José Samuel Lúpi foi um dos nomes mais importantes do toureio equestre mundial da segunda metade do século XX, ficando-se-lhe a dever a promoção do toureio marialva em Espanha, o que teve um papel decisivo na evolução do “rejoneio”, que então tinha uma expressão artística de menor valia.

Nascido em Lisboa a 5 de Maio de 1931, José Samuel Pereira Lúpi cresceu pelos campos da Herdade de Rio Frio, propriedade da sua família, criadores de toiros bravos e de cavalos, tendo começado a montar desde muito novo e evoluindo mais tarde para o toureio a cavalo.

Além do prestigiado e sempre lembrado João Branco Núncio, foi também seu mestre D. Francisco Mascarenhas, dois cavaleiros de elevada valia técnica e artística que muito influenciaram o conceito e o estilo de toureio de Lúpi. Com apenas dezassete anos de idade, José Samuel Lúpi apresentou-se em público pela primeira vez na praça de toiros “Palha Blanco”, em Vila Franca de Xira, prosseguindo uma agradável trajectória como cavaleiro amador

e até como forcado dos Amadores de Santarém, servindo às ordens do saudoso Cabo Ricardo Rhodes Sérgio.

Completada a sua licenciatura em engenharia silvícola, no ano de 1954, José Samuel Lúpi viria a tomar a alternativa de cavaleiro tauromáquico na Praça do Campo Pequeno, a 16 de Junho de 1963, tendo como padrinho Mestre João Branco Núncio e com o “testigo” de Manuel Conde, lidando o “Verdugo”, toiro da ganadaria de D. Mariana Passanha, o qual foi pegado pelo Grupo de Forcados Amadores de Santarém. A 12 de Abril de 1964 apresentou- se na Monumental de “Las Ventas”, em Madrid, onde haveria de triunfar em tantas ocasiões.

O seu êxito foi tão grande e a expressão técnica do seu toureio foi de tal modo reconhecida que, em 1970, se formou o “Quarteto da Apoteose” – “Los Cuatro Jinetes de la Apoteosis” – que, para além de Lúpi integrava os rejoneadores D. Álvaro Domecq Romero e os irmãos Ángel e Rafael Peralta. O toureio equestre evoluiu de tal sorte em Espanha que as principais feiras taurinas passaram a incluir nos seus cartéis uma ou duas corridas “de arte del rejoneo”, quando até então, apenas, actuava um rejoneador numa ou noutra corrida, alternando com três matadores.

O rejoneio deixou de ser apenas a transposição da lide “campera” para a praça, com a maioria das sortes consumadas à garupa ou à meia-volta, para evoluir no sentido do toureio marialva, citando-se os toiros de frente, dando-lhes a primazia na investida e colocando a ferragem em sortes frontais.

Na época de 1971 José Samuel Lúpi actuou em 108 corridas de toiros em Espanha, tendo logrado o corte de 302 orelhas e de 73 rabos, números verdadeiramente impressionantes. Ao longo da sua notável carreira profissional, José Samuel Lúpi apresentou-se em arenas de Portugal, Espanha, França, Bélgica, México e Venezuela, e como criador de cavalos e ganadeiro de toiros bravos ocupou um lugar de relevo, com os seus dois ferros de “Rio Frio” e de “José Lúpi”.

A sua memorável carreira artística fica para sempre ligada ao extraordinário cavalo “Sueste”, de ferro Atalaya, um cavalo que é um verdadeiro mito na história do toureio equestre. A partir dos finais da década de 1970 José Samuel Lúpi foi reduzindo o número de actuações, tendo reaparecido a 8 de Maio de 2008 à arena do Campo Pequeno para conceder a alternativa ao seu filho Manuel Lúpi.

A morte do Eng.º José Samuel Lúpi, ocorrida no passado dia 8 de Março, foi muito sentida entre os aficionados portugueses e espanhóis e as Associações expressaram também o seu sentimento pela perda de tão encantadora personalidade. Nuno Pardal, presidente da Associação Nacional de Toureiros, referiu que “José Samuel Lupi foi uma grande figura da Tauromaquia, com uma personalidade extremamente calorosa, uma personalidade artística vibrante e a humildade dos grandes Mestres”, e por sua vez, o Dr. João Santos Andrade, presidente da PróToiro, destacou “Samuel Lupi [como] uma referência internacional da cultura portuguesa, que projectou a nossa tauromaquia pelos vários países onde exibiu a sua classe e arte tão portuguesas.”

Fernando Pinto, presidente da Câmara Municipal de Alcochete, escreveu na sua

página do Facebook “Hoje perdi um Amigo. Alcochete ficou mais pobre, partiu um homem bom a quem a nossa terra muito deve. A história não se esquece. Foi, é e sempre será uma referência maior da nossa comunidade, do País e além-fronteiras. Fica o seu legado.”

À ilustre Família enlutada apresentamos a expressão das nossas sentidas condolências. Que descanse em Paz!

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