Duas dezenas de enfermeiros concentraram-se hoje à entrada do Hospital de Santarém com 50 balões brancos para simbolizar o número de profissionais em falta “premente”, assinalando o primeiro de três dias de greve nesta unidade de saúde.

Helena Jorge, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), disse aos jornalistas que a paralisação acontece antes das férias de verão, um “ciclo muito complicado e grave”, e num momento em que os turnos já funcionam com um número de profissionais diminuído e em que o volume de horas extraordinárias já é “absolutamente incrível”, deixando as equipas “completamente exaustas”.

Segundo o SEP, para cumprir o estipulado nas Dotações Seguras e permitir o cumprimento dos horários de 35 horas semanais, o Hospital de Santarém necessitaria de mais uma centena de enfermeiros (metade dos quais de forma premente), a juntar aos cerca de 570 profissionais da instituição.

“O que estamos a fazer é um sinal de boa vontade que com o Governo anterior não tivemos”, afirmou Helena Jorge, lembrando a paralisação de quatro dias no verão de 2014 e frisando a disponibilidade de, “colmatadas as faltas emergentes”, prosseguir o esforço de manter os níveis de segurança nos cuidados prestados.

A dirigente do SEP afirmou que o conselho de administração do Hospital de Santarém “até tem pedido enfermeiros”, mas não tem autorização para contratação.

“Era isso que não estávamos à espera neste Governo”, afirmou, lamentando que, sendo o ministro Adalberto Campos Fernandes um profissional da área, não consiga “entender quanto a falta de 50 enfermeiros faz numa instituição como esta”.

Helena Jorge lamentou que o Ministério não tenha autorizado, até segunda-feira, as contratações pedidas pelo Hospital de Santarém, como o sindicato havia solicitado numa carta endereçada na semana passada.

Se tivesse dado autorização, declarou, os enfermeiros teriam suspendido a greve.

“Não foi nossa má vontade. Foi má vontade do Ministério”, afirmou, sublinhando o papel do Ministério das Finanças no processo.

Helena Jorge referiu as consequências da falta de enfermeiros para os doentes, que, disse, “têm aumentado muito”, sendo as taxas de ocupação do hospital “muito elevadas” e as equipas reduzidas de seis para três ou quatro profissionais, pondo em causa a qualidade e a segurança dos cuidados.

“Tratamos com a vida das pessoas, que não se pode traduzir em números”, disse, salientando a preocupação dos profissionais de “tudo fazer pelas pessoas”.

Segundo Helena Jorge, os serviços com maiores carências são as Medicinas, a Cirurgia e as Urgências, estando o Hospital a gerir as falhas mais prementes desviando enfermeiros de outros serviços, o que agrava o cansaço, dada a instabilidade e necessidade de integração que isso implica.

“Não podemos ter serviços de Cirurgia com dotações abaixo das preconizadas para níveis de segurança na prestação de cuidados. Isso não admitimos. Estamos outra vez a trabalhar num arame sem rede e não fazemos isso aos utentes”, acrescentou.

No final da concentração que marcou o arranque do protesto, os enfermeiros libertaram os balões para simbolizar a “rapidez” com que os profissionais entram e saem desta instituição.

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