André Manso, jovem estudante de Engenharia Aeroespacial no Instituto Superior Técnico, liderou a equipa RED na conquista da categoria de propulsão sólida (S3) no European Rocketry Challenge (EuRoC) de 2024. Inspirado pelas experiências vividas no projecto, André, natural de Almeirim, destaca a importância da perseverança e do trabalho em equipa para enfrentar desafios técnicos e financeiros. Agora, o grupo prepara-se para a transição para a propulsão híbrida, marcando um novo capítulo no desenvolvimento da engenharia aeroespacial em Portugal.

Como foi o processo de preparação e desenvolvimento do foguete ADAMASTOR, e quais foram os maiores desafios enfrentados pela sua equipa para alcançar a vitória no EuRoC?

Foi um processo longo, mas gratificante. Começámos a trabalhar nele em 2023, até à nossa vitória na categoria de lançamento, no passado Outubro. Houve muito trabalho envolvido. As nossas maiores dificuldades relacionam-se sempre com financiamento e os consequentes atrasos no planeamento. Dependemos exclusivamente dos apoios dos patrocinadores que vamos adquirindo e dos nossos parceiros institucionais, aos quais estamos sempre muito gratos, para desenvolver as nossas diferentes missões e competir a nível europeu, com equipas estrangeiras de orçamentos em ordens de grandeza bastante superiores ao nosso.

Após dois anos consecutivos a conquistar o segundo lugar na pontuação geral, o que mudou na estratégia ou abordagem da equipa para alcançar o primeiro lugar na categoria de lançamento S3?

Este prémio, que conquistámos agora em 2024 com o ADAMASTOR, já o tínhamos conseguido em 2022, com o BALTASAR. É fruto de uma ambição crescente, ano após ano, por fazermos mais e melhor do que em anos passados. Torna-se também, uma indicação da experiência e do conhecimento que acumulamos com cada teste e cada lançamento, que nos esforçamos imenso para transmitir e passar aos nossos sucessores dentro do projecto.

A competição no EuRoC é um ambiente multicultural e de alta exigência técnica. Como descreveria a experiência de trabalhar com equipas de diferentes nacionalidades e aprender com elas?

A competição europeia oferece-nos a oportunidade de entrar em contacto com equipas de outros países, permitindo-nos comparar realidades distintas. Encontramos equipas mais avançadas e experientes, e outras mais novatas. Observam-se diferenças nas dimensões das equipas, das facilidades em testar e efectuar lançamentos nos seus países, no investimento que é feito nesses países em projectos como este, que são notáveis a nível da inovação e do desenvolvimento científico local. O mais valioso é o que podemos aprender com as experiências dos outros: os erros que cometeram até chegar à competição, o que funcionou e o que não correu bem em implementações. Também procuramos partilhar o que tem funcionado para nós e reflectir sobre os erros que cometemos ao longo do nosso percurso.

Qual é o impacto desta vitória para o futuro da sua equipa, o RED, e quais são os seus próximos objectivos?

Esta vitória inspira os nossos membros e espero que deixe os nossos parceiros e apoiantes orgulhosos do nosso trabalho. Também nos motiva a não desapontar quem nos acompanha, na próxima edição. Depois da vitória em 2022 e agora em 2024 na categoria S3, a nossa prioridade é mudar a categoria em que participamos, de propulsão sólida para híbrida, mantendo o apogeu nominal do lançamento em 3 km (H3). Esta mudança é dos maiores marcos da história do projecto, que é pioneiro em Portugal, revelando-se o maior desafio técnico até à data, e requerendo um investimento significativamente superior.

O que o inspira a continuar nesta área e que conselhos daria a outros jovens que sonham com um percurso no sector aeroespacial?

Há várias razões que me fazem querer continuar na área. Acima de tudo pelas experiências vividas com o RED. A adrenalina de um lançamento, a excitação pelo sucesso das operações e pelo funcionamento dos sistemas que construímos do zero. São as conquistas destas vivências que me impulsionam a continuar. Aos jovens que sonham com um percurso destes, diria que nós somos o nosso maior obstáculo, que os sonhos foram feitos para serem vividos, não desistam de prosseguir esses sonhos, e finalmente, que acima de tudo não se esqueçam de viver e de apreciar a jornada.

Um título para o livro da sua vida? 

“Com a cabeça na lua, ou com os pés assentes na terra?”

Viagem? 

A que gostava um dia de fazer, a Los Angeles, EUA.

Música? 

Can’t Hold Us, Macklemore & Ryan Lewis featuring Ray Dalton.

Quais os seus hobbies preferidos? 

Acampar, construir e lançar rockets.

Se pudesse alterar um facto da história, qual escolheria?  

Ter-me-ia juntado ao RED mais cedo, o nosso tempo no projecto é limitado, e a experiência é única.

Se um dia tivesse de entrar num filme, que género preferiria? 

Um filme de espionagem.

O que mais aprecia nas pessoas? 

Fico sempre a sentir-me melhor quando observo bondade nos outros.

O que mais detesta nelas?  

Quando amuamos, por vezes por causa de razões sem importância no que mais importa na vida.

Leia também...

“As prioridades são o combate à desertificação e ao isolamento das pessoas mais idosas”

Miguel Tomás, de 42 anos de idade, está à frente dos destinos…

“Todo o teatro é de amadores, porque é uma coisa que se faz por amor”

Frederico Corado é o novo encenador e director artístico do Grupo de…

“Aprender a não desistir é uma grande virtude”

Débora D’Oliveira, é um cantora natural de Almeirim que sonha tornar-se numa…

“Queremos deixar um legado saudável para quem vier a seguir”

A Associação Académica de Santarém comemorou 91 anos de existência no passado…