A época natalícia é, tradicionalmente, uma das mais importantes para o comércio local. As ruas enchem-se de luzes e os consumidores procuram presentes que simbolizem o espírito de partilha e generosidade da quadra. Contudo, este cenário enfrenta desafios significativos para o comércio de proximidade. O crescimento das plataformas digitais, a inflação e a redução do poder de compra das famílias colocam os comerciantes numa posição vulnerável, obrigando-os a adaptar- se e a reinventar-se. É neste contexto que a ACES – Associação Comercial, Empresarial e Serviços desempenha um papel fundamental, promovendo iniciativas que dinamizam o comércio tradicional e reforçam a ligação entre a comunidade e os lojistas.

David Dias, presidente da ACES, tem dado corpo a esta missão. Com uma visão estratégica que combina inovação e tradição, a associação tem implementado projectos como os vouchers de Natal, o Sorteio de Natal, o Bairro Digital e as Aceleradoras do Comércio Digital. Estas iniciativas procuram não só aumentar as vendas durante a quadra natalícia, mas também modernizar o sector e capacitá-lo para enfrentar os desafios do futuro.

O presidente da ACES destaca a importância de iniciativas como os vouchers, que multiplicam o valor investido pelos consumidores e geram um impacto directo no comércio local. “Cada voucher de 10 euros traduz-se em duas ou três vezes mais consumo no território”, refere.

Para além disso, a associação lançou um sorteio que distribuirá cinco mil euros em vales de compras, incentivando os consumidores a escolherem o comércio de proximidade. “É uma forma de fortalecer o laço entre a comunidade e os nossos comerciantes, num ciclo económico e social que beneficia todos”, sublinha.

No entanto, David Dias não ignora os desafios que pairam sobre o sector. “Vivemos uma mudança de paradigma”, afirma, referindo-se ao crescimento das compras online. “A digitalização é inevitável, mas o comércio local tem algo único: a personalização e o atendimento.”

Para enfrentar este cenário, a ACES tem apostado em projectos como os Bairros Digitais, que visam digitalizar as empresas no centro histórico de Santarém, e as Aceleradoras do Comércio Digital, que disponibilizam apoios financeiros para ajudar os lojistas a modernizarem os seus negócios. Apesar das dificuldades burocráticas, David acredita que estas iniciativas serão fundamentais para revitalizar o comércio local e garantir a sua competitividade.

Além da inovação, a tradição também ocupa um lugar especial no trabalho da ACES. Em 2025, a associação comemora 150 anos de existência, um marco histórico que será celebrado com eventos ao longo do ano. Entre os planos, destaca-se a realização de uma gala no renovado Mercado Municipal de Santarém, um espaço que David Dias acredita ter o potencial de se tornar um pólo dinamizador do centro histórico. “A recuperação do mercado foi fantástica. Agora, precisamos de garantir que será sufi cientemente dinâmico para atrair pessoas e beneficiar o comércio local em redor”, defende.

Ao longo da entrevista, David Dias enfatiza a importância de um sentimento de comunidade mais forte. Para o presidente da ACES, revitalizar o comércio local não é apenas uma questão económica, mas também social. “Comprar localmente é investir na nossa cidade e na nossa comunidade”, afirma. “Cada compra feita numa loja local contribui para manter portas abertas, gerar emprego e fortalecer a economia regional.” E deixa uma mensagem clara para esta quadra natalícia: “É Natal, compre local!”

Como avalia as expectativas dos comerciantes da região para esta época natalícia?

As expectativas são moderadamente optimistas. As iniciativas que temos promovido em parceria com o município, como os vouchers de 10 euros, estão a gerar impacto positivo.

Estes vouchers, que multiplicam o seu valor em duas vezes no consumo, fazem uma diferença significativa para os comerciantes. Paralelamente, a ACES dinamiza o Sorteio de Natal, que distribuirá cinco mil euros em vales de compras, beneficiando tanto os lojistas como os consumidores. É uma forma de incentivar as compras no comércio tradicional, ajudando os lojistas a ‘recuperar o fôlego’ nesta época crucial.

Que impacto têm tido estas iniciativas junto dos comerciantes?

São fundamentais. O Natal é a época alta para muitos lojistas, mas os desafios, como a inflação e a concorrência das plataformas digitais, são reais.

Estas campanhas reforçam a relação entre os consumidores e o comércio local. Além disso, incentivam uma mentalidade de proximidade: quando um cliente compra localmente, está a apoiar directamente a sua comunidade. Isso fortalece o ciclo económico e social da região, com benefícios palpáveis para todos.

