O Município de Santarém prestou hoje homenagem ao Capitão Salgueiro no Jardim dos Cravos, em Santarém, numa cerimónia que contou com intervenções de Ricardo Gonçalves, presidente da Câmara de Santarém, Joaquim Neto, presidente da Assembleia Municipal de Santarém, Coronel Correia Bernardo da Associação 25 de Abril, João Luiz Madeira Lopes, presidente das Comemorações Populares do 25 de Abril – Associação Cultural, Coronel João Andrade Silva da Associação Salgueiro Maia  e Catarina Maia, filha de Salgueiro Maia, que iniciou, em nome da família do ‘Capitão de Abril’, as intervenções lendo uma carta a seu pai que reproduzimos na íntegra no final do texto.

Ricardo Gonçalves, presidente da Câmara de Santarém, na sua intervenção, sublinhou a celebração de “um momento de transformação que moldou o curso do nosso país”.

“Há 50 anos, o povo português protagonizou uma das mais notáveis revoluções do século XX”, considerando que, antes, Portugal estava sob o jugo de uma ditadura que reprimia severamente as liberdades individuais, limitava os direitos políticos e económicos dos indivíduos e perpetuava desigualdades sociais profundas”, afirmou.

Segundo o presidente da Câmara de santarém, Salgueiro Maia, um jovem capitão de quase 30 anos, “personificou o espírito de determinação e coragem que caracterizou a Revolução dos Cravos”.

Comemorar os 50 Anos do 25 de Abril em Santarém era, para o autarca, “um dever histórico que não podia ser esquecido. Um dever histórico que era de todos, não do partido A ou B, ou do indivíduo C ou D”.

Para Ricardo Gonçalves as comemorações têm sido “um momento de reflexão, de partilha e de celebração da nossa identidade colectiva,” tendo agradecido a todos os

envolvidos na concretização destas “grandiosas comemorações” que se tornaram “num evento histórico da nossa cidade e do nosso concelho”.

“Em Santarém, reafirmamos o nosso compromisso com os valores da democracia, da tolerância e da inclusão”, acrescentou.

“A liberdade conquistada há meio século não pode ser tomada como garantida. Devemos permanecer vigilantes e activos na defesa dos direitos fundamentais e na promoção da igualdade e da justiça para todos”, sublinhou o presidente do Município de Santarém.

“Que esta celebração dos 50 anos do 25 de Abril nos inspire a continuar a lutar pelos ideais de liberdade e justiça, para que possamos honrar o legado dos nossos antepassados”, concluiu.

Para Joaquim Neto, presidente da Assembleia Municipal de Santarém, hoje celebra-se uma data que representa muito mais do que o derrube de um regime autoritário, “é o símbolo da luta pela democracia, pela liberdade e pelo poder local”.

“Há meio século, suportado no movimento criado pelos Capitães de Abril, o povo português ergueu-se contra a opressão e a tirania, reivindicando o direito inalienável à autodeterminação e à participação no destino da nação. Foi um acto corajoso que desafiou as correntes do autoritarismo e abriu as portas para um novo capítulo na nossa história: o capítulo da democracia”, frisou.

Joaquim Neto lembrou os “corajosos capitães de Abril” que lideraram este movimento de libertação, cruciais para o sucesso da revolução.

“Salgueiro Maia personifica o espírito indomável do 25 de Abril, liderando as tropas que ocuparam Lisboa e garantindo uma transição pacífica para a democracia.”, referiu.

Segundo Joaquim Neto, os objectivos do 25 de Abril de descolonizar, democratizar e desenvolver foram essenciais para a metamorfose de Portugal ao longo das últimas décadas. A descolonização permitiu ao país libertar-se de um passado colonial opressivo, promovendo a autodeterminação e a igualdade entre povos. A democratização trouxe consigo uma abertura política e social, fortalecendo as instituições democráticas e garantindo direitos e liberdades fundamentais aos cidadãos. Por fim, o desenvolvimento económico e social impulsionou Portugal para uma nova era de progresso e prosperidade”, afirmou.

“Graças ao 25 de Abril, desfrutamos de liberdades que antes eram impensáveis: liberdade de expressão, liberdade de imprensa, liberdade de associação e, mais importante, liberdade de cada um ser o que quer ser. Estas liberdades são o nosso maior tesouro e devemos protegê-las com determinação, para que nunca mais sejam ameaçadas”, admitiu, deixando clara a mensagem de que “sob o pretexto de crises sociais e políticas, não são admissíveis retrocessos nas conquistas alcançadas”

“É imperativo resistir a qualquer tentativa de minar os direitos das mulheres e das minorias, bem como os princípios democráticos que tanto lutamos para alcançar.  Devemos permanecer unidos na defesa dos valores que Abril nos legou, rejeitando qualquer retrocesso que ameace a nossa liberdade, igualdade e dignidade como cidadãos”, concluiu o presidente da Assembleia Municipal de Santarém.

