A Inspecção-Geral de Actividades Culturais (IGAC) acaba de divulgar o seu relatório anual sobre a actividade tauromáquica em Portugal, não incluindo a Região Autónoma dos Açores porque ali não tem responsabilidades de tutela, as quais estão cometidas ao respectivo Governo Regional.

Temos feito referência a alguns dados compulsados por diversos órgãos de comunicação social, no entanto, estes são, no nosso entendimento, os mais fidedignos na medida em que é a IGAC a entidade licenciadora dos espectáculos taurinos no nosso país, logo tem de ter todos os dados correctos.

Neste Relatório, a que vamos fazer exaustiva referência, o Inspector-Geral Luís Silveira Botelho assina um texto de apresentação muito pertinente, pelo que o citamos para melhor informação dos nossos apreciados leitores.

“Em Portugal, os espectáculos tauromáquicos estão subordinados a legislação específica que enquadra a tauromaquia, nas suas diversas manifestações, como parte integrante do património da cultura popular portuguesa. Entre as várias expressões, práticas sociais, eventos festivos e rituais que compõem a tauromaquia, a importância dos espectáculos em praças de toiros está traduzida no número considerável de espectadores que assistem a este tipo de espectáculos.

A Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC), na área da tauromaquia, assume uma competência tripartida que consiste em assegurar o exercício da actividade tauromáquica em Portugal continental, nos domínios do licenciamento, da fiscalização e da direcção dos espectáculos.

Os espectáculos tauromáquicos são regulados, fundamentalmente, por três instrumentos normativos, nomeadamente, pelo Regulamento do Espectáculo Tauromáquico (RET) que disciplina, no detalhe, as regras associadas à sua realização, pelo regime de funcionamento dos espectáculos de natureza artística e de classificação, instalação e fiscalização dos recintos fixos destinados à sua realização e, finalmente, pela lei que regula o acesso ao exercício da actividade de artista tauromáquico e de auxiliar de espectáculo tauromáquico, sendo este mais um importante instrumento de regulação e disciplina do acesso à actividade tauromáquica.

No ano 2023, foram objecto de licenciamento 182 espectáculos tauromáquicos e concretizados 166 espectáculos. As razões da diferença entre o licenciado e o executado com tradução no cancelamento ou não realização de 16 espectáculos previstos deveu-se, fundamentalmente, a razões de ordem meteorológica, tornando visível que a imprevisibilidade climática tem vindo a agudizar-se e, cada vez mais, a dificultar previsões mais certas e seguras nos momentos que antecedem este tipo de espectáculos.

Em 2023, à semelhança do sucedido em anos anteriores, é possível afirmar que os diferentes intervenientes no espectáculo e, em especial, as associações representativas do sector, sem excepção, assumiram um papel responsável e colaborativo com a IGAC.”

Número de Espectáculos

Na passada temporada realizaram-se 166 espectáculos taurinos, dos quais 124 corresponderam a corridas de toiros à portuguesa, modalidade que continua a ser a mais expressiva, com uma percentagem de cerca de 75% no total entre os diferentes tipos de espectáculo. As corridas de toiros e, adicionalmente, as corridas mistas, 13, representam em conjunto 82,53% do total. Os restantes espectáculos realizados foram: 17 festivais tauromáquicos, 8 novilhadas populares e 4 de variedades taurinas.

Neste ano em análise realizaram-se menos 9 espectáculos do que em 2022, e menos 55 do que em 2014. Esta tendência decrescente anima os detractores da tauromaquia que vitoriam a tendência anual para a redução da actividade tauromáquica, o que encontra explicação nos casos do Campo Pequeno, com apenas quatro corridas, e de Santarém, com apenas três, para além da expressiva redução de espectáculos em praças desmontáveis, muitas das quais não cumprem os actuais requisitos impostos pela IGAC.

Os concelhos com maior actividade tauromáquica nesta temporada são: Vila Franca de Xira, 12; Moura, 8; Alcochete e Moita, 7; Évora, 6; Elvas e Montemor-o-Novo, 5; Abiul (Pombal), Beja, Campo Pequeno, Coruche, Monforte, Montijo, Mourão e Nazaré, 4. Neste Relatório da IGAC não é feita qualquer referência ao número de espectadores, o que compete ao Instituto Nacional de Estatística (INE), pelo que aguardamos a disponibilização destes dados para aqui os divulgarmos. Recordamos que em relação à temporada de 2022 o balanço não foi nada animador…

Empresas e Empresários mais activos

Tal como em anos anteriores constata-se uma grande pulverização ao nível das entidades organizadoras de espectáculos tauromáquicos, posto que mais de vinte cinco entidades organizam menos de três actividades por temporada.

Neste ranking destacam-se as empresas que gerem diversos tauródromos, como são os casos de RACG – Sociedade Comercial, Lda., de Ricardo Levesinho, concessionária das praças de Vila Franca de Xira e da Moita do Ribatejo, que promoveu um total de 24 espectáculos, seguido da empresa “Ovação e Palmas – Unipessoal, Lda.”, de Luís Miguel Pombeiro, que realizou 16 espectáculos no Campo Pequeno, na Azambuja e em Alcácer do Sal, entre outras praças. A empresa “Toiros & Tauromaquia”, dos herdeiros de António Manuel Cardoso, organizou 14 espectáculos, a maioria dos quais em Alcochete, Estremoz e Reguengos de Monsaraz.

Depois, já fora do pódio, destacaram-se José Charraz & Tiago Graça – Atividades Tauromáquicas, Lda. com 13 espectáculos, “Toiros com Arte, Lda.” com 12, António Pedro Vasco, Unipessoal Lda. Com 9, Luís Pires dos Santos, Unipessoal Lda. com 8; “Tertúlia Óbvia, Lda.” com 7, e Florindo Ramalho, Sociedade Agro-Pecuária das Campinas e Campos, Unipessoal Lda. todos com 6.

Toureio a Cavalo

O escalafón dos cavaleiros é o mais extenso de todos os artistas tauromáquicos, porém nos cartéis raramente nos damos conta do elevado número de toureiros que estão em actividade, uma vez que os mais activos são pouco mais de dez.

Nesta relação de corridas de cada toureiro apenas são tidas em conta as suas actuações em território nacional continental, embora alguns destes tenham actuado também nos Açores ou além-fronteiras.

Quanto a cavaleiros de alternativa o mais destacado foi João Moura Caetano, que registou 38 actuações, seguido de Marcos Bastinhas com 35, Miguel Moura com 28, João Moura Jr. e Luís Rouxinol com 25, Luís Rouxinol Júnior com 24, Ana Batista e Francisco Palha com 18, António Ribeiro Telles com 17 e Filipe Gonçalves com 16.

Tristão Ribeiro Telles, que poderá tomar a alternativa na primeira corrida da temporada escalabitana, foi o mais activo com 19 actuações, seguido de Diogo Oliveira com 11, Manuel de Oliveira com 9, Francisco Maldonado Cortes Jr. com 5, Paco Velasquez, que, entretanto, tomou a alternativa em 28 de Maio, na Moita do Ribatejo, e António Ribeiro Telles (Filho), que também tomou a alternativa a 14 de Julho em Lisboa, ambos com 4.

Os cavaleiros amadores tiveram pouca actividade, até pelo facto de o Regulamento Taurino dificultar a sua inclusão nos cartéis com cabeças de cartaz, no entanto, nota-se muito interesse nesta actividade. Na época taurina em análise apresentaram-se nas arenas portuguesas os seguintes “amadores”: Marco Santos e Mariana Avó em 3 actuações, Diogo Conde, Francisco Canales, Francisco Maldonado Cortes Jr., Lourenço Malheiro, Tomás Moura e Vasco Veiga em 2, e António Cabaço e Henrique Pinheiro em apenas uma oportunidade.

Toureio a Pé

A vida não está nada fácil para o toureio a pé no nosso país, num tempo em que até estão em actividade alguns toureiros que evidenciam muita qualidade, no entanto, a preferência das empresas e, eventualmente, dos aficionados, aposta nas corridas à portuguesa, pelo que as oportunidades são sempre muito escassas.

Manuel Dias Gomes e António João Ferreira destacaram-se a nível dos matadores, com seis actuações, Joaquim Ribeiro “Cuqui” registou duas actuações, e “El Cid”, João Diogo Fera e Nuno Casquinha apresentaram-se por uma única ocasião em arenas portuguesas.

O novilheiro almeirinense Diogo Peseiro, que deverá receber a alternativa de matador no princípio da próxima temporada, apresentou-se apenas uma tarde em Portugal, enquanto como novilheiros praticantes se apresentaram Gonçalo Alves, em quatro ocasiões, Tomás Bastos que apenas actuou por três vezes em arenas nacionais mas protagonizou uma excelente época em Espanha, e Luís Silva, actuou em apenas uma novilhada.

No escalafón dos “amadores” há a registar as actuações de João Mexia e Vicente Sanchéz, em três espectáculos, e Gonçalo Alves e João Inácio apenas uma actuação.

