Gonçalo Silva voltou a meio da temporada passada a uma casa onde já conquistou praticamente tudo, O ‘Coruchense’. O regresso teve um final infeliz com a perda do campeonato na última jornada e da Taça do Ribatejo, mas a vitória na Super-Taça teve para o treinador “um sabor muito especial” pois garantiu o único título da época. Para a temporada que se avizinha, Gonçalo Silva garante que a equipa de Coruche vai lutar por todos os títulos.
Gonçalo Silva voltou na temporada passada a um clube onde já foi campeão distrital? Como é que avalia o regresso?
É sempre bom regressarmos a uma “Casa” que muito nos marcou e sentirmos que passados 3-4 anos continuamos a merecer um enorme respeito e admiração pelo nosso trabalho e pela nossa forma de ser e estar no futebol. Naturalmente que, ao termos deixado também a nossa “marca” no Clube, nomeadamente os troféus conquistados nas épocas de 2014/2015 (Campeonato e Taça Ribatejo) e 2015/2016 (Supertaça), sabíamos que a fasquia estava elevadíssima no momento do regresso, até porque reentrámos no Clube em contexto de 1º classificado (vantagem de 1 ponto a 7 jornadas do fim) e na semana da ½ final (1ª mão) da Taça Ribatejo…
A equipa perdeu o campeonato na última jornada. O que sente um treinador perante esta situação?
Uma enorme frustração, o final do jogo da última jornada foi um momento de tristeza indescritível. Percebermos que na penúltima jornada voltámos a recuperar o 1º lugar, dependermos apenas de nós para alcançar o título, não o conseguirmos e, consequentemente, sabermos que tínhamos de recuperar os jogadores emocionalmente porque teríamos dois troféus para disputar nas duas semanas seguintes, foi algo muito difícil de digerir. Contudo, foi um momento de grande aprendizagem e nos dias seguintes, uma enorme prova de superação.
Que objectivos tem o Coruchense para a temporada que se avizinha? É o clube favorito à vitória no campeonato?
O Coruchense, como vem sendo hábito desde a época 2013/2014 (onde alcançou o 2º lugar), é um Clube que luta sempre por títulos e esta época não fugirá à regra. Temos a noção de que os campeonatos têm sido cada vez mais competitivos, com um aumento significativo de qualidade e com um elevado grau de exigência. Estaremos certamente no lote dos favoritos, pelo menos é essa a nossa intenção, mas sempre com uma postura de enorme respeito por todos e com a humildade necessária para reconhecer que existem outras equipas com fortes argumentos para alcançarem o título.
O clube já apresentou alguns reforços para a nova época, que tipo de jogares vão integrar o plantel?
Houve uma grande reestruturação do plantel, com muitas saídas e consequentemente muitas entradas. Trabalhámos arduamente neste período de transição para garantir que temos um grupo estável e equilibrado, assente numa base de compromisso, humildade e qualidade.
O clube vai investir mais esta temporada para subir de divisão?
Não. O Clube não entrará em contextos de ambição desmedida que coloquem em causa a sua estabilidade e sustentabilidade. Continuará a realizar um trabalho de grande seriedade, à imagem de anos anteriores, para garantir um plantel competitivo que honre e orgulhe toda a comunidade coruchense.
Como é que vê a competição na próxima época no campeonato distrital?
Prevemos um nível competitivo altíssimo com jogos em contexto de grande exigência.
O aumento de equipas é benéfico para a competição?
Veremos… Na presente data, ainda não conseguimos ter uma opinião formada e concreta sobre os eventuais benefícios…
Para si quem é que pode lutar pelos lugares cimeiros da tabela?
Neste tipo de questões, parece-nos sempre deselegante e injusto “nomear” quais os clubes que poderão lutar pelos lugares cimeiros, por isso, numa óptica de respeito por todos os participantes diremos apenas que acreditamos que haverá um lote de seis equipas com condições e argumentos credíveis para lutar pelo título.
O Coruchense perdeu também a Taça do Ribatejo para o União de Santarém. É uma competição para vencer este ano?
