A Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém (ESGT) assinala 39 anos de existência, destacando-se como um pilar essencial na formação de profissionais nas áreas de gestão e tecnologia. Em entrevista ao Correio do Ribatejo, o director Sérgio Cardoso sublinha a evolução da instituição, que se tem afirmado pela adaptação constante às exigências do mercado, pela criação de parcerias estratégicas e pela aposta na inovação e empreendedorismo, reflectindo um compromisso contínuo com a qualificação e empregabilidade dos seus alunos.

Ao longo de 39 anos de existência, como avalia o percurso da Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém? Quais os principais marcos que gostaria de destacar?

Desde logo o momento da criação da Escola em 1985 e a sua integração no IPSantarém com o objectivo inicial de fornecer formação de âmbito superior na área da gestão e das tecnologias. O propósito da sua criação continua a orientar hoje o cumprimento da nossa missão institucional.

Depois registava ainda o processo de instalação dos órgãos e a definição da oferta formativa inicial como sendo também algo digno de nota. Muito do nosso trabalho depende hoje de opções de época que se mostraram sólidas e que permitiram suportar tudo o que se seguiu. Em seguida é de sublinhar a forma como implementámos o processo de Bolonha e o trabalho importante de reorganização dos nossos cursos tanto para os (à época) novos formatos como enquanto oportunidade para reflectir internamente sobre o nosso posicionamento nos vários domínios científicos.

Como marco registo ainda o impacto da implementação dos mecanismos de certificação e acreditação da oferta formativa e a seriedade com que a ESGT abordou esse trabalho, num registo honesto e consciente das necessidades que estão para além do cumprimento de meros indicadores formais e a oportunidade que se oferece assim à introdução de melhorias contínuas.

Por fim, o crescimento – seja da oferta formativa em tipologia e em domínio científico na medida em que se atenda mais particularmente às necessidades de qualificação da região, seja ainda pelo aumento da dimensão da comunidade académica da ESGT, composta de docentes, estudantes e funcionários. O benefício da escala maior permite também melhores respostas no cumprimento da nossa missão enquanto Instituição de Ensino Superior.

Num futuro imediato, o destaque deve estar na relevância da promoção pelo IPSantarém da Aliança Europeia ACE2EU, aliás num papel de absoluta centralidade enquanto entidade líder do convénio de instituições de ensino europeias com vista ao reforço da cooperação internacional e ao desenvolvimento conjunto das bases de uma verdadeira universidade de matriz europeia.

Num contexto de rápida evolução tecnológica, como é que a escola tem ajustado os seus cursos e programas para acompanhar as necessidades do mercado de trabalho?

Temos sido um parceiro da generalidade dos actores institucionais no desenvolvimento de abordagens integradas em áreas emergentes assim como orientado o conteúdo do trabalho de (I&D) investigação e desenvolvimento para a criação de soluções e a transferência de tecnologia, processo no qual envolvemos estudantes e docentes.

Há hoje um diálogo simples e construtivo que permite identificar processos de formação e de qualificação em áreas determinadas pelas necessidades do ambiente externo. A aposta no digital e na aplicação das tecnologias determina bastante a nossa intervenção. Seja no plano do desenvolvimento de novas ofertas formativas ou da adaptação do existente, seja ainda por participarmos das dinâmicas de desenvolvimento que existem no território e que nos chegam muito facilmente pelos mais relevantes actores institucionais. Acresce que a ESGT trabalha internamente na identificação de necessidades e potencialidades que exijam da nossa parte adaptação dos conteúdos. Nesta matéria devo destacar a consolidação dos processos de avaliação dos nossos cursos que incorporam estudos comparativos com oferta congénere, tanto nacional como europeia, assim como a auscultação em grupos focais de responsáveis empresariais com espaço para discussão, crítica e melhoria das nossas propostas. É um trabalho, por definição sempre inacabado, mas ao qual não deixámos de prestar a devida atenção.

