Paula Carloto de Castro assumiu, no passado dia 19 de Agosto de 2024, o cargo de directora do Centro Distrital da Segurança Social de Santarém, trazendo consigo uma visão pragmática e um compromisso firme com a eficiência dos serviços públicos. Com um percurso profissional diversificado, que inclui funções no sector privado e público, Paula Carloto acredita que é o momento certo para dedicar a sua experiência à melhoria da vida das pessoas, promovendo uma Segurança Social mais próxima, humana e orientada para resultados concretos.
Na entrevista concedida ao Correio do Ribatejo, Paula Carloto destacou que a sua motivação para aceitar este desafio reside na vontade de fazer a diferença na vida das pessoas. “Assinar um papel pode parecer um acto burocrático, mas muitas vezes representa um apoio crucial para alguém que precisa de um rendimento, de habitação ou de outro tipo de ajuda”, afirmou. Para si, o trabalho na Segurança Social vai além da gestão administrativa; é um compromisso com o impacto real que cada decisão pode ter no quotidiano de quem mais precisa.
Entre as prioridades para o futuro, Paula Carloto aponta a necessidade de modernizar processos, reduzir a burocracia e apostar na digitalização como formas de tornar os serviços mais eficientes e acessíveis. Contudo, sublinha que a inovação não se limita à tecnologia: “A verdadeira transformação passa por uma nova mentalidade, que valorize a proximidade com o cidadão e promova soluções criativas para problemas antigos”. Defende uma liderança participativa, onde cada colaborador se sinta parte da solução, com foco na personalização das respostas e na celeridade dos processos.
O projecto FICA (Frente para a Integração das Comunidades Apoiadas) foi um dos temas centrais da conversa. Criado para acelerar a integração de cidadãos migrantes na região da Lezíria do Tejo, o FICA é, segundo Paula Carloto, um exemplo do que pode ser alcançado quando há articulação eficaz entre diferentes entidades. “O nosso objectivo é trabalhar em rede, para que ninguém fique para trás. O impacto tem sido muito positivo, com dezenas de pessoas integradas em programas de formação e no mercado de trabalho”, destacou.
Apesar dos progressos, Paula Carloto reconhece os desafios que persistem, como o reconhecimento das qualificações profissionais de migrantes e a falta de habitação acessível. Defende que a colaboração entre o sector público, o privado e as organizações da sociedade civil é fundamental para superar estas barreiras e criar uma rede de apoio eficaz. “A inclusão social não se faz apenas com políticas públicas; exige o envolvimento de toda a comunidade”, afirmou.
Outro tema relevante foi a sua visão sobre o envelhecimento da população. Paula Carloto defende que o futuro da resposta social para a população idosa deve passar por modelos mais flexíveis, como as residências colaborativas, que promovem a autonomia e o bem-estar dos idosos, em detrimento da institucionalização tradicional. “Precisamos de pensar em soluções que valorizem a qualidade de vida e a participação activa dos idosos na sociedade”, afirmou.
Questionada sobre o papel da Segurança Social no contexto actual, Paula Carloto considera que, mais do que um sistema de protecção, é um pilar fundamental da coesão social. “O futuro da Segurança Social passa por ser um sistema mais flexível, capaz de responder rapidamente a crises e mudanças inesperadas, como vimos durante a pandemia. Mas também deve ser inclusivo, garantindo que todos têm acesso a uma rede de protecção que lhes permita viver com dignidade”, frisou.
A sua motivação pessoal para continuar este trabalho reside na convicção de que pode fazer a diferença: “O que mais me motiva é saber que o nosso trabalho tem um impacto real na vida das pessoas. Isso dá-me um propósito e reforça o meu compromisso com o serviço público”.
O que a motivou a aceitar o cargo de directora do Centro Distrital da Segurança Social de Santarém?
Foram motivos de vária ordem: o desafio é muito interessante e, nesta fase da minha vida, onde já fiz muitas coisas, de diferentes naturezas, sinto que é o momento certo para fazer algo verdadeiramente dirigido às pessoas e que possa fazer a diferença nas suas vidas. Assinar um papel pode parecer um acto meramente burocrático, mas sei que, muitas vezes, esse mesmo papel representa um apoio crucial, seja em termos de rendimento, habitação ou outro tipo de ajuda. Isso motiva-me diariamente. Trabalhar para que as decisões administrativas tenham um impacto directo e positivo na vida das pessoas é algo que me realiza profundamente.
Além disso, esta função permitiu-me reorganizar a minha vida pessoal. Agora vivo a tempo inteiro na Atalaia, o que me dá uma sensação de pertença e equilíbrio. Voltar às minhas raízes enquanto assumo um papel com impacto directo na comunidade foi uma combinação que me cativou. Conciliar o lado pessoal e profissional é uma mais-valia. Sinto que estou onde devo estar, e isso faz toda a diferença na forma como encaro o meu trabalho.