Bandarilheiros e Peões de Brega

Em bom rigor todos os toureiros subalternos são bandarilheiros, no entanto, por mero preciosismo usamos este subtítulo para sinalizar os que actuam às ordens de cavaleiros, os peões de brega, dos

que coadjuvam as lides de matadores ou novilheiros. No caso português todos os bandarilheiros são peões de brega, pois o toureio a pé não sustenta ninguém.

Duarte Alegrete foi o toureiro mais activo com 55 actuações, seguido de João Bretes com 54, e Miguel Batista com 48. Seguem-se Pedro Paulino “China” com 47, João Prates “Belmonte” e João Oliveira com 44, Sérgio Santos “Parrita” com 43, João Ganhão com 42, e Ricardo Alves e Diogo Malafaia com 38.

A nível dos bandarilheiros praticantes Francisco Honrado é o líder destacadíssimo com 30 actuações, seguido de Diogo Fernandes e do escalabitano Duarte Silva com 17, de Mariano dos Santos com 15, de Luís Gonçalo Silva com 14, de João Maria Cortes com 11 e de Fernando Fetal e Rodrigo Recatia com 6.

Entre o grupo dos bandarilheiros amadores destacaram-se Tiago Caria com 4 actuações e Manuel Francisco Parreira e Rui Ferreira com 3, enquanto Fábio Rocha, Pedro Batalha e Ricardo Tavares se apresentaram numa única oportunidade.

Grupos de Forcados

Segundo os dados da IGAC apresentaram- se nas arenas nacionais 41 grupos de forcados, sendo que estranhamente, ou talvez não, alguns dos mais activos em temporadas anteriores tiveram este ano

uma actividade muito reduzida, como foram os casos dos Grupos do Aposento da Moita do Ribatejo, de Coruche, do Barrete Verde de Alcochete, da Chamusca e do Aposento da Chamusca. Estes são Grupos que têm muita qualidade e que até pelo seu historial fazem muita falta nas nossas praças. Nada temos contra os que embora sendo mais recentes tenham pegado mais corridas, mas há coisas que são difíceis de compreender…

Na linha da frente destacaram-se os Grupos de Forcados Amadores de Évora com 21 actuações, de Montemor-o-Novo com 19, e os de Lisboa com 17. Os Amadores de Santarém e os do Ribatejo fizeram 16 corridas, os de Vila Franca 15, os de São Manços 13, os de Póvoa de S. Miguel e o Grupo Real de Moura 12, os Amadores de Alcochete, os de Beja e os Académicos de Elvas pegaram em 11 corridas, e os Amadores de Monsaraz em 10.

Alternativas e Mudanças de Categoria

Na temporada de 2023 há ainda a considerar as mudanças de categoria dos diversos escalões, o que ocorreu em relação a dez toureiros.

A nível de cavaleiros tomaram a alternativa Mara Pimenta (Almeirim, 2 de Abril), Paco Velázquez (Moita do Ribatejo, 25 de Maio) e António Ribeiro Telles (Filho) (Campo Pequeno, 14 de Julho). Francisco Maldonado Cortes (Filho) prestou provas para cavaleiro praticante em Santo Aleixo a 8 de Abril.

Gonçalo Alves passou a novilheiro praticante em 25 de Março, em Vila Franca, e o auspicioso Tomás Bastos prestou provas para novilheiro praticante, também em Vila Franca de Xira, a 2 de Julho. Passaram à categoria de bandarilheiro Fernando Fetal, a 1 de Julho, em Angra do Heroísmo, Sérgio Nunes a 2 de Julho, em Vila Franca de Xira, e Luís Gonçalo Silva a 8 de Setembro no Campo Pequeno. Prestou provas para bandarilheiro praticante João Maria Cortes a 1 de Fevereiro em Mourão. O escalabitano Duarte Silva prescindiu da sua condição de novilheiro e passou a actuar como bandarilheiro praticante.

E o defeso está a acabar…

E daqui a pouco mais de um mês estamos a chegar ao termo do período de defeso. Do tanto que havia para fazer, o que é que terá sido feito? Que nos tenhamos apercebido, nada!

As hostes estão serenas, nem que seja a caminho do abismo, mas tudo segue calmo e pacato. Os problemas detectados em temporadas anteriores mantêm-se ou agravaram-se, e toda a nossa gente assobia para o lado. Pela nossa parte nada temos a perder, embora nos desagrade muito assistirmos ao prolongado estertor de uma tradição que tanto apreciamos, mas se quem vive financeiramente deste negócio parece não se incomodar, para que é que nos estamos a inquietar? O futuro há-de ser o que for… e siga a Banda!

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