A Diocese de Santarém, criada em 16 de Julho de 1975 pelo Papa Paulo VI, através da bula Apostolicae Sedis Consuetudinem, completa 50 anos de existência, representando um marco significativo na história eclesiástica portuguesa e na vida das comunidades que serve.

Ao longo destas cinco décadas, a Diocese tem sido um farol de espiritualidade e um porto seguro para milhares de fiéis, adaptando-se às transformações sociais e culturais sem perder a sua essência e missão. Como refere o actual Bispo, D. José Augusto Traquina Maria, “são 50 anos de experiência de vida em comunidade que têm em comum um espírito de comunhão, de proximidade e necessidade que levou à criação da própria diocese”.

Esta celebração do cinquentenário coincide com o Ano Jubilar da Igreja Católica, conferindo-lhe um significado ainda mais profundo. É um momento não apenas para olhar para o passado com gratidão, mas também para projectar o futuro com esperança e renovado compromisso com os valores cristãos e o serviço à comunidade ribatejana.

Das Origens à Actualidade: Uma História de Fé e Serviço

A criação da Diocese de Santarém resultou de um processo de reorganização eclesiástica que reconheceu a necessidade de uma presença mais próxima da Igreja nas diferentes regiões de Portugal. Como explica D. José Traquina, “a criação da diocese de Santarém, em 1975, acontece depois de um processo de anos em que se concluiu que, de facto, o tamanho do Patriarcado de Lisboa era de tal maneira grande que havia regiões do Patriarcado que justificavam pensar a criação de dioceses”.

Antes de se tornar diocese, o território correspondia à Região Pastoral de Santarém, instituída em 29 de Maio de 1966, dentro do Patriarcado de Lisboa. A sua elevação a diocese ocorreu simultaneamente à criação da Diocese de Setúbal, estabelecendo uma ligação especial entre as duas instituições. “A Diocese de Setúbal e a Diocese de Santarém nasceram no mesmo dia, 16 de Julho de 1975, com o mesmo Papa, o Papa Paulo VI. E, portanto, consideramo-nos como dioceses gémeas, porque nasceram no mesmo dia”, refere o actual Bispo.

No dia da sua criação, o Papa Paulo VI nomeou D. António Francisco Marques como o primeiro bispo da diocese, que governou até à sua morte, em 28 de Agosto de 1997. O seu corpo encontra-se sepultado num altar lateral da catedral, a Igreja do Seminário, dedicada à Imaculada Conceição, que foi escolhida como catedral pela bula de criação.

O início da diocese foi marcado por grandes desafios, como recorda D. José Traquina: “É claro que o primeiro bispo teve um papel, uma missão exigente, no sentido de implementar, digamos, uma diocese, a começar de muito pouco, a não ser o que existia, que era um edifício e eram as paróquias que tinha, mas do ponto de vista do funcionamento, não havia experiência, portanto, o que é o funcionamento de uma chancelaria, de uma secretaria diocesana, de um vigário geral, de um vigário episcopal para acompanhar as paróquias, enfim, tudo isso foi um desafio muito grande do primeiro bispo, além de não ter dinheiro também”.

Apesar das dificuldades iniciais, D. António Francisco Marques conseguiu estabelecer as bases sólidas para o funcionamento da diocese, marcando-a com um estilo próprio que perdura até hoje. “D. António Francisco Marques esteve muito bem nesse início, foi muito marcante e marcou a diocese até o momento, porque marcou um estilo, uma maneira de estar. E qual é que é o estilo? É o estilo da proximidade”, sublinha D. José Traquina.

Esta proximidade manifestava-se na atenção dedicada às pessoas e às comunidades, bem como no acompanhamento dos padres, “que ele fazia com muita eficiência, com muito cuidado, com muita proximidade, com muita fraternidade”.

Uma das iniciativas mais inovadoras do primeiro bispo foi o envolvimento das religiosas na vida pastoral da diocese. 

Esta solução criativa permitiu superar a escassez de padres em algumas paróquias: “Teve irmãs responsáveis em paróquias onde ele não tinha padre. Não tinha padre na paróquia, mas tinha lá uma comunidade de religiosas a trabalhar”.

Após o falecimento de D. António Francisco Marques, a diocese foi liderada por D. Manuel Pelino Domingues, que trouxe novas contribuições para o desenvolvimento da vida diocesana. “D. Manuel Pelino foi muito organizado em termos de propostas de formação e de espiritualidade. Escreveu várias obras em termos de cartas pastorais com profundidade teológica, também do ponto de vista da pedagogia, da espiritualidade, com várias iniciativas de uma vida orante em grupos de oração que foram constituídos na diocese, e também a constituição e a animação das próprias vigararias, que ele valorizou muito e que estamos a retomar e a reflectir neste momento também sobre essa realidade que são as unidades de paróquias”, explica D. José Traquina.

Actualmente, a diocese é liderada por D. José Augusto Traquina Maria, que assumiu o cargo num período particularmente desafiante, marcado pela pandemia de COVID-19. “Na minha chegada foi apanhar, receber o trabalho feito, mas tive ali dois anos primeiros que foram muito a minha própria adaptação ao terreno, porque não tinha a experiência também… logo de seguida, a pandemia, que condicionou bastante toda a diocese e toda a sociedade, como sabemos, e prejudicou muito, prejudicou imenso, a própria vida das comunidades alterou-se substancialmente nessa altura”, recorda.

