A Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém assinala o seu 40.º aniversário num momento de crescimento sustentado, marcado pelo aumento do número de estudantes, pela diversificação da oferta formativa e pelo reforço da ligação ao tecido empresarial. Em entrevista ao Correio do Ribatejo, o director Sérgio Cardoso sublinha a relevância da escola no ensino das ciências empresariais e informáticas, destacando a elevada empregabilidade dos diplomados, o investimento em laboratórios e inovação pedagógica e o papel da investigação aplicada.
A ESGTS celebra mais um aniversário desde a sua criação em 1985. Que balanço faz deste percurso de quase quatro décadas ao serviço do ensino superior politécnico?
Celebramos o 40º aniversário da ESGTS numa situação de que nos podemos verdadeiramente orgulhar. Somos hoje a maior escola superior de gestão e tecnologia da região, com uma oferta formativa robusta e competitiva, orientada para as necessidades da região e no valor percebido pelos nossos parceiros.
O balanço é francamente positivo e assenta naquilo que somos em resultado do nosso trabalho. O benefício da escala a que trabalhamos oferece à comunidade académica bastantes oportunidades de desenvolvimento. A ESGTS suporta a relevância do seu papel na competitividade da sua oferta formativa e na qualidade das suas estruturas e recursos, de onde resulta um dos seus principais resultados: a elevadíssima empregabilidade dos nossos estudantes. Estes resultados são a expressão da qualidade do nosso corpo docente academicamente qualificado, ao qual temos podido acrescentar a visão de especialistas e de profissionais de referência com origem no sector empresarial.
Temos aumentado recorrentemente os números máximos de estudantes e alargámos bastante a nossa oferta formativa, hoje composta de 5 cursos de Mestrado, 6 cursos de Licenciatura e 6 de TESP, com mais do que 45 turmas em actividade envolvendo cerca de 1750 pessoas (entre estudantes, docentes e outros colaboradores). Alargámos ainda a nossa presença no território com cursos que realizamos fora das nossas instalações em Santarém, num processo de deslocalização da nossa oferta de cursos de TESP.
A escola consolidou a sua identidade nas áreas da gestão e da tecnologia. Quais têm sido as linhas estratégicas que orientam o desenvolvimento da ESGTS e a sua afirmação na região e no País?
A centralidade no ensino das ciências empresariais e das ciências informáticas corresponde de maneira exacta à nossa identidade. Ambas as ciências entendidas como um conjunto de dimensões que vão deste o marketing às finanças, desde a contabilidade, à gestão ou à internacionalização dos negócios apenas para ilustrar parte do nosso trabalho. Com o passar do tempo, trabalhámos com dois propósitos: (1) o de verticalizar a nossa oferta por dimensões do saber, posicionando toda a nossa oferta nesse alinhamento. E (2) introduzir conhecimentos de maior contemporaneidade que permitam afirmar a certeza que os nossos estudantes fazem uma transição para o mercado de trabalho sem dificuldade porque o seu perfil de competências é muito competitivo. A par com a graduação académica, os nossos estudantes têm oportunidade de construir um perfil muito diferenciado na medida em que aproveitem as oportunidades disponíveis, seja na escala internacional visto que lideramos um convénio de universidades europeias ACE2EU, seja pela relação próxima com empresas líder nos seus domínios e na capacidade dos nossos estudantes para a resolução de problemas concretos – apenas para dar dois exemplos dessas potencialidades.
Um traço comum transversal a esta abordagem pode ser ilustrado com a recente aposta na área da distribuição e logística como dimensão do saber que não podia ficar por representar na nossa oferta – São hoje cerca de 70 estudantes em três turmas. De salientar que este tipo de resposta só é possível porque identificámos no terreno parceiros institucionais e empresas líderes no seu sector.
A proximidade entre docentes, estudantes e empresas é frequentemente apontada como uma marca da instituição. Que iniciativas destacaria na ligação ao tecido empresarial e na empregabilidade dos diplomados?
