Lidar com certezas absolutas afigura-se sempre muito mais cómodo do que ter dúvidas ou enfrentar indefinições.
Se constantemente tivermos dúvidas sobre os mais variados assuntos, isso poderá ser encarado como sintoma de fraqueza e insegurança.
A pessoa cética corre riscos de ser vista como “insípida, incolor e inodora”.
No entanto, a abertura de espírito também pode e deve ser encarada como sintoma de inteligência num mundo instável, labiríntico e caleidoscópico, infestado de informações e afirmações demasiado definitivas.
Como Yuval Harari, em “21 Lições para o Século 21”, posso afirmar que, “quando estou próximo de tomar decisões importantes da vida, confio mais naqueles que admitem ignorância do que naqueles que alegam infalibilidade”.
Claro que não vamos ter de desconfiar de tudo. Apenas temos de nos rodear de alguns cuidados para não acreditar a priori nos valores ou desvalores que nos tentam – consciente ou inconscientemente – incutir, algures na torrente de dados e juízos que todos os dias penetram na nossa esfera individual e coletiva.
Atualmente, decorre um período de aguerrida campanha eleitoral autárquica.
Só tenho de elogiar todos aqueles que, de um modo mais ou menos altruístico, optam por se esforçar um pouco mais pelo bem comum, abraçando projetos em que acreditam.
Sou daqueles que creem que a política é uma atividade nobre e indispensável num sistema político ocidental.
E, como disse um dia Winston Churchill, “a democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros.”
Há, porém, algo que me repugna profundamente: a rejeição, pura e simples, das ideias, só porque tiveram origem noutra fação político-partidária, que não a “nossa”.
Não acredito que todos os programas e projetos oriundos duma determinada fação ou “tribo” ideológica sejam necessariamente maus, só porque não provêm do nosso “clube político”, como se existisse uma espécie de carimbo identitário bloqueador nas testas eivadas de irracionais e preconceituosos sentidos de pertença.
Isto, sobretudo nas autarquias locais, em que os objetivos são as mais das vezes consensuais, variando apenas as receitas gestionárias para melhor os alcançarmos.
Haja, pois, uma salutar troca de ideias e de projetos e tenhamos a esperança de colocar na condução dos destinos municipais uma equipa que dê garantias da tal abertura de espírito, condição sine qua non para o surgimento das boas ideias para Santarém e da inovação.
Daí todos acreditarmos que nas autárquicas votamos mais nas pessoas, do que nos partidos.
Sobretudo, vamos votar!
Inato ou Adquirido – Pedro Carvalho