Quais são actualmente as áreas de formação mais procuradas pelos estudantes e como é que a escola está a responder a essa procura?

A ESGTS é a maior escola de gestão e tecnologia do distrito e recebe anualmente cerca de 650 novos estudantes, considerando toda a nossa oferta formativa de cursos TESP, Licenciatura e Mestrado. Gosto de sublinhar isto porque a generalidade das pessoas não tem uma ideia tão concreta da importância do nosso trabalho na região. Acrescentam-se 650 novos estudantes em cada ano lectivo para um total que excede as 1700 pessoas na nossa comunidade académica. Temos uma procura média para cursos de licenciatura de quatro candidatos para cada vaga disponibilizada e situações pontuais de quase seis candidatos por vaga. Em consequência as médias de candidatura dos últimos colocados têm-se elevado e cerca de 80% dos estudantes colocados em cursos de licenciatura estão numa das suas três primeiras opções.

Toda a oferta na área das ciências empresariais tem por isso a atenção dos estudantes e das suas famílias nas decisões de ingresso, assim como os cursos em ciências informáticas com uma procura diferenciada em função de causas específicas. Acresce igualmente que os estudantes sabem do bom desempenho formativo da ESGT, da sólida preparação técnica e científica que adquirem e da muito simples integração no mercado de trabalho após a conclusão dos seus cursos, tudo isto factores que têm contribuído para os níveis elevados de procura que registamos.

Esta circunstância resulta ainda do bom trabalho que a ESGT fez na reestruturação da sua oferta formativa e na revisão ampla dos respectivos planos de estudos de que agora colhemos o benefício da grande procura por parte dos estudantes. E este factor não é apenas positivo para a ESGT e os seus indicadores de desempenho – é sobretudo importante para a boa experiência de ensino superior de que os estudantes beneficiam ao integrarem a nossa comunidade académica.

Que papel têm as parcerias com empresas e outras instituições desempenhado na formação prática dos alunos e na promoção da empregabilidade dos recém-licenciados?

Os níveis de empregabilidade são extraordinariamente altos para a generalidade dos cursos, sendo que em alguns a taxa de desemprego é literalmente zero, circunstância de que muito nos orgulhamos. Para mais, a ESGT estabeleceu parcerias com inúmeras entidades de natureza empresarial sendo que a forma mais recorrente de colaboração é suportada pela realização de estágios de âmbito curricular, mas o âmbito desses acordos coloca ainda outras metas como como a criação de cursos e de academias com conteúdos especializados e a necessidade de certificação de capacidades que estão para além das graduações de âmbito académico, a organização conjunta de eventos de natureza técnico-científica ou a mera partilha de capacidades. A nossa visão nesta matéria é de simplificar e agilizar a forma como o tecido empresarial se coloca perante a academia e fixar com estes parceiros objectivos de interesse comum.

Ainda neste plano realizámos nos últimos 2 anos a feira de emprego “INTEGRA”, uma iniciativa originalmente desenhada por estudantes e docentes, que rapidamente se alargou no seu âmbito dado o sucesso da iniciativa. A última edição INTEGRA 2024, realizada em Março passado, mais do que duplicou a presença de empresas participantes (esgotando o espaço físico disponível) permitindo deste modo o aprofundar de parcerias com vista à atracção e à fixação de talento pela criação de programas próprios destinados aos nossos estudantes.

A inovação e o empreendedorismo são áreas cada vez mais relevantes para os jovens. Que iniciativas tem a escola desenvolvido para incentivar o espírito empreendedor entre os seus estudantes?