Quais são os principais desafios que identifica nesta nova função?
O grande desafio é tornar o serviço mais eficiente e focado na resolução de problemas concretos. Sou pragmática por natureza e gosto de ver resultados. Para mim, enviar um e-mail não é o fim de um assunto, é apenas o início. Quero promover uma real cultura de acompanhamento e eficácia, garantindo que as respostas sejam personalizadas e rápidas. O objectivo é criar uma dinâmica de trabalho em que cada colaborador se sinta parte integrante da solução e não apenas um elo numa cadeia.
A Administração Pública é, por natureza, muito burocrática. O meu objectivo é romper com essa rigidez – sempre que possível – introduzindo práticas mais dinâmicas e orientadas para o resultado. Não se trata de mudar o mundo de um dia para o outro, mas de implementar pequenas alterações que, no conjunto, façam uma grande diferença. Acredito que a mudança começa com uma nova mentalidade, com a capacidade de olhar para os processos e questionar: “Será que há uma forma melhor de fazer isto?”
Quais são as suas prioridades para o futuro enquanto directora do Centro Distrital da Segurança Social de Santarém?
As minhas prioridades passam por consolidar o trabalho que já está a ser feito e por implementar novas estratégias que tornem a Segurança Social mais eficiente, próxima e inclusiva. Quero dar continuidade a projectos como o FICA, lançados especificamente em Santarém, que demonstram o impacto positivo da articulação entre diferentes entidades e que fazem, realmente, a diferença. No entanto, vejo também a necessidade de modernizar processos, reduzir a burocracia e apostar na digitalização para melhorar o atendimento ao cidadão.
Um dos meus grandes objectivos é promover uma cultura de inovação dentro da própria instituição. Acredito que a inovação não se limita à tecnologia, mas está também na forma como organizamos o trabalho, como nos relacionamos com os utentes e como procuramos soluções criativas para problemas antigos. Quero que a Segurança Social de Santarém seja um exemplo de boas práticas, onde a eficiência e o humanismo caminhem lado a lado.
Recentemente, foi lançado o projecto FICA. Pode explicar-nos o seu objectivo e o que motivou a sua criação?
O FICA, que significa Frente para a Integração das Comunidades Apoiadas, nasceu da necessidade de responder de forma mais célere e eficaz à integração de cidadãos migrantes na nossa comunidade. O projecto visa acelerar o processo de inclusão social, laboral e cultural dos imigrantes na região da Lezíria do Tejo. O que motivou a criação do FICA foi a constatação de que existiam diversas respostas institucionais, mas que estas estavam muitas vezes dispersas, o que dificultava a articulação eficiente entre serviços.
Ao visitar diferentes centros de acolhimento e instituições, percebi que muitos migrantes permaneciam em situações de vulnerabilidade por falta de uma coordenação eficaz entre entidades. O FICA veio colmatar essa lacuna, criando um modelo de intervenção mais integrado, que junta esforços do Instituto de Emprego e Formação de Portugal (IEFP) responsável pela componente da formação e pelos processos burocráticos da empregabilidade, com a União Distrital das IPSS de Santarém (UDIPSS), com a União das Misericórdias Portuguesas, com as Comunidades Intermunicipais da Lezíria do Tejo e do Médio Tejo, e com a Agência para a Integração, Migrações e Asilo e das autarquias locais. O objectivo é simples: trabalhar em rede para que ninguém fique para trás.
Esta parceria com as várias Instituições Privadas de Solidariedade Social da Lezíria, permite que estes cidadãos encontrem emprego numa área na qual têm muita dificuldade em encontrar mão de obra, por exemplo.
As IPSS que receberem os cidadãos ficarão também encarregues de providenciar habitação ou transporte caso seja necessário, já que grande parte destas instituições são afastadas dos centros das localidades.
Qual tem sido o impacto deste projecto até agora?
O impacto tem sido muito positivo. Desde o lançamento do projecto em Dezembro, conseguimos integrar cerca de 60 pessoas em programas de formação e no mercado de trabalho. O nosso foco é capacitar os migrantes para que possam ser autónomos, promovendo a sua inserção na sociedade de forma digna e sustentável. Conseguimos articular formações específicas, como mobilização de idosos e primeiros socorros, que não exigem um domínio completo da língua portuguesa, facilitando a integração imediata.
Além disso, o FICA tem promovido a criação de redes de apoio entre as próprias comunidades migrantes e as instituições locais. Este trabalho em rede tem sido fundamental para o sucesso do projecto, permitindo uma partilha de recursos e conhecimentos que beneficia todos os envolvidos.
