O empresário de jogadores Carlos Silva negou, no Tribunal de Coruche, ter “engendrado um plano”, com dirigentes do Grupo Desportivo Coruchense, para trazer para Portugal jogadores estrangeiros e com isso obterem proveitos económicos.
No depoimento que prestou no julgamento iniciado no passado dia 24 de Novembro, em Coruche, Carlos Silva, funcionário da Autoridade Tributária e Aduaneira, disse ao tribunal que trabalhava para a Strong Sports por possuir licença da Federação Internacional de Futebol (FIFA) para ser intermediário de jogadores, confirmando que colocou quatro futebolistas estrangeiros no Coruchense na época de 2015.
Carlos Silva afirmou que, por indicação de José Peseiro, treinador de futebol natural de Coruche, estabeleceu contactos com o Grupo Desportivo Coruchense (GDC) por saber que, tendo subido ao campeonato nacional, precisavam de jogadores.
Segundo disse, três dos jogadores em causa, dois brasileiros e um senegalês, já estavam a jogar em Portugal anteriormente, enquanto o guineense Malam Fati, para o qual o Marítimo da Madeira havia emitido uma carta convite na época anterior, acabou por ingressar no Coruchense porque o visto foi emitido nove meses depois, quando aquela equipa já estava completa.
Carlos Silva negou que os jogadores fossem trazidos para Portugal como se viessem integrar um programa de estágios da Strong Sports, como consta da acusação do Ministério Público, e garantiu que todo o processo de contratação e legalização cabia às entidades empregadoras, não tendo aí qualquer intervenção.
O agente afirmou que a colocação de jogadores em clubes deste nível não gera qualquer rendimento, tendo declarado que, pelo contrário, gerava custos, dando como exemplo o ter adquirido botas de futebol e caneleiras, na ordem das centenas de euros.
Questionado sobre então qual era a vantagem de angariar jogadores, Carlos Silva afirmou que o objectivo é conseguir colocar futebolistas em clubes grandes, aí sim, recebendo uma percentagem da contratação.
Garantindo que, no caso em julgamento, agiu ‘pro bono’, Carlos Silva afirmou que, devido a este processo, deixou de ser empresário de futebol.
Tal como haviam declarado o ex-presidente do GDC Dionísio Mendes e o antigo tesoureiro e director desportivo Carlos Neves, também Carlos Silva mostrou incompreensão com a acção inspectiva realizada pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) em 22 de Setembro de 2015, que esteve na origem do processo.
O Ministério Público acusou o clube, os seus antigos presidentes Dionísio Mendes (que presidiu à Câmara Municipal de Coruche entre 2001 e 2013 e assumiu a presidência do GDC em Julho de 2015) e Ricardo Santos (presidente entre Maio de 2008 e Julho de 2015), o tesoureiro e director desportivo Carlos Neves e os empresários de jogadores de futebol Vasco Antão e Carlos Silva, de angariação de mão de obra ilegal, num processo que teve decisão instrutória em Dezembro de 2018, mas que só começou a ser julgado no passado dia 24 de Novembro.
Os arguidos que prestaram depoimento até ao momento referiram que os jogadores chegavam com vistos temporários, sendo conhecedores que vinham ou à experiência ou para integrar o plantel, sendo, nestes casos, celebrado um contracto de trabalho.
O clube, que assegurava alojamento e alimentação, pagando o remanescente (na ordem dos 200 euros), inscrevia os jogadores na Federação Portuguesa de Futebol, nas Finanças e na Segurança Social, passos necessários para o pedido de autorização de permanência ou residência temporária no país, afirmaram.
Segundo disseram, o SEF sabia que os jogadores em causa tinham vistos temporários e que aguardavam decisão sobre os pedidos de permanência no país.
Dionísio Mendes, que terminou hoje o depoimento iniciado em 24 de Novembro, disse ainda que, como o clube desceu de divisão, voltando ao campeonato distrital na época seguinte, teve uma reunião com o Sindicato dos Jogadores, tendo havido uma “desvinculação amigável” com os jogadores, já que os contractos não vigoraram os dois anos previstos, mas apenas um.