Mantendo a coerência, sublinhamos novamente que o Coruchense trabalha sempre para lutar por títulos e a Taça do Ribatejo é uma competição que encararemos com muita ambição.
Depois de perder campeonato e Taça do Ribatejo acabaram por levar a Super-Taça Dr. Alves Vieira para Coruche. Considera que foi um prémio de consolação ou deu ânimo para a temporada que se avizinha?
Não a consideramos um prémio de consolação, ou, como muita gente apelida, um “troféu menor”. Para nós teve um sabor muito especial, pois vínhamos de duas derrotas que nos retiraram a possibilidade de garantir títulos e, nesse contexto adverso, conseguir recuperar animicamente os jogadores e toda a estrutura para nos apresentarmos a um nível extraordinário no último jogo da época foi um capítulo que jamais iremos esquecer.
Estão na eliminatória da Taça de Portugal. Até onde querem ir nesta competição?
Procuraremos acima de tudo dignificar o clube e a comunidade que nos envolve, sempre com a ilusão de chegar o mais longe possível, reconhecendo certamente as nossas limitações e o elevado poderio dos adversários que participam nesta prova.
Considera que Coruche tem boas condições para a prática do futebol?
Óptimas! Coruche continua a ser uma referência no futebol do nosso distrito e consegue inclusive ombrear com as condições de muitos clubes que militam no Campeonato de Portugal.
Quando é que decidiu ser treinador? Era um sonho que tinha?
Enquanto jogador, ainda nas camadas jovens, já tinha em mente seguir no futebol como treinador. São situações que não se explicam, nem têm uma razão óbvia, sentem-se! Tudo se precipitou em Julho de 2004, num período de férias em que estava a jogar no “cimento” como se diz na gíria, com amigos e, uma lesão no joelho me conduziu a uma intervenção cirúrgica. No final, o cirurgião aconselhou-me a ponderar a continuidade da prática… Devido à minha profissão (Professor de Educação Física) e numa perspectiva de acautelar a qualidade de vida no futuro, não hesitei e deixei de jogar futebol em contexto competitivo. Logo no decorrer da época 2004/2005 surgiu um convite, que aceitei prontamente, para integrar a equipa técnica do Mister Barroca no Sport Lisboa e Cartaxo que na altura militava na extinta 3ª Divisão Nacional (Série E). Foi aí que tudo começou…
Para si quais foram as melhores experiências enquanto treinador?
Do sucesso ao insucesso, tentei sempre retirar o máximo das situações de aprendizagem e lições que o futebol me proporcionou. Obviamente que os títulos constituem momentos de alegria inesquecíveis, mas foi sempre nos momentos menos positivos que mais cresci enquanto treinador.
Até onde é que ambiciona chegar nesta carreira?
Vivo o presente com tranquilidade, sabendo que apenas controlo o empenho, a dedicação e a procura incessante de melhorar as minhas valências enquanto treinador. Se for melhor amanhã do que sou hoje tenho mais probabilidade de sucesso, sabendo claramente que existem inúmeras variáveis (pouco ou nada controláveis) e contextos de oportunidade que nos poderão catapultar para outros patamares. Não vivo obcecado com a procura de sucesso a qualquer custo e muito menos seria capaz de “atropelar” alguém para o conseguir. Naturalmente que gostaria de trabalhar no futebol em contexto profissional e, caso surja a oportunidade, procurarei ser o mais sério e competente possível para seguir esse caminho…
Que conselhos dá a quem quer seguir esta área?
Humildade será, na minha opinião, a palavra-chave para o sucesso!
Não julgar ser mais do que os outros no momento de conquista e glória, mas também não entrar em “depressão” no momento do fracasso, pois todos passamos por isso. Manter sempre uma postura equilibrada e coerente!
Saber reconhecer as limitações para as poder trabalhar e corrigir, optando sempre por uma postura de auto-análise e auto-crítica constantes para poder evoluir.
Por último, ter ideias próprias e acreditar sempre no processo, trabalhando arduamente numa perspectiva de melhoria contínua, mesmo que os resultados não surjam no imediato.
Foto: João Dinis