Quais são os principais desafios que o FICA enfrenta na sua implementação?
O maior desafio é, sem dúvida, o reconhecimento das qualificações profissionais dos migrantes. Muitos chegam com formação e experiência em áreas como saúde, engenharia ou educação, mas enfrentam barreiras administrativas que dificultam o reconhecimento das suas competências em Portugal. Isso é frustrante tanto para os próprios migrantes quanto para as instituições que poderiam beneficiar do seu contributo.
Outro desafio importante é a questão da habitação. A integração social não se faz apenas com emprego; é fundamental garantir que estas pessoas tenham acesso a condições de vida dignas. A falta de habitação acessível é um problema transversal, mas que afecta particularmente as comunidades migrantes. Estamos a trabalhar em parceria com as autarquias para encontrar soluções, mas é um desafio que exige uma abordagem a vários níveis.
O projecto FICA envolve a colaboração de várias entidades. Como tem sido essa articulação?
A articulação entre as diferentes entidades tem sido um dos pontos fortes do FICA. Criámos uma rede de trabalho que inclui serviços públicos, organizações da sociedade civil e entidades privadas. Esta colaboração permite-nos ter uma abordagem mais abrangente e eficaz, respondendo de forma mais rápida e ajustada às necessidades de cada pessoa.
Realizamos reuniões regulares com todos os parceiros para avaliar o progresso do projeto, identificar desafios e partilhar boas práticas. Esta dinâmica de trabalho em rede tem sido essencial para o sucesso do FICA, porque permite uma resposta mais ágil e coordenada. O trabalho em equipa e a partilha de responsabilidades são fundamentais para enfrentar os desafios da integração de forma eficaz.
Considera que o FICA pode ser replicado noutras regiões do país?
Absolutamente. O modelo do FICA é simples e eficaz, o que o torna facilmente replicável noutras regiões. O segredo do sucesso está na capacidade de articulação entre entidades e na personalização das respostas. Cada região tem as suas especificidades, mas os princípios básicos do FICA – trabalho em rede, enfoque na autonomia dos migrantes e integração social plena – podem ser aplicados em qualquer contexto.
Aliás, já temos recebido pedidos de partilha de boas práticas por parte de outras regiões, o que é um sinal claro de que o projecto está a gerar impacto e reconhecimento a nível nacional. O meu objectivo é que o FICA possa servir de inspiração para políticas públicas mais integradas e eficazes na área da inclusão social.
Para além do FICA, que outros projectos ou iniciativas estão em curso para promover a inclusão social?
Estamos a desenvolver vários projectos focados na inclusão de grupos vulneráveis, não só migrantes, mas também idosos, crianças em risco e pessoas com deficiência. Um dos projectos em que tenho um grande interesse é o programa de acolhimento familiar, que visa encontrar soluções mais humanas para crianças e jovens que não podem permanecer com as suas famílias de origem.
O acolhimento familiar é uma alternativa muito mais enriquecedora do que a institucionalização, permitindo que as crianças cresçam num ambiente mais próximo do modelo familiar tradicional. Estamos a trabalhar para sensibilizar a sociedade para a importância deste tipo de acolhimento e para criar uma rede de famílias de acolhimento preparadas para este desafio.
Além disso, temos programas de apoio à empregabilidade para jovens e para pessoas em situação de desemprego de longa duração, bem como iniciativas de formação e requalificação profissional. O objectivo é sempre o mesmo: capacitar as pessoas para que possam viver de forma autónoma e integrada na sociedade.
O acolhimento familiar tem sido uma das suas bandeiras. Pode explicar-nos a importância deste programa?
O programa de acolhimento familiar é uma das áreas em que mais acredito, porque representa uma resposta mais humana e personalizada para crianças que, por diversas razões, não podem permanecer com as suas famílias biológicas. Ao contrário da institucionalização, o acolhimento familiar oferece um ambiente mais próximo do modelo familiar tradicional, o que é fundamental para o desenvolvimento emocional e psicológico da criança.
Queremos sensibilizar mais famílias para se tornarem famílias de acolhimento e garantir que estas recebem o apoio necessário para desempenharem este papel tão importante. O Estado tem o dever de proteger as crianças, mas é na comunidade que encontramos muitas vezes as soluções mais eficazes. O acolhimento familiar é um exemplo disso mesmo: uma resposta que promove vínculos afectivos e oferece uma rede de segurança emocional para quem mais precisa.
Como avalia a rede de lares existente no distrito de Santarém e de que forma encara o desafio do envelhecimento no futuro?