Todos os cursos da ESGT têm no seu currículo conteúdos ligados aos processos de inovação em contextos fundamentalmente corporativos e empresariais, assim como se introduziu a capacitação para a dimensão da iniciativa empreendedora junto dos estudantes de todos os domínios e tipologias de curso. Acresce que começamos a ver os frutos desse trabalho na quantidade e qualidade dos projectos de inovação desenvolvidos com os estudantes e candidatos em programas nacionais. A ESGT colocou os dois primeiros lugares do concurso de Ideias DigitUP e o projecto primeiro classificado representou mesmo o IPSantarém na final nacional do concurso Poliempreende, para deixar apenas algumas ilustrações dos resultados desse trabalho. Realizámos igualmente a iniciativa “Empreender 2024” em associação com um conjunto relevante de parceiros tanto da rede IPSantarém Corporate como com outros actores institucionais concretizando diversas actividades no âmbito da empregabilidade e do empreendedorismo.

Quais são as principais competências que, na sua opinião, os estudantes de gestão e tecnologia devem adquirir para enfrentar os desafios do mercado de trabalho actual?

O dinamismo do mercado de trabalho coloca desafios importantes a que temos procurado saber responder. Veja-se o caso das iniciativas recentes de gestão de carreira em linha com trabalho de capacitação dos estudantes nestas matérias, feito para além do currículo do curso de frequentam. O que se procura aqui é a construção de um perfil de saída diferenciado em que o estudante para além do grau académico que procurou, se apresenta perante um potencial empregador com mais ferramentas que o valorizam profissionalmente e que também melhor corresponde à espectativa do tecido empresarial. 

Acresce que a generalidade dos planos de estudos já aborda questões-chave como a capacidade de resolução de problemas – crescentemente desenvolvido pela introdução de práticas pedagógicas assentes em metodologias próprias. A capacitação dos estudantes para cenários de incerteza assume um papel central seja pelos contextos crescentemente voláteis em que operam muitas empresas ou mercados, seja pela adopção de tecnologias inovadoras, disruptoras, factores que se complementam à solidez da preparação de âmbito técnico-científico própria de cada domínio de estudos.

Por fim, sobra ainda espaço para a necessidade de capacitar os estudantes para o trabalho colaborativo, com equipas cada vez mais multidisciplinares e heterogéneas, com a necessidade do reforço das capacidades de comunicação que melhor lhes permita enfrentar com sucesso a transição para o mercado de trabalho. Este é, na essência, o trabalho que temos podido realizar.

A Escola Superior de Gestão e Tecnologia tem vindo a apostar na investigação científica. Pode partilhar alguns exemplos de projectos de investigação relevantes que estejam a ser desenvolvidos?

As actividades de (I&D) Investigação e Desenvolvimento têm já bastante relevo na actividade regular da escola e os últimos anos têm trazido uma maior regularidade na construção de propostas de trabalho de investigação e na sua candidatura para efeitos de avaliação e financiamento. Acresce que a capacidade de I&D da Escola esteve grandemente dispersa, por razões essencialmente de contexto formal.

Assim, a escola executa um projecto com financiamento PRR em agenda mobilizadora, num domínio relacionado com a utilização de sensores para aplicações na indústria extractiva (em sectores tradicionais habitualmente com baixa incorporação de tecnologia) com uma componente de concepção de interfaces e de construção de modelos digitais em ambiente industrial.  Executam-se ainda dois outros projectos com financiamento centrados na sustentabilidade e na economia circular. Por fim, temos recebido inúmeras manifestações de interesse e a formalização inicial de pequenos projectos de investigação aplicada ligados ao uso de inteligência artificial na gestão de infra-estruturas de rede ou em domínios da cibersegurança, para ilustrar os dois últimos compromissos firmados com parceiros internacionais.

Por fim, devo destacar a crescente participação de docentes e de estudantes em projectos de I&D, de todas as tipologias e objectivos o que também merece realce.

Como avalia o papel da escola no desenvolvimento económico e social da região de Santarém? Que iniciativas têm sido promovidas nesse sentido?

