O Centro Cívico de São João da Ribeira recebeu na quarta-feira, 27 de Fevereiro, a inauguração da Exposição “Ruy Belo – Palavras Pintadas” da autoria de Firmino Rodrigues, data em que se assinalam os 86 anos do seu nascimento. A exposição retrata a personalidade mais marcante da freguesia e recorda um homem de relevo no panorama nacional e do concelho de Rio Maior.
Segundo o autor Firmino Rodrigues, também ele natural da freguesia, esta é uma exposição em que as pinturas são o menos importante porque o objectivo principal é obrigar os visitantes a ler Ruy Belo. “A exposição retrata estados de alma, pensamentos e palavras pintadas. No fundo enquadrando pensamentos e estados de alma do Ruy Belo com a minha pintura o que acaba por ser também elas estados de alma.”, refere o pintor.
Para Firmino Rodrigues não há dificuldade em pintar sobre os poemas de Ruy Belo, bastando para isso apenas perceber o que ele transmitia nos seus poemas.
“Não é dificil, basta conseguir apanhar essa emoção que ele transmitia nas palavras. Logo se entendermos o Ruy Belo, ao pintar essas palavras encaminham-nos na pintura e foi isso que aconteceu”, concluiu o artista.
Isaura Morais, presidente da Câmara Municipal de Rio Maior, realça a importância do Poeta no concelho mas lamenta a falta de notoriedade de Ruy Belo.
“É um poeta com grande relevância mas com pouca notoriedade, nomeadamente no nosso concelho, e é isso que queremos contrariar e trabalhar para que as crianças e os mais jovens possam conhecer e saber quem foi o poeta Ruy Belo porque só conhecendo é que conseguimos valorizar e divulgar a sua obra.” argumenta a autarca.
A autarca referiu ainda a intenção de reabilitar a casa onde morou Ruy Belo, que será de certa forma um local para estudar o autor estando o projecto em fase final.
“Num protocolo com a junta de freguesia, queremos reabilitar a casa para ser não só visitável mas também habitável. Vamos criar dois quartos para quem queira trabalhar Ruy Belo e pernoitar cá, o possa fazer. O projecto está praticamente na fase final, faltando algumas especialidades, envolve valores a rondar os 380 mil euros e onde estamos a tentar conseguir fundos comunitários para conseguir reabilitar o imóvel. Após o investimento, a fase seguinte é saber como o vamos gerir e para isso conta com a junta de freguesia.” concluiu a Presidente da Câmara.
Há algum tempo foi falado que o espólio de Ruy Bello iria para Óbidos mas Leandro Jorge, presidente da junta de São João da Ribeira, garante que isso não vai acontecer porque tanto o Município como a junta de Freguesia estão empenhados em manter o material do poeta na freguesia. “Falamos com a família de Ruy Belo no sentido de trazer o espólio ou parte dele para a freguesia. Em relação à casa, ela é propriedade da Junta de Freguesia (…) e queremos a breve prazo que seja requalificada. É uma casa que está a precisar de obras nomeadamente no telhado, para que não percamos esse espólio. Há um projecto para requalificar e abrir a casa à sociedade e aos amantes de poesia, que é essa nossa grande intenção (…) no sentido de sentirem inspirados na obra de Ruy Belo para eles também progredirem na sua vida e obra.” explica o presidente da Junta de Freguesia.
Ruy Belo nasceu em S. João da Ribeira, concelho de Rio Maior, em 1933. Foi aluno do liceu de Santarém e cursou Direito, primeiro na Universidade de Coimbra, depois na Universidade de Lisboa, onde se diplomou em 1956. De partida para Roma, doutorou-se em Direito Canónico na Universidade de S. Tomás de Aquino. Em Lisboa, viria a frequentar também a Faculdade de Letras, terminando em 1967 a licenciatura em Filologia Românica. Além de actividade no domínio editorial, Ruy Belo foi também professor. Leitor na Universidade de Madrid desde 1971, regressou ao país em 1977, vindo a falecer de modo súbito no ano seguinte.
Apesar do curto período de actividade literária, Ruy Belo tornou-se um dos maiores poetas portugueses da segunda metade do século XX, tendo as suas obras sido reeditadas diversas vezes.
Os seus primeiros livros de poesia foram Aquele Grande Rio Eufrates de 1961 e O Problema da Habitação de 1962. Às colectâneas de ensaiosPoesia Nova de 1961 e Na Senda da Poesia de 1969, seguiram-se obras cuja temática se prende ao religioso e ao metafísico, sob a forma de interrogações acerca da existência. É o caso de Boca Bilingue de 1966, Homem de Palavra(s) de 1969, País Possível de 1973, antologia), Transporte no Tempo de 1973, A Margem da Alegria de 1974, Toda a Terra de 1976, Despeço-me da Terra da Alegria de 1977 e Homem de Palavra(s), 2ª edição de 1978. O versilibrismo dos seus poemas conjuga-se com um domínio das técnicas poéticas tradicionais. Destacou-se ainda pela tradução de autores como Antoine de Saint-Exupéry, Blaise Cendrars, Raymond Aron, Montesquieu, Jorge Luís Borgese Federico García Lorca. De Antoine de Saint-Exupéry traduz: Piloto de Guerra e Cidadela e Cidadela; Blaise Cendrars traduz: Moravagine; Jorge Luís Borges traduz:Os Poemas Escolhidos e de Dona Rosinha a Solteira ou a Linguagem das Flores.
A sua obra, organizada em três volumes sob o título Obra Poética de Ruy Belo, em 1981, foi, entretanto, alvo de revisitação crítica, sendo considerada uma das obras cimeiras, apesar da brevidade da vida do poeta, da poesia portuguesa contemporânea.
Em 1991 foi condecorado, a título póstumo, com o grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada.