Santarém – Monumental “Celestino Graça” – 10 de Junho de 2024 – Corrida Mista – 70.º Aniversário da Feira do Ribatejo. Cavaleiros: João Moura Júnior e João Ribeiro Telles; Matador: André Roca Rey; Forcados: Amadores de Santarém e Amadores de Montemor; Ganadarias: Murteira Grave (520, 500, 550 e 560 kgs) e Álvaro Nuñez (480 e 470 kgs); Director de Corrida: Marco Cardoso; Veterinário: Dr. José Luís Cruz; Tempo: Ameno; Entrada de Público: Lotação Esgotada.

A Monumental “Celestino Graça” registou na passada segunda-feira mais uma lotação esgotada, o que, só por si, já é um motivo de festa para a tauromaquia nacional. Em Dia de Portugal os aficionados portugueses deixaram uma eloquente mensagem aos detractores da Festa Brava e, sobretudo, aos políticos de meia tigela que tudo fazem para extinguir esta tradição tão enraizada na nossa cultura, desrespeitando a diferença de opinião e de cultura e impondo a ditadura do gosto. No ano em que se celebrou meio século sobre a data da instauração da democracia era bom que grande parte da nossa classe política praticasse os valores democráticos que é suposto defender, o que, contudo, está muito longe da verdade, pelo menos ao nível da Tauromaquia.

Louve-se o facto de o actual Secretário de Estado da Agricultura, Dr. João Moura, ter assistido às duas corridas e de alguns deputados à Assembleia da República e autarcas ribatejanos terem marcado o ponto com a sua presença. Decerto que saíram mais fortes na convicção de que é imperativo o respeito pelos aficionados portugueses e a salvaguarda da Tauromaquia como Património, como Cultura e como Tradição.

Durante as cortesias, cantou-se o Hino Nacional com uma emoção tremenda, o que acentua bem a urbanidade e o portuguesismo dos aficionados que esgotaram a lotação da Monumental “Celestino Graça”. Também foi muito simbólico o silêncio profundo com que se respeitou a memória de Alfredo Vicente, falecido neste mesmo dia, antigo cavaleiro amador, pai do cavaleiro Luís Rouxinol e avô de Luís Rouxinol Júnior, a quem apresentamos as mais sentidas condolências.

O matador peruano Roca Rey é na actualidade uma das principais figuras do toureio a nível mundial, arrastando multidões para as praças onde se apresenta, as quais são normalmente beneficiadas com a excelência do seu labor e a verguenza que demonstra quando não dispõe da matéria-prima que lhe permita bordar o toureio. Questiona-se muitas vezes se os aficionados portugueses têm suficiente cultura taurina para valorizar as figuras do toureio a pé que quase exclusivamente se apresentam em arenas espanholas, pois, para quem tivesse essa dúvida existencial a resposta ficou dada, e não apenas pela lotação esgotada da maior praça do país, mas igualmente pela forma criteriosa como soube avaliar o desempenho técnico e artístico desta grande figura mundial do toureio. A aplaudir e a silenciar! 

O extraordinário ambiente que se viveu em torno da praça nas horas que antecederam a corrida e mesmo depois do espectáculo ter terminado foi singular, não podendo deixar de se evidenciar a paixão manifestada por tantos aficionados jovens em torno de Roca Rey, tanto na sua chegada à praça como na saída, que não foi tarefa fácil para satisfazer com simpatia as largas dezenas de jovens que o quiseram cumprimentar. Já não se via disto há muitas eras!

Os toiros que Roca Rey enfrentou vieram da ganadaria espanhola de Álvaro Nuñez, sendo escassos de presença para uma praça como a de Santarém, tendo o primeiro servido bem, e que bem que o matador peruano o aproveitou, e o segundo não permitiu outras opções que não fossem a dignidade e o respeito do famoso toureiro que não o despachou logo, provando ao máximo para tirar do poço a água que este não tinha.

Frente ao primeiro, que é o que fica na história, Roca Rey andou em plano de excelência com o capote, lanceando com elegância e graciosidade, a compor a nobre investida do hastado. Com a flanela rubricou uma apreciada faena, lidando por ambos os lados e variando o seu imenso reportório artístico, que impregnou com sentimento e paixão, numa expressão de domínio absoluto. Frente a este toiro Roca Rey apresentou as suas credenciais e justificou por que enche as praças onde actua. O último toiro era pequenote e não serviu, pelo que o que Roca Rey nos mostrou foi a sua verguenza, a sua boa técnica e o muito ofício, pois que arte foi coisa que não era possível burilar.

Nesta tarde memorável, o toureio equestre roçou o nível da perfeição, pois tanto João Moura Júnior como João Ribeiro Telles atravessam um apurado momento de forma, o que permite pôr em evidência a sua categoria técnica e a sua verdadeira dimensão artística, o que ainda foi mais valorizado pelo facto de nenhum dos dois gostar de perder nem a feijões.

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