Preservado ainda na memória da cidade como “Museu dos Cacos”, S. João de Alporão vai permanecer encerrado
Apesar de a Câmara de Santarém ter verbas comunitárias disponíveis (cerca de 800 mil euros) e projecto inscrito no Pacto para o Desenvolvimento e Coesão Territorial da CIMLT – Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo, continua a aguardar que a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) diga qual a intervenção que deve ser feita no Museu de São João de Alporão, encerrado ao público por razões de segurança desde Março de 2012.
“Se dependesse exclusivamente da minha vontade, o Museu era aberto”, declarou Ricardo Gonçalves na reunião do executivo de dia 20, respondendo a uma interpelação da bancada socialista sobre o alegado “subaproveitamento” do património monumental de Santarém.
“Os técnicos da DGPC têm realizado inúmeras vistorias e relatórios. O último sugere que, em vez de intervencionar a fachada, porque o problema da pedra não se consegue resolver, há que acautelar as infiltrações e consolidar a cobertura e realizar arranjos no interior”, esclareceu Ricardo Gonçalves.
Segundo disse, neste momento está a ser realizado um outro estudo, um “levantamento fotogamétrico do monumento”, que permitirá revelar o estado do edifício antes da intervenção e, a partir de aí, aferir a existência de fissuras e de outros problemas estruturais.
“Esta será mais uma peça a juntar ao processo”, disse Ricardo Gonçalves, esclarecendo: “os técnicos não encontram solução para a fragmentação das pedras e sugerem a colocação de redes de segurança para acautelar os desprendimentos”, afirmou.
O edifício, considerado o primeiro testemunho do gótico em Santarém e fechado desde 9 de Março de 2012, foi construído com pedra da região, calcária, muito favorável a fenómenos de descaimento, como os que se têm vindo a verificar desde há alguns anos.
Um estudo solicitado em 2004 ao Departamento de Engenharia, Minas e Georecursos do Instituto Superior Técnico revelou que a estrutura estava também a ser afectada por infiltrações a partir das fundações, pela constituição geológica da pedra usada na construção (bastante permeável e facilmente perecível perante a penetração de sais, que cristalizam) e pelos métodos construtivos e correctivos posteriores (como a utilização de argamassas, nomeadamente de cimento).
O edifício, embora de propriedade municipal, foi classificado como monumento nacional em 1910.
De acordo com a descrição existente no portal do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, “a igreja de São João de Alporão constitui um caso único na arquitectura medieval portuguesa”, sendo um “produto híbrido estilisticamente”, no qual “coexistem soluções filiadas em esquemas românicos e outras já nitidamente góticas, característica que confere a este templo um estatuto ímpar no panorama Arquitectónico de Santarém e até do país”.
A sua fundação deve-se à Ordem de São João do Hospital, cuja fixação na cidade se situa entre 1159 e 1185, acrescenta. Extintas as ordens religiosas, a igreja serviu de teatro até 1887, quando a Comissão Administrativa do Museu Distrital de Santarém iniciou obras de restauro com vista à sua adaptação a museu. Nessa altura, o edifício já não contava com a “pesada torre circular”, demolida em 1785 para permitir a passagem do coche real de D. Maria I.
Preservado ainda na memória da cidade como “Museu dos Cacos”, S. João de Alporão foi igualmente desprovido dos dois elefantes que guardavam a entrada, retirados para a reserva da autarquia dada a degradação de que vinham sendo alvo.
Intervenções e Restauros
Primeiro restauro do edifício entre 1877-1882, realizado pela Junta Geral do Distrito. Em 1932-36, foi levada a cabo uma segunda campanha de restauro, pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.
Ao longo dos anos 70/80 a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) efectuou pequenos restauros no edifício. E, em 1889 a Igreja de São João de Alporão abriu ao público como museu, após uma das primeiras obras de conservação e restauro realizadas em Portugal.
Em 1992 foi remodelado o espaço museológico e executaram-se, consequentemente, obras de restauro, pela Divisão dos Núcleos Históricos.
A desde 9 de Março de 2012, a autarquia tomou a decisão de encerrar preventivamente o espaço ao público por uma questão de segurança dos funcionários e dos visitantes depois de ter ruido um pedaço da cabeceira da igreja.