Dois anos depois o Festival Celestino Graça está de volta…

Sim, é verdade. Vivemos tempos de muita apreensão devido à pandemia. O movimento folclórico, como todos os restantes sectores culturais, esteve praticamente parado a nível mundial e foi muito difícil para nós cancelarmos o Festival em 2020 e nem sequer equacionarmos a sua realização no ano passado. Felizmente, a situação pandémica melhorou, através do intensivo processo de vacinação, e cá estamos nós com muita expectativa para a retoma de um certame que já se realiza desde o ano de 1959…

E quase de forma ininterrupta…

Assim é, de facto. Desde a sua primeira edição, o Festival apenas não se realizou em quatro anos – 1976, 1994 e agora em 2020 e 2021. Sempre por razões ponderosas, superando muitas vezes grandes dificuldades, mas felizmente o público ribatejano pôde desfrutar deste grande evento de projecção internacional.

O Festival Internacional de Folclore de Santarém, como então era designado, teve de se reformular algumas vezes…

Sim, nos primeiros anos o Festival decorria no âmbito da Feira do Ribatejo – onde nasceu pela mão de Celestino Graça e com o grande apoio de João Moreira – e manteve durante algumas décadas o figurino inicial. A partir de 1995, quando passou a ser organizado pelo Grupo Académico de Danças Ribatejanas, e fora do âmbito da Feira, tivemos necessidade de nos adaptarmos às difíceis conjunturas, numa estratégia assumida de valorização, mas, igualmente, de sobrevivência. Um certame desta grandeza custa muito dinheiro e nem sempre é fácil congregarmos os apoios financeiros e logísticos necessários, pelo que sentimos a necessidade de nos reinventarmos de vez em quando.

A última alteração foi o regresso ao Campo Infante da Câmara…

Sem dúvida. Por um lado, os valores pagos ao CNEMA pela cedência do Grande Auditório eram incomportáveis, e por outro lado quisemos alterar o formato e até a filosofia do próprio Festival. Assim, sob a designação de Festival Celestino Graça criámos um subtítulo – A Festa das Artes e das Tradições Populares do Mundo – que nos permite aproveitar a potencialidade da Casa do Campino e oferecer a Santarém e ao Ribatejo uma programação artística e cultural mais vasta e muito mais diversificada.

O Festival Internacional de Folclore continua a ser a âncora do evento, mas agora muito valorizado com a exposição de artesanato, com a Gala do Fado, com espectáculos de música popular, com o Salão de Fotografia, com a gastronomia, com a Mostra de Fandangos, com os jogos tradicionais, com conferências e com exposições e, essencialmente, com um desejado espírito de

Festa, onde possam conviver os apaixonados pelo folclore, mas outrossim, os apreciadores de outras vertentes da cultura popular e tradicional.

Esta evolução não foi arriscada?

Pode ser encarada como tal, porém estávamos entre a espada e a parede – ou ousávamos a inovação do Festival e teríamos alguma possibilidade de ele poder continuar, ou soçobrávamos porque não conseguíamos fazer face aos respectivos encargos de organização.

Neste cenário, ponderámos muito e decidimos experimentar uma mudança de filosofia. Hoje já é muito redutor falar-se apenas do Festival Internacional de Folclore, porque a programação geral do Festival Celestino Graça – A Festa das Artes e das Tradições Populares do Mundo vai muito para além do conceito inicial. Arriscámos também com o início da cobrança de ingressos, porque teríamos de incrementar as receitas próprias,

uma vez que o financiamento municipal é de cerca de 50% do volume das despesas, e o Grupo Académico tem de arranjar o restante. Que não é coisa pouca.

E, como se tem comprovado, valeu a pena correr esse risco…

Sim, valeu. O nosso público manteve a fidelidade de sempre e não faltou aos espectáculos mesmo quando teve de pagar um bilhete. Bem sabemos que o preço do bilhete é pouco mais do que simbólico, mas, no fim das contas, pouco é pouco e nada é nada. A resposta do público do Festival incentivou-nos a prosseguir este projecto, que queremos valorizar de edição para edição. Queremos dar passos curtos, mas seguros.

Não somos aventureiros, mas somos ousados, e não temos medo de arriscar, no entanto, não dando o passo mais largo do que a perna.

Não receiam alguma indiferença do público após dois anos de suspensão do Festival?

Tudo é possível, mas, apesar de tudo, estamos confiantes em que a População de Santarém dirá uma vez mais presente, esgotando a lotação da Casa do Campino em todos os espectáculos. A lotação é limitada, mas ainda assim sempre são 500 lugares. Este ano estamos a dar mais um passo em frente, instalando bancadas para acomodar mais confortavelmente o nosso público, o que permitirá usufruir dos espectáculos em melhores condições, e esperamos que esta nossa preocupação possa ter reflexo na afluência do público ribatejano aos quatro espectáculos.