Essa marca que efectivamente nos caracteriza assenta num diálogo cada vez mais simplificado com as empresas organizado em torno das necessidades de recrutamento destas e da realização de estágios curriculares. Isto é a sua expressão mais imediata, contudo a realização de outras actividades desempenha um papel igualmente importante. Nesta matéria destaco a realização das feiras de emprego que entre sucessivas edições mais do que duplicam o número de empresas participantes, a introdução com sucesso de programas de gestão de carreira para os estudantes ou o fomento de uma capacidade empreendedora junto da nossa comunidade académica, também com resultados importantes em diversas competições nacionais e internacionais.
Os elevados níveis de empregabilidade dos nossos estudantes e o crescente envolvimento noutras actividades da nossa missão mais relacionada com o desenvolvimento de iniciativas conjuntas em actividades de investigação e desenvolvimento são também um testemunho vivo de 4 décadas de trabalho.
Nos últimos anos assistiu-se a uma diversificação da oferta formativa, incluindo mestrados e TeSP. Que critérios orientam a criação de novos cursos e como é que a ESGTS procura responder às necessidades emergentes do mercado de trabalho?
Na verdade, a principal determinante para a criação e reformulação de oferta formativa é aquilo que a região coloca como necessidade de formação superior para a criação de valor no território. Deste trabalho resulta o permanente contacto e articulação com diversas entidades com as quais há a certeza de podermos fazer bom trabalho.
Este enunciado aparentemente simples encerra algumas dimensões de complexidade com que a escola tem sabido lidar. O desenho de oferta formativa, para além dos critérios de relevância, faz-se ainda por critérios científicos, preferencialmente em alinhamento com padrões internacionais fundamentalmente europeus. Este trabalho exige de nós uma ponderação séria quanto aos recursos humanos e materiais que estão já à nossa disposição ou que podem ser mobilizados para determinada oferta formativa ter condições de sucesso.
Por fim, mas não menos importante, a abordagem pedagógica inovadora, que não significa apenas a introdução de ferramentas digitais, tem também contribuído para nossa resposta, traduzida na revisão das modalidades de ensino, nos modelos e ferramentas de avaliação ou de forma mais determinante na adopção de práticas de ensino-aprendizagem mais centradas no estudante e no desenvolvimento das suas competências.
A digitalização e a inovação tecnológica são hoje desafios centrais no ensino superior. Que projectos ou investimentos estão em curso para modernizar infra-estruturas, laboratórios ou práticas pedagógicas?
A ESGTS está a desenvolver um projecto de requalificação e ampliação das suas instalações, fundamentalmente assente na criação de um polo de graduações e na introdução de equipamentos destinados à inovação pedagógica em linha com o que anteriormente descrevi. Ainda merecem referência espaços como o laboratório de simulação empresarial e o laboratório de IoT que tendo já iniciado a suas actividades serão reforçados com mais investimento.
Para além destes investimentos mais substanciais, foi ainda desenvolvido um espaço de co-criação, em parceria com uma entidade privada, destinado a servir de interface entre a academia e as necessidades das empresas nos domínios da inovação. Aqui posso por fim dizer que não encontra nenhum director de escola ou faculdade que se considere plenamente satisfeito, sempre em razão de alguma demora no acesso ao financiamento competitivo que se disponibiliza no critério de entidades terceiras ou mesmo a pura e simples indisponibilidade das empresas, sobretudo de construção, em se apresentarem com as suas propostas.
O Instituto Politécnico de Santarém tem reforçado a sua presença na investigação aplicada. Qual é o contributo específico da ESGTS nesta área e que projectos destacaria?
