘input’ importante na actividade dos dois CIRVER, reflectindo-se economicamente para o município da Chamusca”, reconheceu Paulo Queimado.

“Vamos falando sempre na preocupação a nível de território, das quantidades e como é feita essa recepção e a tipologia. Para valorização estamos completamente de acordo e também para a reintrodução de produtos em novas matérias-primas em circulação”, explicou.

No entanto, o autarca admitiu que a questão dos resíduos que não são para valorizar constitui uma preocupação: “São para deposição em aterro e fica no nosso território”.

Projectado em 2004, o Eco Parque do Relvão concentra em cerca de 600 hectares várias empresas que fazem a valorização e o tratamento de resíduos, desde urbanos aos industriais perigosos, passando pelo tratamento de resíduos hospitalares de lamas de estações de tratamento de águas residuais ou veículos em fim de vida.

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