Albertina Silva é uma autodidacta da pintura que iniciou a sua actividade artística após se reformar da Escola Superior de Enfermagem de Santarém. A artista gosta de reproduzir na tela o mundo que visualisa à sua volta, sobretudo paisagens.

Quando surge a pintura na sua vida?
A pintura surge na minha vida numa época em que já pensava na reforma. Sempre tive a pintura na minha mente pois era algo que gostava muito. Gosto também de sair, de apreciar as paisagens, ouvir os sons da natureza e desfrutar da sombra e da luz, foram coisas que sempre me atraíram muito. E em determinada altura, já cansada do trabalho, e com os meus filhos bem encaminhados e orientados na escola, decidi começar a tratar de mim e fazer o que sempre gostei e desejei, tendo surgido a pintura em 1996/97. Comecei por esboçar algumas coisas, entretanto juntei-me com uma pessoa amiga, começámos a pintar juntas, para que pudesse perder o medo de estragar as telas e mesmo as tintas. Penso que esse medo surge a todas as pessoas… Cheguei a realizar pinturas levando-as para o meu gabinete de trabalho, para que nos intervalos me aliviasse um pouco do meu dever, e apreciasse a arte, descobrindo erros para que pudesse melhorar.

O que fazia profissionalmente?
Era funcionária pública, estive ligada toda a minha vida à Escola de Enfermagem.

O que mais a inspira nas suas obras e quais os temas principais que aborda?
Não tenho nenhum tema em que possa dizer: “adoro isto!”. Gosto de pintar tudo o que vejo e me agrade, por exemplo, paisagens. Enquanto há pessoas que gostam muito de pintar qualquer tipo de paisagem, eu prefiro pintar paisagens que tenha visto e que conheça.

Como funciona o seu processo criativo?
Posso optar por criar um esboço primeiro, mas poucas vezes o faço, costumo passar logo para a tela, quer seja com pincel ou mesmo com lápis, e a partir daí vou criando, tirando fotografias. Não gosto de pintar nas ruas, gosto de passar despercebida, digamos assim, na rua não me sentiria bem.

Tem alguma ideia que queira transmitir ao público, ou são telas mais para si?
Não, são telas que poderão dizer ou mostrar algo ao público, como por exemplo as ruas da nossa cidade [Santarém] ou mesmo as paisagens. Não tenho nada de especial a transmitir, no fundo é a beleza.

Já realizou alguma exposição para além desta que está exposta no Círculo Cultural Scalabitano?
Sim, já realizei duas exposições, uma nas Caldas da Rainha, e outra na Escola de Enfermagem de Santarém, tendo sido até a primeira a ser realizada. Já expus também com outros artistas, nomeadamente aqui em Santarém e em Santa Catarina da Serra, para onde levava sempre uma obra.

O que as pessoas lhe transmitem quando veem os seus quadros? Gostam? Dão-lhe incentivo?
No geral gostam, tirando uma vez em que uma amiga minha me fez uma crítica e me deu um conselho pois tirou o curso de artes.

Que conselho?
O conselho que me foi dado tinha mais a ver com a estrutura do desenho. O desenho retratava uma senhora com uma sombrinha, cujas varetas caíam mesmo por cima dos ombros, assim muito sobrepostas, devemos ter alguma cautela nesse aspecto.

Tem algum projecto para o futuro, ou processo criativo?
O projecto que eu tenho, que já vem de alguns anos e que pretendo continuar, é de um grupo nomeado “O grupo do pincel” que funciona nas Fontaínhas.

Quantas pessoas compõem este grupo?
Chegámos a ser 15 pessoas, mas neste momento somos só seis ou sete, devido ao transporte. É um grupo aberto a quem quiser aprender.

Que conselhos costuma dar a quem quer começar na pintura?
É preciso trabalho e gostar do que se está a realizar.

Para além da pintura tem outro hobby?
Gosto de escrever, estive integrada também na Ludoteca, em reuniões de escrita criativa, com a Ana Simão, que entretanto mudou para a UTIS. Continuo a escrever e a fazer pesquisas acerca da pintura, novos métodos, e assim vou ocupando o meu tempo.

Acha que a Sociedade portuguesa já pode falar em igualdade plena entre Homens e mulheres?
Se já atingimos a plena igualdade… isso não sei, mas penso que ainda haverá muito para percorrer até chegarmos a esse nível, mas estamos no bom caminho.

Com a sua experiência de vida alguma vez sentiu que por ser mulher alguma oportunidade lhe foi negada na sua vida profissional?
Na minha vida profissional não senti, mas antes de tudo estive num sindicato da insdútria onde praticamente só havia homens e não me sentia muito bem, mas no meu serviço nunca tive nenhum problema, havia boa relação entre homens e mulheres, nunca senti essa discriminação por ser mulher.

Acha que foi importante de qualquer forma haver os movimentos feministas?
Claro! Nós estávamos num estado fechado, em que a mulher era muito de estar em casa a tomar conta dos filhos, e por isso sim, foi importante.

Na sua opinião, o que teria de mudar para que o dia da mulher não precisasse de ser assinalado?
Eu acho que é de bom tom, que seja sempre assinalado, acho que sim, a mulher merece, para assim relembrar as lutas e as conquistas que foram realizadas.

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