Os meses de Junho a Setembro são, por excelência, aqueles em que tem lugar um maior número de festivais de folclore um pouco por todo o país.

Esta forte concentração de eventos folclóricos nesta época do ano decorre tão somente da circunstância de muitos destes festivais se integrarem ou sucederem a festas populares das respectivas regiões, as quais se celebravam em homenagem e por devoção ao santo padroeiro ou pelo facto de coincidir com um período de menor azáfama nos campos agrícolas. Depois das ceifas e antes das vindimas…

A juntar ainda a estas relevantes circunstâncias temos de levar em consideração o facto de a maioria destes festejos ocorrerem em espaços ao ar livre, improvisados para o efeito, dada a inexistência de estruturas sócio-culturais que as pudessem acolher em tempos de antigamente.

Enfim, por diversas e ponderosas razões entendia-se, perfeitamente, a opção por esta época, o que, convenhamos, actualmente, já não se justifica tanto uma vez que não há aldeia ou vila do nosso país que não disponha de um pavilhão ou de uma sala de espectáculos onde se possa levar a efeito uma iniciativa desta grandeza, com mais qualidade técnica para os grupos participantes e maior conforto para os espectadores.

Todavia, ainda há muito boa gente que alega que os espectáculos de folclore devem decorrer em recintos abertos, ao ar livre. Como antigamente…

Esta atitude lembra-me o que se dizia a propósito da realização de toiradas no Ribatejo, as quais, segundo a opinião dos mais antigos, querem é sol e moscas.

Assim, nem mais! Alguns, já em fase de evolução de pensamento, consentem que se possa, ao menos, prescindir das moscas, mas agora do Sol, isso é que não. No entanto, os bilhetes mais procurados são, exactamente, os da sombra.

Porque será?

Bem, os tempos mudam, as realidades variam, e, assim, nada nos deve impedir de inovar também alguns posicionamentos em relação a aspectos assentes na tradicionalidade. Porque, não há como esconder, a tradição também evolui, porque se assim não fosse, ainda viveríamos como o homem das cavernas. Em todos os aspectos da vida se constata um ritmo de evolução, mais acelerado ou mais conservador, conforme as circunstâncias que determinam a própria mudança, porém, quase sem nos darmos conta, registam-se significativas mudanças nos nossos hábitos e nas nossas atitudes. Basta olharmos para a realidade da nossa vivência de meninos há meio século atrás e os dias de hoje… quantas diferenças encontramos!

Ora o inconveniente da maior concentração dos festivais de folclore numa curta época do ano, é que, estando a maioria dos grupos envolvidos nas suas actividades não podem assistir aos festivais que tenham lugar nas proximidades da sua residência e que são organizados por grupos e ranchos de folclore da vizinhança.

Infelizmente, chega a acontecer que na mesma tarde ou na mesma noite têm lugar dois ou três festivais de folclore a pequeníssimas distâncias entre si, obrigando, ou não, a que as próprias entidades oficiais e de representação tenham de saltitar de festival em festival, ou às vezes a não irem a nenhum, alegando compromissos de agenda já assumidos com outro.

Actualmente, muitos dos componentes dos grupos não prescindem de algum tempo de férias balneares e nos empregos por turnos cada vez é mais difícil fazerem-se trocas, posto que no período estival os quadros de pessoal estão, compreensivelmente, mais reduzidos, e, por outro lado, também nos apercebemos de que os grupos de folclore nesta época têm de recorrer a antigos componentes, alguns já com a barriguinha mais proeminente, ou a jovens bailadores, que ainda não estão suficientemente preparados para esse desempenho, o que não penaliza a sua representação, numa perspectiva técnica e artística.

Perguntamos, isto é bom para alguém?

Claro que não! Então, sendo possível, o que desejamos é que os grupos se entendam, nem que seja com a coordenação das respectivas autarquias, no sentido de se evitarem estas situações. A bem do Folclore e dos próprios agrupamentos!

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