A ESGT é um parceiro dos actores institucionais e pretende contribuir para tanto para o desenho da estratégia de especialização a economia como na implementação das medidas que nos correspondam realizar. A diferenciação dos territórios e a competitividade dos diferentes espaços geográficos, económicos e políticos necessitam da boa articulação de todos os parceiros. Por estas razões encontramos nos municípios, nas comissões de coordenação e desenvolvimento regionais e no tecido empresarial regional os interlocutores certos. Desta articulação surgiram já exemplos de nova oferta formativa, da realização de investimentos conjuntos para instalar capacidade formativa, da promoção conjunta de programas de capacitação, para referir alguns exemplos concretos desses resultados.

O tema da sustentabilidade está cada vez mais presente na agenda empresarial. De que forma a escola integra esta temática nos seus programas e actividades?

Enquanto organismo da Administração Pública, a ESGT trabalha esta dimensão com as estruturas do próprio IPSantarém e procura o cumprimento da estratégia comum, com os principais focos na utilização eficiente da energia e na eficiência térmica. Também os investimentos de requalificação de instalações em curso têm permitido progressos nessa matéria.

Por seu turno, enquanto escola de gestão, enquanto escola de ciências empresariais em sentido lato, a generalidade dos nossos curricula reflecte nas respectivas aprendizagens os modelos de gestão centrados nos objectivos de desenvolvimento sustentáveis, na complementaridade e circularidade da economia assim como na conservação de recursos. Também a dimensão ética e a educação para a responsabilidade social das empresas aliado aos factores de inovação permitem completar a multidisciplinaridade da nossa abordagem enquanto entidade do ensino superior.

Quais são os maiores desafios que a instituição enfrenta actualmente, tanto a nível de captação de estudantes como de adaptação às novas exigências do ensino superior?

Há evidentemente limitações e dificuldades a considerar. Diria que o sucesso que temos tido na captação de novos alunos, com crescimentos anuais consecutivos a aproximarem-se dos 10%/ano nos últimos três anos colocou todas as infra-estruturas no limite físico da sua capacidade. A inexistência de espaços físicos tem sido uma limitação que finalmente poderemos mitigar com a conclusão de algumas obras destinadas à criação de um novo polo de oferta pós-graduada e construção de um novo auditório do IPSantarém no campus andaluz.

Outro factor ainda mais determinante é o da absoluta necessidade de atracção e fixação de docentes com um perfil académico e científico diferenciado como se exige para a leccionação dos cursos. Nesse sentido, tanto o recrutamento inicial de docentes, como a progressão na carreira merecem uma prioridade absoluta.

E por fim, o contexto da internacionalização do ensino agora crescente marcado pelo quadro a referida aliança europeia ACE2EU – coloca tanto de desafio como de oportunidade, num quando multilateral de grande exigência para todas as instituições participantes.

Por fim, quais são os objectivos estratégicos para o futuro da Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém? Que projectos estão em curso para garantir o crescimento e a modernização da instituição?

A ESGT procura assegurar o seu potencial na região pela manutenção da relevância da sua oferta formativa e pela introdução de práticas pedagógicas próprias do seculo XXI. A qualidade dos nossos diplomados são na verdade o nosso melhor testemunho e é um valor inalienável para projectar o futuro da Escola. Claro que a conclusão das obras necessárias, pela capacidade que acrescentam, assim como a quantidade e qualidade dos recursos humanos docentes e não docentes são importantes para o trabalho a desenvolver, mas ainda assim instrumentais para a implementação da nossa estratégia de médio prazo.

Que mensagem quer deixar à comunidade académica?

Quero deixar uma mensagem de confiança no futuro junto de todos na comunidade académica considerando que a escola se mostra consciente das oportunidades e dos desafios de contexto. Os 39 anos de aniversário representam uma nova etapa no trajecto de qualificação de mais uma geração dos estudantes que cumprem as suas expectativas académicas e profissionais connosco. O trabalho empenhado e dedicado de todos na comunidade académica constitui a referência fundamental no cumprimento da nossa missão. A face visível do nosso trabalho está pois no sentimento de satisfação dos estudantes em termos que resultem numa inserção profissional facilitada pela qualidade geral do nosso processo de ensino-aprendizagem.

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