A rede de lares no distrito é robusta e tem sido fundamental para responder às necessidades da população idosa. No entanto, acredito que o futuro do envelhecimento deve passar por soluções mais flexíveis e adaptadas às novas realidades. As residências colaborativas são um bom exemplo dessa evolução. Este modelo permite que as pessoas idosas mantenham a sua autonomia, vivendo em espaços próprios, mas com acesso a apoio integrado sempre que necessário. Trata-se de uma abordagem que respeita a individualidade e promove uma vida activa, respondendo melhor às expectativas das próximas gerações de idosos. O envelhecimento do futuro não se pode basear apenas na institucionalização tradicional; precisamos de pensar em modelos que valorizem a qualidade de vida, a participação social e o bem-estar emocional.
A sustentabilidade da Segurança Social é um tema recorrente. Como vê este desafio?
A sustentabilidade da Segurança Social é, de facto, um dos grandes desafios do nosso tempo. Enfrentamos mudanças demográficas significativas, com o envelhecimento da população e uma taxa de natalidade em declínio. Estes factores colocam uma pressão acrescida sobre o sistema, que precisa de se adaptar para continuar a garantir protecção social a todos os cidadãos.
Acredito que a chave para a sustentabilidade está na gestão eficiente dos recursos. A imigração, por exemplo, pode ser um contributo valioso se conseguirmos integrar eficazmente estas pessoas no mercado de trabalho, tornando-as participantes activas na economia e no sistema de protecção social.
Além disso, é fundamental promover a literacia financeira e a consciência social sobre a importância da Segurança Social. Muitas vezes, as pessoas não têm plena noção do papel vital que este sistema desempenha nas suas vidas, não só em momentos de crise, mas ao longo de todo o ciclo de vida.
Que papel desempenha a digitalização na modernização da Segurança Social?
A digitalização é um pilar fundamental da modernização da Segurança Social. O objectivo não é apenas facilitar o acesso aos serviços, mas também tornar os processos internos mais eficientes. A desmaterialização de documentos, a automatização de procedimentos e a criação de plataformas digitais acessíveis contribuem para reduzir a burocracia e melhorar a qualidade do atendimento.
Contudo, é importante garantir que a digitalização não exclui ninguém. Temos de encontrar um equilíbrio entre a inovação tecnológica e a manutenção de canais de atendimento presencial para quem mais precisa, como os idosos ou pessoas com dificuldades no uso das tecnologias. A inclusão digital é um desafio que temos de enfrentar com sensibilidade e responsabilidade.
Como vê o futuro da Segurança Social em Portugal?
Vejo o futuro da Segurança Social com optimismo, apesar dos desafios. Acredito que, com uma gestão rigorosa, políticas públicas bem desenhadas e uma forte colaboração entre o Estado, o sector privado e a sociedade civil, conseguiremos adaptar o sistema às novas realidades sociais e económicas.
O futuro da Segurança Social passa por ser um sistema mais flexível, capaz de responder rapidamente a crises e mudanças inesperadas. Passa também por ser mais inclusivo, garantindo que todos, independentemente da sua condição social ou económica, têm acesso a uma rede de protecção que lhes permita viver com dignidade.
Acredito que o papel da Segurança Social vai além da mera concessão de prestações. É um pilar da coesão social, um instrumento de promoção da igualdade de oportunidades e um factor de estabilidade em tempos de incerteza. O desafio é grande, mas tenho confiança no potencial transformador das políticas sociais quando são bem pensadas e implementadas com compromisso e proximidade.
O que a motiva pessoalmente a continuar este trabalho na Segurança Social?
O que mais me motiva é a possibilidade de fazer a diferença na vida das pessoas. Saber que o trabalho que desenvolvemos tem um impacto real, que pode transformar situações de vulnerabilidade em oportunidades de crescimento e autonomia, é algo que me enche de propósito.
Gosto de desafios e de sentir que estou a contribuir para um bem maior. Acredito que o serviço público tem um valor imenso, porque está ao serviço de todos, especialmente dos que mais precisam. Esta missão de apoio, de promoção da justiça social e de construção de uma sociedade mais solidária é o que me move diariamente.
Que mensagem final gostaria de deixar aos cidadãos do distrito de Santarém?
Gostaria de dizer que a Segurança Social está aqui para todos. O nosso compromisso é trabalhar com rigor, proximidade e empatia para responder às necessidades da população. Estamos disponíveis para ouvir, para apoiar e para encontrar soluções em conjunto com a comunidade.
Acredito que uma sociedade mais justa e solidária se constrói com o contributo de todos. Por isso, deixo um apelo à participação activa dos cidadãos, seja através do voluntariado, do apoio às redes de solidariedade ou simplesmente estando atentos às necessidades do próximo. Juntos, podemos construir uma comunidade mais coesa, onde ninguém fica para trás.
FM/JPN