Nascidos de uma amizade improvável entre Santarém e Moura, os Dona Alzira — trio formado por Diogo Mendes, João Feneja e Manuel Madeiras — são um projecto musical 100% ribatejano que tem vindo a ganhar espaço no panorama independente português. Depois dos singles Sabor a Canela, Um ou Dois Botões e Sal e Pimenta, a banda prepara o lançamento do novo tema Caravana e sonha com um palco emblemático: a Feira Nacional da Agricultura. Em entrevista ao Correio do Ribatejo, falam do processo criativo, das influências, das dificuldades de ser artista independente e do desejo de “levar a vida com simplicidade e verdade”.

Como nasceu a banda Dona Alzira e o que vos levou a criar este projecto musical com raízes em Santarém?

O Diogo e o João, embora sejam de Santarém, não se conheciam. O Manuel veio do Alentejo estudar para Santarém, onde conheceu primeiro o Diogo e mais tarde o João; após descobrir que ambos partilhavam o mesmo gosto pela música, resolveu convidá-los para passar um fim de semana para fazer uma música a ser enviada à livre submissão do Festival da Canção.

“Sal e Pimenta” não foi seleccionado pelos jurados do festival, mas foi muito bem recebido pelos nossos amigos, fazendo assim nascer a “Dona Alzira”.

Com três singles já lançados — Sabor a Canela, Um ou Dois Botões e Sal e Pimenta — como têm sido recebidas as vossas músicas pelo público?

A reacção do público tem sido incrível. Começámos naturalmente a ter apenas os nossos amigos e familiares a ouvir as canções, mas inesperadamente o projecto escalou ao ponto de conquistarmos também ouvintes em todo o país e noutras zonas do mundo. Este crescimento orgânico e evidente é a motivação certa para continuarmos.

Estamos a passar uma fase muito feliz.

Como definem a vossa sonoridade e que influências musicais mais vos marcam?

Nós gostamos de ouvir um bocadinho de tudo e retirar o melhor de cada estilo musical. Acreditamos que só assim podemos marcar a diferença nas nossas canções e que são essas fusões que fazem “Dona Alzira” existir. A dinâmica a três ajuda muito porque bebe de três influências musicais semelhantes, mas ao mesmo tempo distintas o suficiente para fazer músicas com características muito próprias. Apesar de ser uma sonoridade meio mesclada, consideramo-nos uma banda entre o indie e o indie-rock.

O vosso processo criativo parece ser muito colaborativo. Como nasce uma canção dos Dona Alzira?

O processo de criação das nossas canções é relativamente simples. No fundo, é marcar um fim de semana entre nós e o processo flui naturalmente. A parte mais difícil é encontrar datas disponíveis entre todos. Quanto à composição e escrita, tudo começa com umas malhas do Feneja e o Diogo e o Manel vão atrás cantarolando – tudo isto enquanto gravamos o que vai saindo; claro que todo o processo é um pouco mais complexo e aceso – todas as ideias são discutidas e alteradas dezenas de vezes até à hora de ir embora no Domingo, mas uma coisa é certa: chegamos sexta sem nada pensado e saímos Domingo com mais uma canção produzida. Isto porque temos a sorte de contar com o Isaac Pimenta que se junta a nós religiosamente para produzir e arranjar as canções. Tem sido desde o primeiro dia uma peça fundamental, envolvendo-se no processo com um contributo de extrema importância para o arranjo, a composição e a produção das músicas.

Aproveitamos aqui para reforçar o nosso mais sincero agradecimento: obrigado Isaac!

Que novidades estão a preparar? O que podem os ouvintes esperar do próximo single?

O nosso grande objectivo é lançar um álbum até ao final do ano. Já temos a maior parte das canções prontas, mas queremos lançá-las com algum intervalo para que o público as possa absorver da melhor maneira possível. Obviamente que queremos também dar concertos por este país fora, mas para já estamos focados em construir uma base estruturada para que no futuro seja mais fácil proliferar. Quanto ao futuro próximo, 16 de Maio lançamos mais um single – “Caravana” – que conta com as sonoridades clássicas dos anos 80 e 90 e sempre com a disposição característica da “Dona Alzira”. Nesta canção falamos da forma como gostamos de levar a vida, de forma simples e positiva – até nas piores situações.

Uma música que vos define como banda?

Difícil escolher uma música, até porque somos 3 e nenhum de nós tem “UMA” música favorita. Mas de forma a não deixar o leitor sem resposta, escolhemos democraticamente o nosso próximo single “Caravana” que convidamos desde já todos a ouvir no dia 16 de Maio.

Um palco de sonho onde gostariam de tocar?

Feira Nacional da Agricultura. Não podemos negar que a FNA significa muito para nós. Vivemos os três em Santarém e sabemos bem o que esse evento significa para a cidade e região – é um Ex-libris do Ribatejo. Para nós, é um momento único de festa onde reencontramos amigos que já não víamos há algum tempo. Por tudo isto, estarmos lá, a fazer o que mais amamos, com quem mais gostamos, seria sem dúvida um momento de realização pessoal para cada um de nós.

Um artista com quem gostariam de colaborar?

Em Portugal, sem dúvida alguma Rui Veloso – é uma referência indiscutível para todos nós. A nível internacional, Tim Bernardes é um artista muito completo que partilha connosco uma enorme afeição à língua portuguesa.

Uma referência musical nacional?

É difícil enumerar apenas uma referência nacional. Os nossos gostos pessoais são diversificados, mas encontram-se quando falamos de Virgem Suta, Miguel Araújo, Salvador Sobral ou Capitão Fausto, entre muitos outros. Mais recentemente, temos também ouvido muito Napa e Ganso, que vão de encontro com a música que gostamos de fazer.

O que mais vos inspira nas pessoas?

A sinceridade com que vivem as suas vidas. É dessa forma que também gostamos de viver e é nessa verdade e simplicidade que encontramos as histórias que servem de base à nossa escrita.

O que menos suportam no mundo da música?

Não existe nada que não suportemos, existem sim alguns aspectos neste mercado que de certa forma dificultam o nosso percurso. Como artistas independentes, sem acessos aos recursos e às ferramentas que as grandes distribuidoras têm, temos muito menos oportunidades de mostrar a nossa música. Embora sejamos muito acarinhados por algumas rádios locais, chegar às grandes rádios é extremamente complicado; sentimos que esta carência afecta o nosso trajecto.

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