A ESGTS, fruto da capacitação que faz em torno das necessidades dos ciclos de estudos, tem desenvolvido áreas do saber que resultam justamente das prioridades da investigação. Diria que a sustentabilidade e a transformação digital dos negócios, a utilização de dados na tomada de decisão, assim como nas tecnologias digitais a introdução de sensores IoT em contextos sobretudo industriais. Também as incontornáveis utilizações de Inteligência Artificial com diversas finalidades resumem o essencial da actividade que está em desenvolvimento no momento presente.
A escola executa um projecto com financiamento PRR, num domínio relacionado com a utilização de sensores para aplicações na indústria extractiva (em sectores tradicionais habitualmente com baixa incorporação de tecnologia). Terminaram agora a execução dois outros projectos na sustentabilidade e na economia circular. Mesmo esta semana, formalizamos a nossa participação em novo projecto internacional ligado ao ensino das ciências empresariais com AI.
Apenas para ilustrar esta dinâmica, partilho o conteúdo das últimas reuniões com empresas: a aplicação de Inteligência Artificial para optimização de decisões de planeamento da produção numa empresa multinacional, ou a criação de um demonstrador da tecnologia que desenvolvemos assente no processamento de imagem em tempo real para determinar o grau de atenção de operadores humanos em funções críticas.
Numa nota final, a ESGTS tem hoje um conjunto muito interessante de docentes capazes de assegurar os mais elevados níveis de responsabilidade em projectos de investigação, circunstância que só nos pode orgulhar.
A atracção e retenção de estudantes continua a ser um desafio para o ensino superior fora dos grandes centros urbanos. Que estratégias tem a escola seguido para se afirmar como primeira escolha de candidatos nacionais e internacionais?
Esta é uma área de grande sensibilidade, na medida em que as alterações nos modelos de acesso ao ensino superior têm seguramente impacto em todo o sistema. Apenas para ilustrar o argumento, devo dizer que no concurso nacional de acesso do presente ano faltaram ao número esperado cerca de 6000 candidatos em consequência precisamente das ditas alterações.
Também, na mesma medida, algum impacto foi sentido nesse indicador de procura e acesso aos nossos cursos de licenciatura, contudo a generalidade dos cursos completou as turmas com os candidatos dos sucessivos contingentes pelo que o nosso projecto educativo continua a merecer a confiança das famílias e a escolha dos jovens. Estamos certos de que a solidez do nosso projecto é a chave para a atracção de novos estudantes.
Na ESGTS não somos de nos queixarmos do contexto. Apenas pedimos melhor clareza de intenções e uniformidade (na verdade coerência) às estruturas perante as quais temos obrigações de articular. O resto resolvemos aqui com o melhor das nossas capacidades e saber colectivo.
Neste aniversário, que prioridades assume para o próximo ciclo? Quais são os principais desafios e ambições da ESGTS para os próximos anos?
A ESGTS precisa imperativamente de se dotar de todos os meios, fundamentalmente materiais e humanos, de que necessita para realizar o seu potencial de desenvolvimento. Outro assunto de importância capital é o desenvolvimento dos processos de transferência de conhecimento e incorporar aí o melhor dos nossos resultados de investigação e desenvolvimento. Neste campo em particular sabemos ter a atenção do IPSantarém e estratégia a seguir está perfeitamente definida.
Quanto aos desafios importa referir a necessidade de melhor clarificação do contexto legislativo que se nos oferece na sequência da revisão de quase todos os textos legislativos determinantes no ensino superior. No mesmo plano deve ainda colocar-se como desafio a clarificação da estratégia que a tutela desenvolve relativamente à articulação entre as sucessivas instituições de ensino e as necessidades do território que como se sabe desempenham funções importantes na coesão territorial e que por isso têm que ser acompanhados dos meios financeiros em linha com a consistência do nosso trabalho.
Quero por fim deixar uma mensagem de confiança no futuro junto de todos na comunidade académica. A ESGTS está preparada para cada desafio e responderá à altura das suas responsabilidades com o trabalho sério e empenhado de todos, fiel ao cumprimento da sua missão.
Filipe Mendes
