Mónica Frazão


Ainda faz sentido celebrar o Dia da Mulher?

O Dia Internacional da Mulher celebra-se a 8 de Março, desde 1977, proclamado pelas Nações Unidas. Foi implementado no sentido de dar visibilidade às lutas feministas por melhores condições de vida e trabalho, e pelo direito ao voto. Parece algo distante, mas, na verdade, é bastante recente. Em Portugal, as mulheres só viram o direito ao sufrágio reconhecido no dia 2 de Abril de 1976. Ou seja, há menos de 43 anos. De lá para cá, a evolução da sociedade esperava-se acelerada. Mas será que evoluiu assim tanto? Numa época em que os direitos de igualdade entre géneros estão, mais do que nunca, na ordem do dia, ainda faz sentido assinalar e celebrar o Dia da Mulher? Colocámos a pergunta a quatro mulheres – de várias áreas de intervenção e faixas etárias – para percebermos a resposta.


Mónica Frazão, 21 anos, nasceu para a política aos 15 anos. Fez parte da Comissão Nacional da Juventude Socialista (JS) e, desde Novembro, está à frente da JS de Santarém. Natural de Amiais de Baixo, Mónica Frazão actualmente está a tirar a licenciatura em Geografia na Universidade de Lisboa.

O que a levou a aproximar-se da política?
Eu acho que comecei a despertar mais para a política numa altura complicada da vida do país. A minha família sempre esteve muito ligada à política e, principalmente, ao PS. Quando tinha 15 anos, estávamos numa altura em que tínhamos o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a ‘troika’ instalados em Portugal e estávamos a ser governados pelo PSD. Se calhar, a ideologia também vem um pouco da educação que tive. De querer lutar por uma sociedade mais justa.

Porquê especificamente a Juventude Socialista?
Eu considero-me uma pessoa de centro, mais de centro esquerda: muitas das ideologias da JS são muito equiparadas ao BE, embora com diferenças óbvias. Para mim, tendo em conta o que referi, não faria sentido pertencer a um partido que não fosse este.
Actualmente como avalia o interesse dos jovens pela política?
É uma situação muito complicada. Nós, na JS, fazemos o que podemos para cativar mais jovens, mas as pessoas da minha idade cresceram a ouvir dizer que a política não serve para nada e que os políticos são todos iguais… E existe uma grande dificuldade em cativá-los para o lado positivo daquilo que pode ser a política. Em casa, ensinaram-me que a política serve para nós fazermos o melhor que conseguirmos. Quem faz política deve servir, o melhor que pode, a sociedade em que está inserido. Infelizmente, nem todos olham para a política dessa forma.

Tem ambições políticas para o futuro?
Fiz parte da Comissão Nacional da JS. Desde Novembro, estou à frente da JS de Santarém. Acho que esta confiança que depositam em mim, terá a ver com alguma capacidade que me é reconhecida, mas nunca no intuito de vir a exercer algum cargo. Não é esse o objectivo, de todo.

Quais os objectivos e quais os pontos que a JS vai trabalhar ao longo do seu mandato?
Tínhamos uma luta há muitos anos, que era a despenalização da eutanásia, que foi recentemente aprovada. Aqui, em Santarém, o trabalho vai incidir mais numa óptica de trazer os temas – talvez um pouco fracturantes – da nossa sociedade. Gostaríamos de organizar um debate sobre orgulho LGBT, queremos falar sobre a tauromaquia, porque existem as duas vertentes muito acentuadas, pessoas completamente a favor ou contra, mesmo dentro do nosso partido. Vamos chamar a atenção, no mês de Março, para a importância da reflorestação e do ambiente, com uma iniciativa onde vamos plantar uma árvore por cada militante e vamos fazer um debate sobre a Europa com o ex-presidente da juventude socialista a nível europeu, João Duarte Albuquerque.

Qual é o papel das “Jotas” em termos de intervenção na sociedade?
Eu acho que as juventudes partidárias acabam por fazer uma ligação importante que é cativar os jovens para os incentivar para a vida política. Eu considero que as juventudes partidárias são uma ponte de transmissão de informação, uma forma de cativar as pessoas para que, depois, continuem ao longo da sua vida ligadas à política e a fazer intervenção cívica.
Eu não considero que o nosso trabalho seja incentivar as pessoas a fazerem carreira na política. Mas sim servir para terem uma voz mais activa, ou, pelo menos, para compreender o que se está a passar.
A minha geração sofre de um problema gravíssimo que é o de muitas vezes, quando se fala com um jovem com 21 ou 22 anos ele não vai saber explicar a diferença entre o CDS e o PC, por exemplo. Pura e simplesmente porque não há interesse, não quer saber…. Se mostrarmos que a participação na vida política pode ser interessante, acho que é muito positivo. E esse sim é o nosso papel.

Como avalia a actual configuração do nosso parlamento, com deputados mais à direita a ganharem um certo protagonismo?
Eu acho que é natural. Considerando a situação global neste momento, o perigo que as pessoas acham que podem correr. Os extremos nunca são o melhor ponto a seguir, mas acho que, num país como o nosso, é difícil esses partidos ganharem muita expressão ao ponto de poderem governar sozinhos.

Alguma vez sentiu que, por ser mulher, algumas oportunidades lhe estiveram vedadas?
No PS, não acredito que esse seja o problema, antes pelo contrário: existe a Lei da Paridade, que ‘obriga’ a que as mulheres façam parte da vida activa política, que estejam nas listas, mas isso nunca foi um problema no PS, porque as mulheres sempre fizeram parte.

Ainda faz sentido haver quotas?
A minha opinião sincera sobre isso é que eu não quero ser governada por uma mulher, ou por um homem, que não saiba o que está a fazer. Acredito que, em alguns sectores, ou partidos, ainda possa fazer sentido, para podermos ter representação feminina. Agora, no meu partido, não acredito que seja necessária.

Hoje em dia, ainda se sentem desigualdades entre homens e mulheres?
Claro que sim. Há mulheres a tirar a mesma licenciatura que um homem que, quando começam a trabalhar recebem 85% do ordenado que o colega vai ganhar, executando as mesmas funções.

Que estratégias se podiam adoptar colectivamente para que isso não acontecesse?
Acho que teria de ser ao nível da legislação: já percebemos que, com tantos anos de história, não vamos lá de outra forma. Já são muitos anos de luta.

Ainda faz sentido celebrar o Dia da Mulher?
Penso que sim. Da mesma forma como, por exemplo, assinalamos o 25 de Abril, que é um marco da nossa história, temos que lembrar as mulheres que sofreram e deram tudo o que podiam, para que hoje as mulheres possam votar, ter uma voz activa na sociedade, dizer o que pensam. É um dia histórico. Mesmo quando a igualdade plena for uma realidade, o dia deve continuar a ser celebrado.

Que personalidade admira e merece um lugar de relevo na história na luta pela emancipação da mulher?
Frida Kahlo. É uma das artistas e mulheres mais fortes que tivemos a nível mundial na luta pelos direitos das mulheres.

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