A Câmara da Chamusca quer que a conclusão do IC3, com nova travessia sobre o Tejo, seja reconhecida como de interesse regional e nacional para que o investimento necessário, da ordem dos 100 milhões de euros, seja considerado prioritário.
O presidente da Câmara da Chamusca, Paulo Queimado, defendeu a alteração da classificação desta obra no Plano Estratégico de Transportes e Infraestruturas (PETI 3+), e o reconhecimento da importância desta “ligação estratégica” no eixo rodoviário nacional, durante a apresentação de um estudo de tráfego que, pela primeira vez, quantificou os impactos do trânsito, sobretudo pesado, no concelho.
“Estes estudos são a confirmação do que andamos há muitos anos a referir que é uma necessidade não só para o concelho da Chamusca, mas principalmente para a região”, disse o autarca.
O troço do IC3 que falta construir, ligando a A13, no concelho de Almeirim, à A23, no de Vila Nova da Barquinha, com uma ponte alternativa à centenária travessia do Tejo na Chamusca, não foi considerado prioritário no plano de investimentos para 2014-2020, apesar dos compromissos assumidos quando a Chamusca aceitou, há uma década, receber os dois únicos centros de recolha e tratamento de resíduos perigosos do país.
Esta “falta de solidariedade nacional” para com um concelho que aceitou resolver um problema do país foi destacada numa sessão que contou com a presença de autarcas, técnicos, população e representantes do Ministério do Ambiente e da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT).
Paulo Queimado frisou o facto de o estudo apresentado ter confirmado que o elevado tráfego na estrada nacional 118, que atravessa o centro urbano não só da Chamusca, mas também de Alpiarça e de Almeirim, não resulta apenas do Ecoparque do Relvão, onde se situam mais de uma dezena de empresas que recebem diversos tipos de resíduos provenientes de todo o país.
O autarca referiu o impacto na EN 118 do trânsito gerado pelo terminal multimodal do Entroncamento/Riachos, por unidades industriais como a celulose do Caima, em Constância, ou a Mitsubishi, em Abrantes, pelas várias zonas industriais existentes neste eixo, bem como pela agroindústria, a floresta, a silvicultura.
O estudo apresentado por Libano Monteiro, da VTM, mostra que as povoações de Almeirim, Alpiarça e Chamusca são atravessadas diariamente por 7.300 veículos, sendo que pela ponte da Chamusca passam todos os dias 1.000 pesados de mercadorias, gerando-se um “elevado tempo de espera” pela impossibilidade de cruzamento destas viaturas.
O levantamento de tráfego, realizado ao longo de seis dias (24 horas) no mês de Outubro último, permitiu ainda confirmar que, para fugir ao percurso mais longo e mais congestionado no acesso da EN118 ao Ecoparque do Relvão, há pesados, incluindo cisternas, a recorrer à estrada municipal 1375, onde a sua circulação é interdita, com elevados riscos de acidente que, em caso de derrame, podem originar desastres ambientais.
Paulo Queimado narrou o caso “caricato” de um camião que se dirigia ao ecoparque acompanhado por fortes medidas de segurança e que ficou “encravado” numa rua da Carregueira, próximo da escola e do posto de saúde, com os agentes encapuçados e fortemente armados a gerarem o “pânico” junto da população.
“Quando a Chamusca aceitou os CIRVER (centros de recolha e tratamento de resíduos perigosos) foram espalhados papeis com caveiras a dizer que íamos morrer todos”, disse o autarca, salientando que, apesar disso, a aposta no sector dos resíduos aconteceu, gerando 500 postos de trabalho directos e mais de 600 indirectos, com um “enorme potencial de crescimento” que está a ser travado pelas acessibilidades.
Salientando que, “felizmente”, os acidentes que têm ocorrido ao longo da EN118 com camiões não se traduziram até ao momento em nenhum desastre ambiental, o autarca alertou que “um eventual derrame” numa linha de água irá “Tejo abaixo até Lisboa”, onde o impacto se fará sentir.
António Lorena, da 3 Drivers, que tem assessorado a Associação Ecoparque do Relvão (AEPR), lembrou que aos impactos ambientais e económicos se juntam os impactos sociais, com a população a queixar-se do ruído, da vibração, da poluição do ar provocados pelo tráfego intenso, sobretudo de pesados.
Paulo Queimado disse à Lusa que a procura de soluções para o investimento tem sido debatida no grupo de trabalho que envolve o município, a AEPR, a CCDR-LVT, a secretaria de Estado do Ambiente e a Agência Portuguesa do Ambiente.