A coreógrafa e bailarina Joana Castro vai fazer a antestreia da sua nova criação, “Rite of Decay”, no dia 25 de Janeiro, no Centro Cultural do Cartaxo.

Projecto a solo, “Rite of Decay” (“Rito da Decadência”, em tradução livre) é uma peça “sobre a morte, ou várias mortes”, disse Joana Castro à Lusa, uma peça de “manifesto e de luto”, condição em que a criadora diz encontrar-se enquanto artista, “perante a negligência pela criação”, em Portugal.

A obra tem colaboração da artista sonora Diana Combo, que vai interpretar música ao vivo, num espectáculo com “um único corpo em palco”.

O projecto começou a ser pensado há dois anos, na sequência do solo “Submarino”, que a artista criou entre 2016 e 2017, em torno de questões como “a identidade, o território e o poder num contexto de territorialização do doloso, uma peça muito escura”, com “muito pouca luz”, durante a qual se foi apercebendo de que o “lado mais obscuro de morte, destruição e ideias de rituais de fim foram pontuando” o seu trajecto desde que começou a criar os seus próprios projectos, em 2006 e 2007, disse.

“’Rite of Decay’ é uma peça sobre a morte, ou várias mortes. Interessa-me pensar sobre um corpo que vai habitando outras danças, outros corpos, assombrações, vá, e memórias da própria história da dança, uma brincadeira que faço até com o título, que é quase uma espécie de ‘Rite of Spring’ do agora, ‘Sagração da Primavera’ do hoje”, salientou.

“É uma ‘peça-luto’, o lugar onde eu acho que me encontro enquanto pessoa, enquanto artista, e acho que é o lugar onde a dança também deve estar neste momento, não só a dança, mas a arte e a cultura no geral, nestes momentos conturbados que vivemos em Portugal, em que a arte e a cultura passam momentos um bocado complicados”, acrescentou.

Para Joana Castro, “há uma precariedade imensa, uma negligência pela criação artística em Portugal”.

Referindo a “luta constante” que tem vindo a travar, no esforço de criar as suas peças no seu “próprio tempo”, dentro das suas “necessidades e urgências, e não refém de um produto acabado e pronto a ser consumido”, Joana Castro apontou o questionamento que coloca no seu “micromundo”, mas também na “macro escala” da sua relação com os outros e da sua visão do mundo.

“Há uma necessidade qualquer de reflectir, de reconfigurar até, talvez pensar, perceber quais as nossas premissas”, porque “é importante continuarmos a perceber o que andamos aqui a fazer enquanto seres humanos, artistas. Acho que estamos completamente às escuras neste momento”, disse.

A sua nova criação acaba por ser “esse lugar de manifesto e de luto, pensando a morte enquanto reestruturação, enquanto reformulação de existências”.

O convite para a edição deste ano do GUIdance, Festival Internacional de Dança Contemporânea, que decorre de 06 a 16 de Fevereiro, em Guimarães, com o “papel da mulher no centro da criação e das atenções”, fez “todo o sentido”, tendo em conta o seu percurso e a sua posição claramente feminista.

Para Joana Castro, a participação de Marie Chouinard, com “Rite of Spring” (15 de Fevereiro, no Centro Cultural Vila Flor), foi uma “coincidência bastante interessante”, se bem que Rui Torrinha (director artístico do festival) “tinha isto tudo muito bem pensado”.

O projecto tem o apoio da associação Materiais Diversos, pelo que estará em residência artística de 21 a 29 deste mês no Centro Cultural do Cartaxo, onde acontecerá, no dia 25, a antestreia, com entrada gratuita, e, no dia 28, uma oficina com alunos de dança.

Depois da participação no GUIdance, “Rite of Decay” estará na Rua das Gaivotas 6, em Lisboa, de 28 a 30 de Maio.

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