Também presente na cerimónia, o Coronel Joaquim Correia Bernardo, representante da Associação 25 de Abril, considerou a data, “uma libertação que abriu as portas à Democracia para que os portugueses pudessem exercer os mais elementares direitos de cidadania de que estávamos privados”. Contudo, lembrou: “Hoje vivemos tempos de incerteza e de enorme preocupação no que respeita aos valores da liberdade, democracia, paz, justiça e igualdade. Os valores de Abril estão ameaçados, não só em Portugal, mas também em muitas outras regiões do mundo”, considerou.

“Não abdicaremos da liberdade, essencial para prosseguirmos a sociedade democrática que almejamos e que queremos mais democrática, mais justa e solidária”, concluiu Correia Bernardo.

Por sua vez, João Luiz Madeira Lopes, representante das Comemorações Populares do 25 de Abril – Associação Cultural, constatou que de Norte a Sul o País celebra com grande entusiasmo e consciência cívica o 25 de Abril.

“Defender as conquistas de Abril, significa defender a Liberdade e a Democracia”, disse.

Madeira Lopes recordou os anos da resistência ao regime fascista e a restrição das liberdades e dos direitos fundamentais dos cidadãos, contrapondo-os com a liberdade que Abril nos trouxe.

“Acredito no progressivo empenho dos jovens na luta pelos valores de Abril, com a imprescindível ajuda dos pais e professores e das indispensáveis sessões de esclarecimento em que todos nos devemos empenhar, como a Associação Cultural Comemorações Populares do 25 de Abril tem vindo a desenvolver junto das escolas”, informou.

“Os erros graves dos últimos governos, agravando a situação da maioria da população a nível de salários, dificultando a habitação a preço justo, melhoria do serviço público da saúde e integrando elementos corruptos e alvo de condutas criminais tem desvalorizado a dignidade do exercício de cargos políticos, ocupados, maioritariamente, por carreiristas vaidosos e actos de enriquecimento fácil, permitindo campanhas reaccionárias e demagógicas, colhendo frutos eleitorais no voto de cidadãos desprevenidos e mal informados”, criticou.

Para o representante da Associação Salgueiro Maia, Coronel João Andrade Silva, “há 50 anos os militares levantaram o país”, visando acabar com a guerra e com o fascismo.

Hoje, “a liberdade é para construir e é para todos. É para construir no dia-a-dia”, sublinhou.

João Andrade Silva tem vindo a contactar crianças em dezenas de escolas e disse “encantado” como têm celebrado os 50 anos do 25 de Abril de 1974.

“Os sonhos são muito longos, não está tudo feito. Passados estes anos todos a mensagem é para os jovens que daqui a 50 anos digam valeu a pena. Se tiverem essa coragem venceram a vida, são vitoriosos”, enfatizou.

A concluir não esqueceu os militares: “Só é ‘Capitão de Abril’ aquele que todos os dias constrói o 25 de Abril,” rematou.

Carta de Catarina Maia, filha de Salgueiro Maia, a seu Pai:

“Meu Rei,

Hoje escrevo-te em voz alta! Hoje escrevo-te da terra que te acolheu e de onde saíste há 50 anos para fazer história!

Pois é, Paizinho, 50 anos! 50 anos de liberdade, de progresso, de lutas, de falhas e de conquistas!

Hoje, na tua estátua, celebramos esses 50 anos com orgulho!

Orgulho do que tu e os teus companheiros e amigos conseguiram.

Orgulho de não se deixarem acomodar!

Orgulho de terem permitido que o nosso País voltasse a entrar no mapa do Mundo!

Sabes Meu Rei, tenho o maior Orgulho em ti! Tenho o maior orgulho de poder celebrar a liberdade e saber que fizeste parte dela! Tenho o maior orgulho de ser tua filha!

Saber que saíste naquela madrugada rumo ao incerto, mas com a certeza que não poderias continuar a ver “o Estado a que isto chegou”!

Hoje, 50 anos depois, ainda falta cumprir tanto! 50 anos depois, ainda falta lutar tanto! Mas acredito, meu Pai, que a semente que vocês lançaram naquele dia, dará frutos eternamente! Haverá sempre alguém que resiste!!

E, como escreveu Ary dos Santos

“Nunca mais nos curvaremos

Às armas da repressão

Somos a força que temos

A pulsar no coração

Enquanto nos mantivermos

Todos juntos, lado a lado

Somos a glória de sermos

Portugal ressuscitado”

Obrigada, meu Rei!

Com amor,

Catarina Mau-Feitio”.

No final da cerimónia foram muitos os que quiseram depositar flores junto à estátua do Capitão de Abril, que em 1974 saiu de Santarém em direcção a Lisboa para derrubar o regime.

Foi há 50 anos.

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