Ana Maria Feliciano – Directora Técnica da ARPICA (Associação de
Reformados, Pensionistas e Idosos do Concelho de Alpiarça)

As instituições de resposta social da região, em particular as de apoio aos idosos, prepararam, com antecedência, planos próprios de contingência face ao novo coronavírus, tendo em conta as orientações da Direcção-Geral de Saúde (DGS). A ministra da Saúde, Marta Temido, tem deixado claro que a “preocupação central” do Governo se foca, agora, nas estruturas residenciais para idosos, independentemente da sua tipologia. Na região, a tutela tem deixado elogios à forma como as instituições têm reagido, salientando que existe “prontidão na resposta e que os meios estão preparados”. O Correio do Ribatejo contactou quatro instituições que estão na linha da frente da protecção aos mais frágeis: Centro Social Interparoquial de Santarém, Misericórdia de Pernes, ARPICA e Fonte Serrã que explicam as medidas tomadas para combater a Covid-19.


Ana Maria Feliciano – Directora Técnica da ARPICA (Associação de
Reformados, Pensionistas e Idosos do Concelho de Alpiarça)

Que medidas preventivas foram tomadas face à pandemia do COVID-19?
A Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos do Concelho de Alpiarça (ARPICA) começou pela elaboração do seu Plano de Contingência, nomeadamente com a afectação de trabalhadores e previsão de equipas de substituição e preparação de quartos, para a eventual necessidade de isolamento de utentes. Por outro lado, procedemos à aquisição de material de protecção individual, tanto para funcionários como utentes e, seguindo as recomendações da Direcção geral da saúde (DGS), procedemos ao cancelamento de visitas na Estrutura Residencial Para Idosos (ERPI).
Numa fase inicial, separámos os utentes de Centro de Dia, dos utentes de ERPI, mas, posteriormente, com o avançar da pandemia, acabámos por encerrar o Centro de Dia e Centro de Convívio. Posteriormente, procedeu-se à distribuição das refeições a todos os utentes de Centro de Dia que ficaram no seu domicilio: as equipas de Apoio Domiciliário, não entram na Associação, pelo espaço que dá acesso aos utentes de ERPI e aos restantes funcionários;

Quais são as maiores dificuldades sentidas?
As maiores dificuldades relacionam-se, sobretudo, com o facto de sensibilizar os familiares dos utentes, em relação ao cancelamento de visitas, mas também compreendo que foi difícil proceder à privação dos seus familiares, uma vez, que são todos muito assíduos na visitação dos seus entes queridos.
Outra das dificuldades é o uso do equipamento de protecção individual: reconheço que é muito incomodativo, a todos os níveis, mesmo ao nível da demonstração de afectos entre funcionários e utentes: para eles é muito difícil compreenderem esta atitude, uma vez que estão sempre a solicitar “beijinhos” aos funcionários…

Em termos de equipamentos de protecção dos trabalhadores, como conseguiram resolver esta questão, visto que há escassez no mercado?
Tem sido muito difícil, pois, além da escassez de equipamento no mercado, os preços de comercialização são avultados, para a capacidade de compra das IPSS, uma vez que, sobrevivem sempre com a grandes dificuldades financeiras. Apesar disso, trabalhamos diariamente, com muito orgulho, para dar resposta à necessidades dos utentes, funcionários e comunidade.

Concorda que a prioridade deveria ser “testar, testar, testar”?
Claro que concordo: todos os funcionários e utentes dos Lares e Centros de Dia deviam ser testados, assim como toda a comunidade em geral.

Muitos Lares estão a apelar ao voluntariado para fazer face à falta de pessoal. No caso em concreto, como se está a proceder?
Em primeiro lugar, procedemos à contratação de mais dois funcionários e optámos pela ‘laboração em espelho’, com duas equipas, com horário de trabalho de 10 horas, diárias, o que implica um grande esforço de todos. Temos também candidaturas apresentadas de projectos de CEI, ao IEFP.
A equipa técnica e administrativa também se encontra trabalhar no regime de espelho, com as mesmas 10 horas diárias.

O presidente da Associação Nacional de Gerontologia Social afirma que “só se resolve esta questão nos lares de idosos com um regime de internato dos trabalhadores”. Concorda com este ponto de vista?
Compreendo o ponto de vista, mas julgo que é também uma decisão muito difícil. Não estamos numa situação em que saibamos quanto tempo esta pandemia vai durar e, por isso mesmo, não podemos descurar também o lado dos trabalhadores. Se, normalmente, são pessoas que assumem funções que podem ser desgastantes, numa situação de internato podem tornar-se ainda mais complexas e levar a um desgaste físico e emocional extremos, pelo que me parece que essa solução tinha de ser muito bem ponderada. Se, por um lado, queríamos acima de tudo proteger os utentes, por outro, não o podemos fazer sem funcionários e, por isso mesmo, julgo que deveremos tentar sempre dar-lhes todas as condições possíveis no momento para se manterem em funções, quer do ponto de vista físico, quer do psicológico.

O que mudou na rotina do Lar?
Muita coisa. Sentimos, sobretudo, ao nível da privação das visitas, que também contribuíam para a vida diária da Associação. Mas estamos a tentar levar esta pandemia com muita serenidade. Os utentes sentem algum isolamento, mas tudo fazemos para colmatar essa circunstância.

O que têm feito para diminuir o isolamento dos idosos, impedidos de receber visitas?
A equipa técnica tem proporcionado o contacto de utentes com os familiares, através de vídeo chamadas, marcadas antecipadamente. Também foi elaborado um vídeo com utentes e funcionários, e publicado no facebook, para que os familiares visualizem que ” todos estão e vão ficar bem”.

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