A cidade de Santarém vive com enorme expectativa mais uma edição do Festival Celestino Graça – A Festa das Artes e das Tradições Populares do Mundo, que teve o seu início na passada segunda-feira, dia 1 de Setembro, e se prolonga até este domingo, dia 7 de Setembro.
Nesta semana vivem-se com intensidade os sentimentos de respeito e de consagração da diversidade cultural, posto que um dos lemas instituídos por Celestino Graça, sempre lembrado fundador deste Festival no já longínquo ano de 1959, é que no mundo somos todos diferentes mas todos iguais. E esse é o princípio em que ainda hoje se fundamenta cada edição deste tão popular certame.
Na edição da passada semana do “Correio do Ribatejo” publicámos um suplemento onde se detalha exaustivamente a programação do Festival e a divulgação dos seus protagonistas, especialmente os grupos folclóricos e os artistas que recheiam cada um dos grandiosos espectáculos, desde o fado ao folclore, mas não esquecendo a pintura, o artesanato, a gastronomia, os instrumentos musicais tradicionais, o fandango, os jogos tradicionais e a animação. Muita animação!
Lembramos os nossos Leitores menos atentos a estas coisas que a Casa do Campino está aberta todos os dias durante a tarde e a noite, proporcionando aos visitantes / espectadores uma diversidade de motivos de interesse, sejam os petiscos para degustar, podendo aí fazer as suas refeições, seja para assistir aos diversos espectáculos e visitar a exposição de pintura.
Em consequência da conflitualidade que grassa um pouco por todo o lado, com natural reflexo na ausência de paz em muitos cantos do mundo, na forte imigração, muitas vezes ilegal, o que impõe intransponíveis constrangimentos em muitas das secções consulares portuguesas no estrangeiro, e nas fragilidades económicas e sociais, alguns grupos folclóricos que desde cedo confirmaram a sua participação no Festival Celestino Graça, acabaram por, quase em cima da hora, cancelar a sua presença.
Uns, como os casos do Burundi ou do Quénia, por não terem conseguido obter vistos para entrar em Portugal, outros, como o Kosovo e a Colômbia, por não terem conseguido apoios financeiros para fazer face às despesas da sua viagem até Portugal.
Felizmente, o Festival Celestino Graça goza de muito respeito e apreço no mundo inteiro e através do CIOFF e por conhecimento pessoal, foi possível suprir essas lamentáveis ausências, tendo registado mesmo em última hora a disponibilidade de participação de um Grupo da Sérvia e outro de Espanha, a quem a Organização do Festival fica eternamente reconhecida.
Assim, o Festival Celestino Graça conta este ano com a representação de seis países estrangeiros, contando, inevitavelmente, com alguns grupos constituídos por imigrantes que estando já integrados profissional e socialmente no nosso país, continuam a defender e a divulgar as raízes culturais das respectivas comunidades. Como o fazem tão bem os nossos concidadãos emigrados nos diversos países onde estão radicados. O
Folclore também se constitui, nesta medida, num instrumento de integração de quem vem de fora procurar melhor futuro em Portugal.
São os casos do Brasil e de Cabo Verde, que já em edições anteriores actuaram no Festival Celestino Graça, e do Equador, que há muitos anos não participava no Festival de Santarém. Assim, uma vez mais parafraseando Celestino Graça, o Folclore constitui-se como um meio de integração e de harmonia entre todos os povos do mundo.
A estas três representações estrangeiras juntam-se os Grupos da Eslováquia, de Espanha, dos Estados Unidos da América e da Sérvia, todos partilhando os palcos escalabitanos com oito grupos folclóricos portugueses, em representação do Alto Minho, do Baixo Minho, do Douro Litoral, da Beira Litoral – Região do Mondego, e do nosso Ribatejo.
Os dados estão lançados para mais um grande sucesso desta Festa das Artes e das Tradições Populares do Mundo.
Desfrute os espectáculos que integram tão aliciante programa!
Ludgero Mendes
A Fundação INATEL apoia o Festival Celestino Graça
Desde há alguns anos que o Festival Celestino Graça e a Fundação INATEL registam uma interessante cooperação, sendo que através da criação da Associação CIOFF Portugal, que durante muitos anos foi presidida pela Fundação, estes laços se estreitaram e hoje são fundamentais para o cumprimento dos objectivos culturais de ambas as instituições.