A questão da pandemia, aliada à crise internacional decorrente da guerra na Ucrânia, com os tremendos efeitos colaterais, também há-de ter tido reflexo na organização do Festival?

Sim, e de que maneira. Por um lado, a pandemia da Covid-19 ainda não está debelada em todo o lado, pelo que existem países muito condicionados à movimentação de pessoas, e por outro lado a incerteza da evolução da guerra na Ucrânia tem um impacto excepcional, sobretudo ao nível da participação de grupos folclóricos do leste europeu. Acresce que o aumento do custo dos combustíveis quase proibiu a vinda de muitos grupos estrangeiros.

Uma viagem de um grupo que em 2019 podia custar 5.000 euros agora custa o dobro ou mais. Tivemos dois grupos da Colômbia que após terem confirmado a sua participação, desistiram porque não arranjaram dinheiro para pagar as suas viagens. Alguns grupos também viram os seus vistos recusados, porque o Acordo de Schengen é muito restritivo. Ainda há pouco mais de uma semana, um grupo do Sri Lanka só tinha conseguido vistos para duas pessoas.

Estamos muito sujeitos a este tipo de circunstâncias, que às vezes até são aberrantes.

Mas sempre estiveram condicionados por estas questões…

Sempre foi difícil trazer grupos de alguns países, nomeadamente do leste europeu, deÁfrica e do Oriente, porque há um grande aproveitamento de especuladores que fomentam a emigração ilegal. No entanto, nós vemos a quantidade de emigrantes desses países que estão no nosso país, e até na nossa região. Estes vieram e, em princípio, estarão legalizados,mas se fossem membrosde uma associação culturaljá teriam mais dificuldade emobter os vistos. Isto é que nãocompreendemos muito bem.

Para mais o nosso Festival pratica o lema de que não discriminamos ninguém por razões étnicas, religiosas, políticas ou económicas, mas depois somos confrontados com esta triste realidade.

Ainda assim nesta edição do Festival anunciam grupos de seis países…

Sim, temos grupos de Albânia – uma surpresa! – do Brasil, de Espanha, da Índia, do México e da Polónia, os quais se juntarão aos seis grupos folclóricos portugueses que encherão de alegria, de cor e de espírito festivo o palco da Casa do Campino. Mas, teremos também outros motivos de interesse, como é o caso da Grande Gala do Fado no Ribatejo, na qual irão actuar os conceituados fadistas Célia Leiria, João Chora e Eduardo Almeida, que decerto vão agradar muito ao nosso público.

E mantêm as diversas actividades culturais previstas…

Sim, é verdade. Levamos a efeito a Gala Solidária “Abraçar Gerações”, dedicada às crianças e aos nossos concidadãos séniores através dos ATL e dos Centros de Dia, temos o Salão de Fotografia, este ano dedicado ao nosso saudoso Amigo Joaquim Baeta da Graça, uma mostra de fandangos, a animação com jogos tradicionais, uma exposição- venda de artesanato e uma área de petiscos, para honrar a tradicional gastronomia ribatejana…

E para além dos espectáculos que estão anunciados para os dias 8 a 11 de Setembro, a partir das 22 horas, há outros espectáculos?

Todos os dias há outros espectáculos. Por exemplo, na quinta-feira, dia 8, às 21 horas, teremos a actuação de Miguel Ouro e dos seus Amigos, que apresentarão o espectáculo “Isto é Azambuja”, nos dias 9 e 10, também às 21 horas, teremos duas secções artísticas da APPACDM, na sexta-feira, o Grupo de Dança “Roda Viva” e no sábado o Grupo Coral “Ao meu Ritmo”. Isto porque temos também uma preocupação social, e envolvemo-nos com o projecto desta extraordinária IPSS. No domingo, antes da Gala de Encerramento do Festival, teremos a animação a cargo da Charanga “Os Batatas”, que em 2019 alcançou um sucesso fantástico.

E a Cidade está animada para receber o Festival?

Tudo fazemos para que tal suceda. De tal modo que estabelecemos uma parceria com a Associação Comercial e Empresarial de Santarém para organizar um Concurso de Montras, que tem uma dúzia de inscrições. Estamos felizes por isso. Para o próximo ano talvez consigamos envolver mais comerciantes. Mas as gentes da nossa Cidade apreciam muito o nosso Festival, e por isso lhes estamos gratos.

Fica um convite para a população ribatejana…

Naturalmente. O nosso esforço organizativo e financeiro só faz sentido se tivermos uma grande afluência de público, por isso lá esperamos por todos nos dias 8 a 11 de Setembro, na Casa do Campino, e nas ruas da nossa Cidade e no W. Shopping em todos os dias. Sejam muito bem-vindos e desfrutem de espectáculos de grande qualidade. E, já agora,  um grande agradecimento para todos os que nos ajudam a concretizar este grande evento sócio-cultural que leva o nome de Santarém aos quatro cantos do mundo.

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