André Esteves, de 25 anos de idade e natural de Santarém, é um artista plástico que nos últimos anos se tem dedicado a vários projectos como a Residência Artística de Santarém ou o Pictorin. Recentemente, apresentou no Círculo Cultural Scalabitano uma exposição onde estão retratadas figuras da cultura portuguesa. O artista diz que até à faculdade o seu objectivo de vida era ser ilustrador, mas o contacto com a pintura a óleo fizeram-no mudar de ideias. Já em relação à cultura em Santarém, o jovem sente que se deviam criar sinergias para potenciar os artistas da terra.

Quando surge a pintura na sua vida?
Até a faculdade não me sentia confortável com a técnica, refugiando-me mais no desenho. Mas no meu 3º ano, foi-me apresentada a pintura a óleo e, instantaneamente, despontou em mim um fascínio pela sua maleabilidade técnica e diversidade de resultados.

O que mais o inspira nas suas obras e quais os temas principais que aborda?
A minha maior inspiração é a natureza humana, desde o seu comportamento até às questões que afligem o seu Ser. E este olhar atento sobre a condição humana, consequentemente, influenciou o meu debruçar sobre a pintura de retratos e figuras humanas.

Como funciona o seu processo criativo?
O meu processo é algo anárquico, no entanto, normalmente, começa com uma ideia, interesse ou personalidade que me cativa e que sinto a necessidade de registar num pedaço de papel ou tela. Este registo inicial é sempre feito a grafite ou carvão, com auxílio de recursos fotográficos. É de seguida que entra a tinta, a cor e a pincelada, todas aplicadas de uma forma livre, mas também cheias de intenção.

Consegue viver exclusivamente da sua arte?
Infelizmente não. Como muitos outros jovens artistas, essa realidade não é possível. Mas trabalho todos os dias com o intuito de alcançar esse objectivo, sabendo que apenas esforço e dedicação não chega. Também é preciso coragem para poder surpreender, impressionar ou mesmo escandalizar quem vê a minha arte.

Tem alguma ideia que queira transmitir ao público, ou são telas mais para si?
As minhas obras têm sempre o intuito de transmitir algo ao público. Apesar de usar a pintura como uma catarse, a minha verdadeira ambição é que as ideias e emoções que represento nas minhas obras criem uma impressão no espectador, no entanto, sem direccionar para um público-alvo.

Expôs recentemente no Círculo Cultural Scalabitano retratos de algumas personalidades conhecidas do público português. Qual desses personagens foi mais difícil retratar?
Antes de mais, agradecer ao Círculo Cultural Scalabitano pela oportunidade e privilégio de expor num local fortemente ligado à cultura, e que tanto valorizou esta minha colecção de retratos de personalidades da cultura portuguesa. Não consigo individualizar nenhuma das obras. Todas elas apresentaram as suas dificuldades, subsequentes ao facto de estar a representar figuras queridas do povo português, cujas personalidades e traços físicos já se encontram tão entranhadas na imagem mental das pessoas. No entanto, penso que consegui captar e transmitir as suas personalidades, emoções e até extravagâncias.

O que as pessoas lhe transmitem quando vêem os seus quadros? Gostam? Dão-lhe incentivo?
Obtenho sempre louvores e elogios quando as pessoas vêem as minhas obras. No entanto, não valorizo tanto como uma boa discussão sobre o conceito, ou neste caso, a figura presente na obra. Quando reconhecem traços da personalidade da pessoa representada, quando estas obras despertam memórias ou partilhas de histórias ou quando geram debates sobre se concordavam com as ideologias das figuras representadas. Aí sim, sinto-me incentivado. Pois, tenha sido uma reacção positiva ou negativa, sei que estas obras geraram um impacto ou uma inquietação no espectador. E isso é o propósito fundamental de qualquer artista, criar uma impressão em quem vê a sua arte.

Tem algum projecto já pensado para o futuro?
Para além de continuar a retratar figuras da cultura portuguesa, também já tenho planeado colecções mais literárias, influenciadas por livros ou contos clássicos, mas transfiguradas e adaptadas às ilações que retirei dos mesmos. Naturalmente, as minhas futuras exposições advirão destas novas colecções.

Qual é a sua opinião em relação às artes em Santarém?
Não lhe consigo dar uma resposta concreta. Sei que existem vários espaços e agentes culturais que têm oferecido muito à dinamização da cultura em Santarém nos últimos anos, e que têm feito milagres com os recursos que têm à sua disposição, para além de terem sido um apoio para nós, os jovens artistas. No entanto, fico sempre com um amargo na boca, pois sinto que temos potencial para sermos melhores. Numa cidade onde temos tão poucos eventos, ou adesão aos mesmos, penso que os órgãos executivos da cidade deveriam ter uma relação simbiótica com a cultura e as artes, onde um apoiaria e o outro dinamizaria, criando um círculo positivo de entreajuda que apenas beneficiária esta cidade.

Na sua opinião, a Cultura em Portugal ainda é desconsiderada?
Infelizmente, penso que sim. Os apoios para a Cultura ainda são diminutos para a qualidade e potencial dos nossos artistas. Não podemos enaltecer os pintores, actores e outros artistas com sucesso no estrangeiro, mas depois não os apoiamos cá dentro, no país.

Que conselhos daria a quem quer ser artista plástico?
Primeiro de tudo, aprende os fundamentos básicos da arte, desde o desenho até à teoria da cor. Só quando te sentires confortável com estes princípios, é que poderás começar a divertires-te e a explorar diferentes técnicas. O segundo conselho é: motiva-te. O maior crítico de um artista é ele próprio, temos a tendência de ver só os defeitos do que produzimos, ignorando o que fazemos bem. Continua a produzir e a desafiar-te, com o tempo verás que, apesar de continuar a veres defeitos, também começaras a ver resultados mais positivos e incentivadores.

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