Testemunho desta evidência é o texto de saudação que a Fundação INATEL dirigiu ao Festival de Santarém, assinado pelo Presidente do Conselho de Administração, Eng.º José Manuel Costa Soares:
“A Fundação INATEL reafirma, em 2025, o seu apoio ao Festival Internacional de Folclore Celestino Graça, pela sua ligação aos territórios e ao que os diferencia, numa caminhada, já de 90 anos, junto dos portugueses.
A Fundação INATEL estabeleceu e estabelece, promovendo em todo o continente e ilhas redes de parcerias com entidades locais e com a sua rede de associados colectivos, num total de cerca de 2.500 associações. Destes associados parte considerável promove igualmente a salvaguarda, o respeito e a divulgação dos patrimónios expressivos portugueses, como é o caso do Grupo Académico de Danças Ribatejanas, organizador deste Festival, que divulga as tradições, ritos e práticas que identificam e constroem, peça a peça, o puzzle identitário de cada comunidade, dando nota daquilo que caracteriza o sentido de pertença e nação.
Num mundo cada vez mais global e matizado, urge promover diálogos interculturais, o respeito pela diversidade cultural e proceder a uma identificação positiva da diferença do outro. Festivais como o Festival Internacional Celestino Graça, são por isso necessários e indispensáveis.
Dar a conhecer as unicidades e os códigos genéticos de cada território, promove a erudição e o conhecimento, mas promove também a tolerância e um olhar esclarecido sobre o mundo e quem nele habita. Estes Festivais são autênticos manifestos por um mundo melhor, mais justo e mais progressista e universalista, assumindo-se como mostra de que há lugar à diferença.
A Fundação INATEL deseja os maiores sucessos ao Festival e convida todos a assistirem e permitirem-se fazer uma viagem pelo mundo entre os dias 3 e 7 de Setembro, em Santarém.”
“Sons Autóctones – Sons da Memória”
Este ano reedita-se este tão aliciante projecto, que tem como espaço de maior visibilidade a Mostra de Instrumentos Musicais Tradicionais, mas que a montante inclui jornadas de sensibilização teórica, de enquadramento, e oficinas de aprendizagem e aperfeiçoamento para tocadores da nossa região.
Na tarde de domingo, a anteceder a Gala de Encerramento do Festival Celestino Graça, subirão ao palco diversos tocadores de diferentes regiões do país, o que muito valoriza esta iniciativa que no ano passado foi apoiada pela CCDRLVT. A não perder!
Grupo de Folklore Tradicional Aragonês “Xinglar”
O Grupo aragonês “Xinglar” foi fundado em 1989, tendo como principais objectivos a pesquisa, o estudo, a interpretação e a divulgação do rico folclore desta região de Espanha.
O Grupo tem-se empenhado em destacar todos os aspectos tradicionais da sua região, no que o folclore está presente – danças, canções, músicas, lendas, trajos, rituais, etc. – sempre respeitando o seu significado e conteúdo, conforme encontrados no seu espaço de origem.
Em 1991, o Grupo constituiu-se como Associação Cultural, organizando inúmeras actividades, todas relacionadas com o folclore aragonês, nomeadamente cursos introdutórios sobre folclore, dulzaina e danças tradicionais, conferências, palestras e jornadas culturais.
Com o mesmo objectivo de promover a cultura tradicional e popular instituiu o Prémio Xinglar, atribuído anualmente como reconhecimento do trabalho realizado por indivíduos e instituições em prol da cultura tradicional, e edita periodicamente o Boletim Xinglar, tendo já sido publicadas trinta e sete edições.
O Grupo “Xinglar” apresenta no seu repertório jotas de baile de estilos puros, danças tradicionais, jotas de estilo, canções e músicas tradicionais, que representam eloquentemente o carácter e a sensibilidade do povo aragonês.
“GENUS” – Exposição de Pintura de Radina Rosenova
Uma das novidades da presente edição do Festival Celestino Graça é a exposição da consagrada pintora búlgara Radina Rosenova, subordinada ao tema “GENUS – A Europa diante do Mundo através dos símbolos e mensagens neles contidos”. Trata-se de uma colecção de 14 telas que representam cada país da União Europeia e a beleza das suas indumentárias folclóricas tradicionais e os seus motivos, uma expressão da união através da arte e do Património Cultural legado pelos seus antepassados.
