Lendas são narrativas transmitidas oralmente pelas pessoas, visando explicar acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais, misturando fatos reais ou fantasiosos, e que com o tempo se modificam através do imaginário popular.
Porque como são repassadas oralmente de geração a geração, vão com o passar do tempo sendo alteradas e à medida que se popularizam, tendem a ser reproduzidas e registadas em forma de contos, ganhando grande popularidade as ditas folclóricas originadas pela cultura popular, ou as urbanas, cuja principal característica têm um caráter sensacionalista ou assustador.
Vejamos algumas das lendas desconhecidas do nosso antigo Império Oriental, nomeadamente em Goa, quando em 1560 chega o Tribunal da Inquisição e a cosmopolita “Goa Dourada” é substituída pela “Goa da Contra-Reforma”, passando a ser agora o “sanctum sanctorum” religioso, que à atmosfera comercial, cultural e social, passam a sobrepor-se os valores religiosos, com transformações profundas como as festas passarem a ser nos adros das igrejas e as coristas e bailadeiras serem impedidas de entrar na cidade.
Então, junto do Tribunal da Inquisição e entre um enorme número de denúncias feitas aos dois inquiridores ganhavam destaque: o desrespeito a Cristo e Sacramentos, blasfémias, bigamia, adultérios e feitiçarias. Em 1843, a cólera fará mudar a capital para Pangim, localidade no litoral com praias e colinas, designando-se esta de Cidade de Nova Goa. É então neste novo ambiente, de agrado ou desagrado, que vão surgir algumas das lendas mais conhecidas de Goa e relacionadas com as ditas denúncias à Inquisição:
1. A lenda dos amores clandestinos do padre Cárcomo Lobo, confessor do Vice-rei, que de terço, breviário e braço dado, passeava à meia-noite pela praia com D. Paula Sotto Mayor, a Vice- rainha, esta nua e bela. Todos aqueles que avistassem estes fantasmas, já desaparecidos há muito, _ cavam de imediato cegos.
2. A lenda do pirata Angriá, há muito eliminado pela armada portuguesa, que surgia ao longo do litoral, soltando lamentos e que ao despontar da aurora dissipava-se na neblina e escondia-se na espuma das ondas. Quem se aproximasse gritaria toda a noite até desfalecer.
3. A lenda do capelão da Sé de Goa que se enfeitiça por uma bela mestiça, e que, apanhado pelo marido é amarrado à cama e dado como pasto a um grande número de caranguejos vivos, que lhe roem o nariz, as orelhas e as partes baixas. Um aviso aos que, ambicionando o alheio, não evitam amargos dissabores.
4. Para contentamento da população, a Câmara de Goa mandou cortar um outeiro ligando duas partes da Cidade de Goa. Vai nascer a lenda dos fantasmas do Corte de Outeiro. Estes bailavam a altas horas da noite e ao amanhecer, as suas sombras, como rolos de fumo, subiam a colina diluindo-se nas rochas. Quem por lá passasse com eles teria que bailar toda a noite.