Na ressaca do Ultimatum inglês de 11 de Janeiro de 1890 que desejava um Império Britânico do Cairo (hoje Egipto) ao Cabo (hoje África do Sul) em choque com as pretensões portuguesas de um «mapa cor-de-rosa» – uma África Meridional do Atlântico ao Índico – Portugal em 1891 tinha um Governo chefiado por Serpa Pimentel perante uma opinião pública descontente com a atitude da Inglaterra.
A nova Lei de Imprensa surge em Março de 1890 para fazer face aos ataques cerrados levados a cabo pela Imprensa de Portugal perante a passividade das Instituições em relação ao comportamento de Inglaterra. Julgo que é neste contexto de afirmação patriótica que nasce o Correio da Estremadura, antepassado do Correio do Ribatejo de hoje, o mesmo é dizer aqui e agora. Tudo tem um enquadramento, um contexto. De facto desde 1880, com as Comemorações do tricentenário da morte de Camões que a temática patriótica se vinha acentuando na produção literária e artística. A Portuguesa de Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça não aparece por acaso. Torna-se popular e acaba por ser proclamado Hino Nacional em 1911 pela Assembleia Constituinte.
O futuro possível depende do presente porque só o passado existe. Nunca ninguém viveu no futuro e veio cá contar como é. Na minha opinião o Correio do Ribatejo viveu até hoje de um secreto contracto entre os jornalistas e os leitores. Secreto porque não está reduzido a escrito apesar de existir um Estatuto Editorial.
O facto de ser um dos mais jovens participantes nesta aventura semanal que é colocar um jornal a navegar na tempestade destes tempos complicados não me inibe de ter uma opinião. Tempos em que uma estação de TV coloca no ar imagens de 2011 como se fossem de 2020 mostrando distúrbios em Londres a propósito de uma onda de incêndios em estabelecimentos comerciais. Claro que isto não tem nada a ver com jornalismo. Jornalismo é outra coisa: como dizia o jornalista e poeta Eduardo Guerra Carneiro é «contar aos outros as suas próprias histórias mesmo sem eles darem por isso». Porque como queria Jacinto Baptista «o jornalista é o historiador do quotidiano».
José do Carmo Francisco