A corrida da passada sexta-feira, dia 22 de Setembro, em Coruche logrou suscitar enorme expectativa entre a meia dúzia de aficionados ribatejanos ao toureio a pé, porém nunca atingiu

o impacto que a despedida das arenas de um toureiro com a dimensão de “El Juli” bem justificaria.

Por muito que nos custe admiti-lo, para a maioria dos espectadores que frequentam os tauródromos nacionais “El Juli” é apenas mais um toureiro. A falta de cultura tauromáquica entre a afición nacional é confrangedora, e não se manifestou agora pela primeira vez, pois evidencia-se em tantos outros aspectos da tauromaquia lusa.

Assim, dá para perceber que as iniciais expectativas da empresa que gere o tauródromo da capital do Sorraia tivessem saído parcialmente goradas, tanto pela afluência de público – cerca de ¾ da lotação da praça – como, sobretudo, pela falta de qualidade do espectáculo, designadamente na componente apeada que, ao cabo e ao resto, era o principal atractivo nesta noite de S. Miguel.

Assumo que aprecio muito a trajectória toureira de Julián López “El Juli” desde os seus tempos de menino, o qual, mercê da sua elevadíssima técnica e da sua profunda expressão estética, logrou alcandorar-se a uma posição de topo entre os melhores toureiros da sua geração. O que não é coisa irrelevante se atendermos à qualidade dos extraordinários matadores com quem “El Juli” alternou ao longo da sua carreira de vinte e cinco anos de alternativa.

Porém, uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa! La Palisse não diria melhor… Antes da corrida da sexta-feira cantaram-se hossanas a “El Juli”, vaticinando esta corrida como um dos acontecimentos da temporada taurina nacional; depois do fiasco dos “Garcigrande” – porque não há outra forma de o dizer, os toiros de Garcigrande foram indignos desta corrida! – logo saíram a terreiro os profetas da desgraça, como que dando a entender que, estes sim, não se deixaram ludibriar e já esperavam este desfecho.

Afinal, para estes, “El Juli” só veio a Coruche para facturar, pouco respeitando a afición portuguesa. Memória curta a de alguns escribas nacionais, que já esqueceram as magníficas actuações de “El Juli” na Monumental Celestino Graça, numa das quais alternando com “Morante de la Puebla”…

A maioria das figuras do toureio que se impõem em Espanha está configurada para um determinado tipo de toiro que lhe permita expender com eloquência – entenda- se, técnica e arte – a sua tauromaquia.

Se é verdade que cada toiro é uma caixinha de surpresas, não é menos certo que, através de um processo de selecção genética e do resultado das tentas nas fincas dos ganaderos, todas as ganadarias reúnem um padrão comportamental que vai mais a gosto de alguns toureiros, que quando têm força de cartel, os impõem. Há toureiros para os Miúras, para os Victorinos, para Domecq e para os Garcigrande, como para todas as demais ganadarias.

Consabidamente, umas divisas são mais complexas e outras são mais cómodas, como do mesmo modo há toureiros que necessitam de enfrentar toiros mais “duros”, quando têm mais valor do que arte, e outros que carecem de toiros mais cómodos, quando lhes sobra em arte o que lhes escasseia em valor. Esta premissa é de todos os tempos, pelo que o mais espantoso é que ainda hoje haja aficionados que não compreendam estas circunstâncias tão peculiares da tauromaquia.

“El Juli” é um toureiro que sempre enfrentou todo o tipo de toiros, embora se dê melhor com algumas ganadarias do que com outras, pelo que quando pode – e quase sempre pode – impõe à margem dos seus contratos a inclusão de toiros das ganadarias da sua preferência, frente aos quais melhor expende o seu toureio e mais facilmente triunfa. O que, sem surpresa, vai ao encontro da maioria dos aficionados, que alimentam a sua afición com o triunfo dos toureiros. Ninguém é aficionado para assistir a tragédias!

Os Garcigrandes eram mais garcipequenos do que os que habitualmente são lidados em Espanha, onde são sujeitos à sorte de varas, o que não acontece no nosso país, e “El Juli” está no termo da sua carreira profissional, faltando apenas cumprir algumas corridas de despedida em praças da maior importância do universo taurino, onde seguramente vai triunfar e sacar muito dinheiro, pelo que não viria a Coruche arriscar um pelo, como é natural. O que poderia surpreender é que os generosos empresários de Coruche não esperassem já esta atitude do prestigiado toureiro espanhol!

“El Juli” passou por Coruche num registo digno q.b., limitando-se a cumprir os mínimos, o que é pouco para a dimensão do seu toureio e para o carácter extraordinário da sua despedida num país onde tem tantos admiradores. É pena porque quem apenas o viu tourear nesta noite coruchense ficará com uma ideia desluzida do seu real valor.

Na componente equestre, assinalava-se o regresso ao tauródromo coruchense de António Ribeiro Telles e de seu sobrinho João Ribeiro Telles, e como seria de esperar ambos solveram o seu compromisso com muita competência, destacando-se João Telles na consumação de duas lides muito meritórias, superando nesta noite o qualificado labor do decano marialva da Torrinha.

O Grupo de Forcados Amadores de Coruche – que nesta temporada pegou emsolitário todas as corridas na sua terra!!! – solveu dignamente o seu compromisso, tendo sido solistas António Macedo Tomás, numa valorosa pega ao primeiro intento; Afonso Freitas, à segunda tentativa; o Cabo José Macedo Tomás, a dobrar Tiago Gonçalves, desfeiteado com dureza nas suas quatro tentativas; e João Prates, que consumou uma rija pega ao primeiro intento.

A cavalo foram lidados toiros de António Raúl Brito Paes e Passanha, que cumpriram e permitiram o luzimento aos dois cavaleiros e aos Forcados de Coruche.

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