Território e Estrutura: Uma Presença Viva no Ribatejo

A Diocese de Santarém abrange um território de 3.202 km², incluindo 13 dos 21 municípios do distrito de Santarém: Alcanena (sem as paróquias de Minde e Serra de Santo António), Almeirim, Alpiarça, Cartaxo, Chamusca, Entroncamento, Golegã, Rio Maior, Salvaterra de Magos, Santarém, Tomar, Torres Novas e Vila Nova da Barquinha.

Esta área está organizada em 113 paróquias, distribuídas por 7 vigararias, fazendo parte da Província Eclesiástica de Lisboa. 

Em termos demográficos, segundo dados de 2022, a diocese conta com 225.600 católicos, representando 81,5% de uma população total de 276.700 habitantes. O clero inclui 50 padres (44 diocesanos e 6 religiosos), 16 diáconos permanentes, 8 religiosos masculinos e 113 religiosas.

Estes números reflectem uma tendência de ligeira diminuição na população católica e no número de clérigos nas últimas décadas. Em 1980, a diocese contava com 261.800 católicos (94,2% da população) e 84 padres, enquanto em 2022 esses números reduziram-se para 225.600 católicos (81,5% da população) e 50 padres.

Apesar desta redução, a Diocese mantém uma presença activa e significativa na região, adaptando-se às novas realidades sociais e demográficas. Como refere D. José Traquina, “claro que há muito trabalho que se repete e, portanto, um padre tem sempre as celebrações da Eucaristia na missa para celebrar, há baptismos, há casamentos, há funerais, há reuniões dos cristãos, há administração das paróquias. Mas isso que se repete é um programa habitual. Mas há inovações, há iniciativas. E essas iniciativas, na linha da catequese, da formação, da preparação de jovens, de crescimento, isso requer sempre uma iniciativa que pode partir da diocese, podem ser desenvolvidas ao nível do todo, da diocese, a nível de uma vigararia, a nível de uma paróquia, as coisas vão sendo pensadas e implementadas”.

A Catedral: Um Símbolo Renovado para o Cinquentenário

A catedral da Diocese de Santarém, a Igreja do Seminário dedicada à Imaculada Conceição, tem uma história rica, tendo sido adaptada ao longo dos séculos para diferentes funções devido a eventos históricos como as Invasões Francesas, a Revolta Liberal e a Implantação da República.

Uma das iniciativas mais significativas das celebrações do cinquentenário foi a instalação de um novo altar na catedral, um projecto que, segundo D. José Traquina, “vinha do início da própria diocese, ou seja, a Catedral nunca tinha tido um altar próprio. Aquilo que lá estava tinha sido uma adaptação”.

Esta renovação representou um desafio artístico e simbólico, como explica o Bispo: “Ao celebrarmos os 50 anos, considerou-se oportuno, ser um ano oportuno, para, então, arranjar um altar de propósito novo para a Catedral. Na altura foi muito comentado, os altares de uma catedral são muito comentados, mas, digamos, a opção não foi fazer um altar ao tempo da catedral, é um altar ao tempo de agora”.

As celebrações do cinquentenário da Diocese de Santarém representam um momento especial de reflexão e projecção para o futuro. Como refere D. José Traquina, “a proximidade e o desenvolvimento que fizeram até chegar ao cinquentenário é um momento de animação porque estamos a rever e a agradecer tudo o que foi feito”.

A coincidência do cinquentenário com o Ano Jubilar da Igreja Católica confere um significado especial a estas celebrações: “Assumindo o ano como um ano de agradecimento, portanto um ano de acção de graças, como queremos dizer, o cinquentenário ainda por cima calhando com o ano jubileu, o ano santo universal da Igreja, é uma oportunidade para agradecer, também para nos purificarmos e prepararmos para caminhar “.

Desafios e Perspectivas: A Formação como Prioridade

Ao reflectir sobre os desafios actuais e as prioridades para o futuro, D. José Traquina destaca a importância da formação: “Este é mesmo o ponto de reflexão mais elevado naquilo que se tem feito de reflexão nos últimos tempos, que é a necessidade da formação, que é o estar preparado”.

Esta ênfase na formação responde às transformações profundas na sociedade contemporânea: “Hoje a vida é diferente. As influências que chegam vêm de longe. Não se sabe qual é a origem. Somos influenciados por uma comunicação extensíssima e intensa. Muito intensa. Portanto, se queremos cristãos conscientes daquilo que é a missão do bem na sua terra, nós devemos ter formação”.

O Bispo sublinha a importância de valores fundamentais que devem ser transmitidos e vividos: “Conhecer quais são as propostas de uma vida digna, da respeitabilidade pelo nosso semelhante, pelos que são próximos. Isso tem que ser vivido e ensinado, testemunhado. Também critérios morais, éticos, o respeito pela vida humana, o respeito pelo próximo, o respeito também pelas autoridades”.

Um aspecto particularmente destacado é o que D. José Traquina chama de “sentido sagrado da pessoa humana”: “Há valores que nós não podemos prescindir a partir da nossa identidade cristã. E sentimos que esses valores são um bem para a sociedade”.

Ao completar 50 anos de existência, a Diocese de Santarém olha para o futuro com esperança e compromisso renovado com a sua missão. A mensagem de D. José Traquina aos fiéis da diocese reflecte esta visão: “O apelo que faço aos cristãos da Diocese de Santarém, e digo a todos, é que cuidemos daquilo que me parece que Deus quer de nós. E aquilo que Deus quer de nós é uma vida com coerência e com aquela qualidade de relacionamento com Deus e uns com os outros. Se nós tivermos este cuidado de um bom relacionamento com quem está ao nosso lado, ganhamos o dia e sentimo-nos bem”. 

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