Mais de 150 obras de arte, artefactos religiosos e documentos diversos integram uma exposição comemorativa do centenário da escultura original da Senhora de Fátima, no concelho de Ourém, que abriu ao público este sábado.
A primeira imagem de Nossa Senhora do Rosário está na Capelinha das Aparições, desde 13 de Junho de 1920, e foi esculpida por José Ferreira Thedim (1892-1971), um santeiro de Braga que realizou o trabalho de acordo com as descrições de Lúcia dos Santos, uma das videntes dos fenómenos sobrenaturais da Cova da Iria, em 1917.
“O Santuário assume esta linguagem da cultura dos museus, acessível a todos, como uma das formas de comunicar com os peregrinos”, disse à agência Lusa o director do Museu de Fátima, Marco Daniel Duarte.
Na sua opinião, “esta via da beleza é um lugar de transmissão daquilo que são os conteúdos da mensagem e da história da Fátima”, cujo santuário, no concelho de Ourém, “não podia passar à margem desta efeméride”.
Intitulada “Vestida de branco – a imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima”, a exposição abre ao público no sábado e pode ser visitada todos os dias, das 09:00 às 18:00, no Convivium de Santo Agostinho, na Basílica da Santíssima Trindade, até 15 de Outubro de 2020.
Com esta iniciativa, a organização quer também proporcionar “uma reflexão sobre as representações marianas mais importantes” de Portugal e “mostrar aquilo que de melhor se fez ao longo dos séculos” neste domínio, segundo Marco Daniel Duarte.
“Esta é uma galeria onde os visitantes olham para a imagem de Maria como foi trabalhada, em cada época, e assumida como a toda bela”, com uma vida “inscrita e compaginada com a do seu filho”, Jesus Cristo, disse.
Ao longo dos séculos, a Igreja Católica “chamou artistas contemporâneos para continuarem a representar os dogmas marianos e a simbologia da Virgem Maria”.
“A Igreja sempre entendeu que para representar os mistérios mais importantes se devia chamar os melhores artistas”, acentuou o também comissário da exposição e director do Departamento de Estudos do Santuário de Fátima.
Em 1919, dois anos após os acontecimentos de Fátima, um católico de Torres Novas, Gilberto Fernandes dos Santos, encomendou uma escultura da Virgem de Fátima à Casa Fânzeres, de Braga, a qual foi colocada no pequeno templo da Cova da Iria, onde havia apenas um crucifixo.
A primeira estátua da Senhora de Fátima, com 110 centímetros de altura, foi esculpida em madeira de cedro.
A exposição ajuda os interessados a perceber “como é que essa escultura deu origem a subtipos iconográficos”, em Portugal e noutros países.
“Por todo o globo se encontram representações da Virgem de Fátima, em escultura ou em pintura. Ao ponto de em cada casa dos fiéis existir sempre uma imagem de Nossa Senhora do Rosário, em materiais menos nobres, como o plástico e a baquelite, ou mais preciosos, como a prata, o ouro, a pedra e a porcelana”, salientou à Lusa Marco Daniel Duarte.
“No século XX, sentiu-se muito o mundo em tensão” e a junção de pombas brancas à iconografia de Fátima, a partir da II Guerra Mundial (1939-1945), é “um sinal muito claro de que a paz era possível”, referiu.
Uma das características que os fiéis reconhecem à Virgem de Fátima “é ela ser a rainha da paz”, de acordo com o historiador.
Na tarde do dia 13 de Junho de 2020, a imagem criada por José Ferreira Thedim ficará também exposta, mas apenas por algumas horas, no Convivium de Santo Agostinho, para assinalar o momento em que, 100 anos antes, foi colocada na capela da Cova da Iria.