Tejo transborda na alma dos Ribatejanos
Estradas cortadas, terrenos alagados e duas casas que ruíram em Santarém, são o resultado visível das chuvadas que ocorreram na região na semana do Natal e Ano Novo.
Com a situação das populações afectadas pela subida do caudal do Rio Tejo na agenda, o Secretário de Estado da Administração Interna, Armando Vara reuniu no passado dia 29 de Dezembro com o Governador Civil de Santarém, Silvino Sequeira, os presidentes de 16 Camaras do Distrito, representantes da hidráulica, Direcção Geral do Ambiente e Recursos Naturais, Telecom, JAE, Direcção Regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste, Centros Operacionais, PSP, GNR e Bombeiros.
Todos à mesma mesa, por iniciativa do Governador Civil “para ensaiar todas as capacidades de resposta, no caso da Protecção Civil ser chamada a intervir”.
Armando Vara foi informado do ponto da situação das cheias no distrito e anotou um conjunto de medidas consideradas urgentes para que os programas de emergência funcionem.
O Governador Civil confirmou ao “Correio do Ribatejo” que “neste momento se houvesse uma situação de ruptura, ou calamidade, sectores há que não tinham capacidade de resposta”. Silvino Sequeira adiantou ainda que as cadeias hierárquicas “são extremamente sinuosas” e que Armando Vara não deixou de referir o exemplo de Águeda em que alguns sectores de emergência “não estiveram á altura de responder às necessidades das Populações”.
Este encontro do dia 29 foi inédito já que teve lugar “antes da desgraça acontecer”, acrescentou o Governador Civil.
Ao fim da manhã do dia 30, o Subintendente Pombo Mendes da Protecção Civil confirmava o isolamento da povoação do Reguengo do Alviela, habitual sempre que há cheia e até nos invernos “menos rigorosos”. Às doze horas do mesmo dia estava também confirmado o isolamento do povoado do ribeirinho das Caneiras.
Apesar disso, a mesma entidade assegurava que “a água não deverá passar o descarregador do dique das Ómnias”.
As estravas que estiveram cortadas foram as habituais em situações semelhantes: as que ligam Vale de Figueira ao Pombalinho, toda a zona de Palhais, na Ribeira de Santarém, e a estrada que liga a Ribeira a Alcanhões, nas Assacaias.
A Camara de Santarém tinha um programa de emergência a funcionar que previa a mudança das populações afectadas para o Salão da Casa do Campino, bem como asseguraria, juntamente com a Misericórdia as refeições dos desalojados pelas cheias.
In: Correio do Ribatejo de 5 de Janeiro de 1996
“A População de Portugal em 1798. O Censo de Pina Manique”
Um livro do Prof. Dr. Veríssimo Serrão.
Editado pelo Centro Cultural Português da Fundação Calouste Gulbenkian, na Colecção “Fontes Documentais Portuguesas”; acaba de ser dado À estampa este magnifico trabalho, de tão grande interesse, com o qual se dá inicio a uma série subordinada àquela epígrafe, tendo por objectivo aprofundar mais vastos domínios da cultura portuguesa.
Valorizado por uma erudita e aprofundada dissertação do Prof. Dr. Veríssimo Serrão – que na direcção daquele Centro Cultural tão prestigiosamente vem realizando uma obra de divulgação cultural digna do maior apreço – o presente trabalho constitui uma base de estudo cujo valor é de encarecer.
Com chave d’ouro abre, portanto, a Colecção, a qual não pode deixar de ser considerada como um instrumento de trabalho, autêntico meio de valorização documental ao serviço dos cultores da História.
A introdução com que a publicação é enriquecida, a qual, como dissemos, é da autoria do Prof. Veríssimo Serrão, é mais um valioso trabalho com a marca da sua capacidade de investigação.
Nas suas três dezenas de páginas abre-se, luminosamente, o campo dos especialistas da demografia histórica, para extraírem as conclusões que suscita, uma vez que o censo de 1798, para além da finalidade imediata, tem o mais alto valor na medida em que dá a conhecer a população por comarcas, cidades, vilas, freguesias e fogos.
De felicitar é, portanto o nosso ilustre conterrâneo, por mais esta sua iniciativa cultural, que muito honra os seus comprovados méritos de investigador.
In: Correio do Ribatejo de 9 de Janeiro de 1971
1921
Há poucas horas que deslisaram na grande ampulheta do Tempo os derradeiros grãos de areia, marcando a passagem do ano de 1920; e, voltando á posição primitiva, o velho instrumento antecessor dos relógios, continuará a contar a sucessão dos anos futuros e dos seculos vindouros, na impassibilidade imutável das coisas eternas e fatais.
Outro ano virá, e outro e outros ainda, que sempre – aos olhos dos que assistem a estes actos sucessivos do grandioso drama da humanidade, parecerão piores do que os precedentes, pois é tendência do espírito do homem estabelecer comparações entre o passado co prejuízo do presente.
A saudade não é mais que uma aureola com que o nosso espírito santifica a lembrança das coisas que não voltam – e por isso as adorámos.
Mas o ano de 1920 não pode deixar-nos saudosos do seu perpassar e nem já é cedo para fazer o registo dos flagelos que dos legou.
No tocante á Politica – agravaram-se os desmandos e a anarquia governativa, por falta de orientação, parecendo conduzir-nos para o esfacelo e para o descredito diante do mundo culto. No que se refere á Vida Económica ela tem uma progressão desoladora, agravando-se o custo da vida que poe em situação angustiosa as classes menos favorecidas.
A Historia inscreverá estes dois acontecimentos que representam uma enorme fatalidade; E no decurso dos lustros, se o Destino nos não reservar maior desdita, eles avultarão como dois capítulos de tristeza, ensombrando os episódios gloriosos que esmaltam esse registrador de toda a actividade nacional.
Limite-se por agora o nosso empenho a desejar, que o Ano Novo tenha transporto, para chegar até nós, regiões onde sopre permanente o borcas do Bom senso e que as partículas dessa atmosfera salutar, atingindo governantes mais que aos governados, contribuam para aumento da nossa prosperidade intima e a do nosso prestigio alem das fronteiras.
Que as forças vivas da nação e os seus elementos de riqueza – a agricultura em logar primacial – encontrem uma sábia aplicação das leis a protecção a que teem direito, afim de poderem prosperar e desenvolver-se.
E, finalmente, que duma nítida compreensão dos nossos deveres cívicos e políticos resulte a congregação de todos os esforços para um ideal supremo – o bem da terra portuguesa.
Por nossa banda, aproveitamos o ensejo, neste primeiro dia do ano de 1921, para mais uma ves agradecer a todos os nossos obsequiosos colaboradores, assinantes e anunciantes, o favor dispensado ao Correio da Extremadura, diligenciando todo o possível para continuar a merecer esse favor que tanto nos alenta a prosseguir na nossa insistente propaganda em favor dos interesses regionais.
Que o ano de 1921 seja para todos manancial de venturas e fonte perene de felicidades que possam, se não dissipar, ao menos aliviar as tristezas que nos legou o – Ano findo.
In: Correio da Extremadura de 1 de Janeiro de 1921
Os textos são publicados tal como foram originalmente.