Esta incursão artística de Radina Rosenova começou em 2019, quando inaugurou a sua primeira exposição individual, “Horcrux”, de 54 telas, no maior Museu da Ilha de Chipre – o Museu Thalassa – , onde apresentou as nuances da sua percepção do mundo por meio de diversas técnicas – ilustrações a lápis, pinturas a óleo, pinturas acrílicas e a sua própria técnica: Arte Cósmica 3D. A exposição causou grande sensação e Radina recebeu o Prémio “Afrodite”, pela importante Contribuição Especial à Cultura e à Arte da Ilha, concedido pessoalmente pelo Ministro do Desenvolvimento Regional.
Percebendo a admiração mundial pelos motivos de folclore búlgaros e após doze anos de exílio, Radina regressou à Bulgária e, juntamente com sua mãe, a escritora de renome internacional Boyana Ilieva, criou a marca GENUS® Collection, dedicada à interpretação e disseminação de Escrita Bordada Autêntica e Símbolos do Património Cultural Búlgaro e Mundial Antigo. Para elas, a restauração da autoestima e da memória das suas raízes torna-se uma missão. As mulheres têm a honra de representar a Bulgária em todo o mundo, recebendo reconhecimento internacional mais de uma vez.
Esta Exposição poderá ser visitada na Casa do Campino, onde decorre a maior parte da programação do Festival Celestino Graça, até ao próximo domingo, dia 7 de Setembro.
Festival do Petisco Ribatejano
Com a supervisão técnica do conceituado cozinheiro escalabitano César Piedade, que acaba de alcançar um grande sucesso na Fatacil, em Lagoa, o Festival Celestino Graça integra na sua programação pela primeira vez um Festival do Petisco Ribatejano, um tempo e um espaço de exaltação da culinária tradicional da nossa região, confeccionada segundo os hábitos dos nossos avós.
Convirá não esquecer que esses tempos eram pautados por muitas dificuldades, havendo que recorrer-se àquilo que a natureza dava e no tempo em que havia produção, bem diferente do que acontece nos nossos dias em que há de tudo em qualquer época do ano.
Cozinhar assim exige tempo e paciência, o que aliado à natural criatividade que o engenho aguça, está na origem de magníficos pitéus. Pois, alguns deles poderão ser degustados na Casa do Campino até ao próximo domingo. Acrescidamente há um outro motivo de interesse, que é a realização de duas sessões de show cooking, que não estarão a cargo de consagrados Chefs, mas sim a gente simples que gosta e sabe cozinhar. Na tarde de sexta-feira, dia 5 de Setembro, será a vez de Jorge Luís Olivreira cozinhar a sua já famosa “Massa à Barrão”, e no dia seguinte será Fernando Pelarigo, descendente de antigos pescadores das Caneiras, a confeccionar a sua especialíssima “Caldeirada com Peixe do Rio”. E, já agora, vai perder estes pitéus?
Ribatejo em Pessoa – Identidade e Memória
Outra novidade do programa do Festival Celestino Graça nesta edição é o projecto “Ribatejo em Pessoa” que tem como primordial objectivo recolher informação sobre as vivências populares dos nossos antepassados, como forma de caracterizarmos melhor a nossa identidade regional.
Fatalmente, a nossa identidade está em acelerado processo de evolução, o que para muitos é considerado uma descaracterização, porém, conscientes deste esbatimento tão acelerado dos usos e costumes que marcaram as últimas gerações, compete-nos a missão fundamental de registar tudo quanto for possível, para memória futura.
Só assim conseguiremos passar o testemunho às gerações vindouras, pois, como bem o referiu José Saramago, nós somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos.
Nesta edição inicial deste projecto serão entrevistados Manuel Alves, pescador das Caneiras, descendente de antigos avieiros vindos da Praia da Vieira, e o campino Francisco Reis, que se dedica deste criança às actividades do campo, mau grado que a sua vida activa nem sempre fosse essa.
Este projecto constará de duas fases seguintes, que passa pela transcrição das conversas mantidas com esta gente simples do nosso Ribatejo e a sua publicação, acompanhada de textos de contextualização que facilitarão aos leitores a compreensão desta problemática.