O comércio online continua a crescer. Como estão a preparar os comerciantes para este novo paradigma?

Estamos numa mudança de paradigma, e a digitalização é inevitável. Muitos comerciantes já reconhecem a necessidade de estar presentes online, mas enfrentam barreiras, como a falta de formação ou recursos. A ACES apoia este processo de várias formas: oferecemos formações específicas e promovemos programas como o Bairro Digital, que visa digitalizar empresas no centro histórico de Santarém.

Também integramos as Aceleradoras do Comércio Digital, um programa em consórcio que disponibiliza vouchers de até 1500 euros para apoiar a transição digital de empresas. Estes projectos são cruciais para modernizar o comércio local, sem perder a sua essência.

Em que ponto está a implementação do Bairro Digital?

O Bairro Digital é um projecto pioneiro, com um orçamento de 900 mil euros, que posicionou Santarém no sétimo lugar entre 260 candidaturas ao PRR. Contudo, a burocracia associada ao PRR tem atrasado a sua implementação. Esperamos iniciar o projecto nos próximos seis meses, começando pelo centro histórico. Este projecto será essencial para revitalizar a área, oferecendo aos lojistas ferramentas digitais que lhes permitam competir em condições mais favoráveis.

Quantos associados tem actualmente a ACES e que benefícios podem esperar?

Actualmente, contamos com cerca de 410 associados, um número que temos vindo a recuperar após a pandemia, que afectou severamente o sector. Os benefícios de ser associado são vastos: desde apoio jurídico e empresarial até à participação em feiras e eventos de formação. Além disso, proporcionamos uma rede de contactos dinâmica, onde os empresários

podem trocar experiências e aprender uns com os outros. A associação está aqui para apoiar os empresários na gestão burocratica das suas empresas, permitindo que os empresários se concentrem no essencial: gerir os seus negócios e gerar riqueza.

O centro histórico de Santarém enfrenta críticas sobre a falta de dinamismo. Como revitalizá-lo?

Revitalizar o centro histórico exige uma combinação de esforços. Primeiro, precisamos de um sentimento de comunidade mais forte. Comprar localmente é investir na nossa cidade.

Se cada pessoa fizer algumas compras no centro histórico, criamos uma dinâmica que beneficia todos. Também é essencial encontrar um equilíbrio no valor das rendas, que muitas vezes são proibitivas. Além disso, precisamos de iniciativas que atraiam visitantes, como eventos e feiras. O Mercado Municipal renovado será uma peça central neste esforço.

Qual será o impacto do renovado Mercado Municipal?

O Mercado Municipal será um catalisador para a dinamização do centro histórico. A sua recuperação foi extraordinária, mas é preciso garantir que o espaço seja sufi cientemente dinâmico para atrair um fluxo constante de pessoas. O mercado não deve ser visto como concorrência, mas como parte de um cluster de actividade comercial que beneficia toda a cidade.

Estamos a planear realizar a gala dos 150 anos da ACES no mercado, como forma de simbolizar a união entre tradição e modernidade.

A ACES celebra 150 anos em 2025. O que está planeado para marcar este marco histórico?

Estamos a organizar uma série de eventos ao longo do ano, nos seis concelhos que abrangemos. Estes incluem formações, eventos empresariais e, claro, uma gala que esperamos que seja memorável. Queremos que esta celebração seja um marco não só para os associados, mas para toda a comunidade.

O nosso objectivo é reforçar a associação e alcançar mil associados até ao final de 2025.

Como avalia a relação da ACES com os municípios que abrange?

A colaboração com os municípios tem sido essencial para o sucesso das nossas iniciativas. Embora existam desafios e divergências em determinados aspectos, o objectivo comum é sempre trabalhar pelo bem do território.

Estamos também a reforçar a nossa presença nos concelhos vizinhos, como Almeirim, Cartaxo e Chamusca, onde vemos potencial para crescer e apoiar mais empresários.

Que mensagem gostaria de deixar aos consumidores nesta época natalícia?

A mensagem é simples: “É Natal, compre local!”. Este apelo resume o que queremos transmitir. Cada compra feita no comércio local contribui para fortalecer a nossa comunidade.

Não é apenas uma questão económica, mas também social. Ao apoiar os nossos comerciantes, estamos a criar um ciclo positivo que beneficia toda a região. Por isso, deixo este convite a todos: visitem as nossas lojas, descubram o que o comércio local tem para oferecer e façam a diferença neste Natal.

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