Não há palavras de consolação que bastem para a Dor e para o Luto dos que, na terra portuguesa, acabam de sofrer tão brutal repelão do Destino.
Uma semana passou. Sete dias decorreram sobre a trágica noite em que os arredores da capital e parte do Ribatejo sofreram a confrangedora catástrofe! Perto de quinhentas vidas, tantas delas em flor, no desabrochar da inocência, foram arrebatadas pela tormentosa crueldade do flagelo! E mesmo que o tempo volvesse não se pode dizer que se atenuasse a dolorosa crueza do drama provocado por tão negro cataclismo.
Não se dissipou o negrume em que se afundaram tantas almas! Não se desfez a maré-cheia de amargura que ainda sufoca tantos corações!
Persiste em toda a crudelíssima rudeza a Dor que a Desgraça trouxe, não apenas aos lares que a fatalidade vitimou, mas a quantos sentem, de perto ou de longe, as inapagáveis marcas desta tragédia que enlutou centenas de famílias, que vitimou aldeias e lugares, desfazendo casas, danificando propriedades, quanto foi levado na torrente assassina, nas enxurradas mortíferas, essas tantas e tantas vidas, tantos e tantos haveres!
Valha-nos a bondade de coração da nossa gente que os socorros materiais e espirituais não escassearam, suscitando uma onda de solidariedade, de amor pelo próximo, que não ficou em palavras, que pronta e abnegadamente se traduziu em gestos heroicos, em actos de sacrifício, tanto dos “soldados da Paz” sempre prontos a dar “vida por vida” onde quer que estejam o perigo, como das Forças Armadas, cuja prontidão e destemor se fizeram logo sentir onde o risco era maior; e também da massa anónima do Povo, desse povo que tão esforçadamente acudiu aos locais da tragédia, tornando mais eficientes ainda os auxílios daquelas corporações e concorrendo com a carinhosa bondade do seu humaníssimo coração para ajudar a cicatrizar as feridas do corpo e da alma.
É essa dedicadíssima feição da gente portuguesa que importa salientar, nesta hora crucial que a todos nos solidariza com o sofrimento, fazendo que a desgraça e o desconforto, a miséria e os prejuízos tenham o possível lenitivo, aquela reparação material e a consolação moral que o espírito cristão nos impõe.
In: Correio do Ribatejo de 2 de Dezembro de 1967
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