Após mais de uma década encerrada, a Igreja de São João de Alporão, em Santarém, reabre as suas portas amanhã, dia 22 de Novembro, às 15:30, numa cerimónia que contará com a presença do Primeiro-Ministro Luís Montenegro.
O evento, que marca um momento de grande relevância para a cidade, foi anunciado nas redes sociais pelo presidente da Câmara Municipal de Santarém, João Teixeira Leite, que destacou a importância desta reabertura para a revitalização do centro histórico.
Classificada como Monumento Nacional desde 1910, a Igreja de São João de Alporão é um verdadeiro testemunho da riqueza arquitectónica de Santarém, destacando-se pela fusão estilística entre o românico e o gótico, características que a tornam um caso singular no panorama da arquitectura medieval portuguesa.
Construída pela Ordem de São João do Hospital entre os séculos XII e XIII, a igreja desempenhou um papel fulcral na história religiosa e cultural da cidade. No entanto, após a extinção das ordens religiosas, o edifício conheceu diferentes utilizações, chegando mesmo a servir como teatro até finais do século XIX.
A reabertura deste monumento acontece após um longo e minucioso processo de requalificação, necessário devido aos graves problemas estruturais que motivaram o seu encerramento em Março de 2012. Na altura, a autarquia tomou a decisão de fechar o espaço ao público por razões de segurança, após a queda de fragmentos da cabeceira da igreja, pondo em risco a integridade de visitantes e funcionários.
O diagnóstico dos problemas da igreja remonta a um estudo realizado pelo Instituto Superior Técnico em 2004, que revelou que a pedra calcária utilizada na construção era altamente permeável e vulnerável à infiltração de água, resultando na cristalização de sais que provocavam fissuras e desagregação da estrutura. Esta “doença da pedra” foi considerada incurável pelos especialistas, que recomendaram intervenções paliativas para garantir a segurança do edifício sem comprometer a sua integridade histórica.
Com verbas comunitárias disponíveis, cerca de 800 mil euros, e o apoio do Pacto para o Desenvolvimento e Coesão Territorial da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo, foi possível avançar com um plano de reabilitação faseado. Este incluiu a substituição da cobertura, melhorias no sistema de drenagem e a instalação de redes de protecção no interior, para evitar eventuais desprendimentos de pedra.
A intervenção contou ainda com a colaboração da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), que emitiu pareceres favoráveis e acompanhou de perto os trabalhos. A execução do projecto exigiu um cuidadoso levantamento fotogramétrico, que permitiu documentar o estado do monumento antes das obras e identificar fissuras e outros danos estruturais.
Para João Teixeira Leite, este esforço conjunto é um reflexo do compromisso do município em preservar o património histórico: “Esta reabertura é um marco no nosso trabalho contínuo para valorizar o legado de Santarém”, afirmou.
Um novo destino cultural no coração de Santarém
A partir de 22 de Novembro, a Igreja de São João de Alporão passará a estar aberta diariamente, permitindo aos visitantes e à comunidade local redescobrir este símbolo da herança escalabitana. A igreja será um ponto de encontro para actividades culturais, que visam dinamizar o centro histórico e atrair novos públicos à cidade.
Mas, segundo o autarca, o impacto desta reabertura vai além da conservação do edifício. É uma oportunidade para revitalizar o turismo local, numa altura em que Santarém procura afirmar-se como um destino de referência no circuito do turismo cultural em Portugal. Com uma localização privilegiada e uma história rica, este monumento oferece agora uma nova experiência aos visitantes que pretendam mergulhar na herança arquitectónica da região.
A memória de um “Museu dos Cacos” preservada
A Igreja de São João de Alporão, também conhecida como o “Museu dos Cacos”, mantém viva a memória de várias gerações de escalabitanos que aqui encontraram um espaço de encontro com a história. A designação popular advém da colecção de artefactos que outrora compunham o museu, inaugurado em 1889, após uma das primeiras campanhas de restauro em Portugal.
Durante décadas, este espaço foi palco de exposições e eventos que atraíam estudiosos e curiosos. Contudo, o passar dos anos trouxe também desafios, nomeadamente no que toca à conservação das suas frágeis pedras calcárias. Hoje, graças ao empenho das autoridades locais e à colaboração de especialistas, a igreja volta a ser “um espaço vibrante e acessível”.
“Santarém é um concelho magnífico, com um património que nos deve encher de orgulho”, reiterou João Teixeira Leite, num apelo à participação da comunidade na redescoberta deste espaço renovado.
Intervenções e Restauros
Primeiro restauro do edifício entre 1877-1882, realizado pela Junta Geral do Distrito. Em 1932-36, foi levada a cabo uma segunda campanha de restauro, pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.
Ao longo dos anos 70/80 a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) efectuou pequenos restauros no edifício. E, em 1889 a Igreja de São João de Alporão abriu ao público como museu, após uma das primeiras obras de conservação e restauro realizadas em Portugal.
Em 1992 foi remodelado o espaço museológico e executaram-se, consequentemente, obras de restauro, pela Divisão dos Núcleos Históricos.
A 9 de Março de 2012, a autarquia tomou a decisão de encerrar preventivamente o espaço ao público por uma questão de segurança dos funcionários e dos visitantes depois de ter ruido um pedaço da cabeceira da igreja.
FMM