O “impacto visual” da intervenção em quatro pilares do Aqueduto dos Pegões, em Tomar, foi criticado pelo PSD local devido ao uso de betão branco, solução que a presidente do município disse hoje à Lusa ter sido “imposta”.
Anabela Freitas, presidente da Câmara Municipal de Tomar (distrito de Santarém), reconhece que a intervenção no Aqueduto dos Pegões, de reforço estrutural de quatro pilares que estavam em risco, tem um “impacto visual” pelo uso de betão branco, mas frisou que a solução foi “imposta” e privilegiou a segurança.
A autarca socialista disse que a intervenção foi assumida pelo município aproveitando verbas do Portugal 2020, no âmbito das Intervenções Territoriais Integradas, apesar de este monumento nacional estar sob a alçada da Direção-Geral do Tesouro e Finanças, tendo ocorrido nos quatro pilares identificados pelo Departamento de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico (IST) como estando em maior risco.
Sublinhando que a intervenção teve autorização e acompanhamento da Direção Geral do Património Cultural (DGPC), a autarca afirmou que esta entidade impôs algumas mudanças ao projeto adquirido pelo município ao IST, tendo sido a intervenção executada “de acordo com as instruções”.
O uso de betão branco na base das sapatas dos pilares levou o vereador da oposição na Câmara de Tomar José Delgado (PSD) a escrever um artigo de opinião em que critica o “elevado impacto visual” criado, uma imagem que, no seu entender, “descaracteriza a harmonia e equilíbrio de todo o conjunto”.
“Parece terem calçado uns sapatos brancos ao Aqueduto dos Pegões”, estrutura com seis quilómetros de extensão e uma altura máxima de 30 metros, mandada erigir por D. Filipe I entre 1593 e 1614 para o transporte de água para o Convento de Cristo, classificada como monumento nacional desde 1910, escreveu José Delgado.
Questionada pela Lusa, a DGPC afirma que, apesar dos “significativos impactos físicos e visuais da proposta no monumento classificado” deu despacho favorável condicionado, já que “a natureza do terreno de fundação” e o “desaprumo das colunas” inviabilizava “a consideração de outras opções para a estabilização das fundações”.
“A proposta apresentada, embora preveja a introdução de elementos estruturais com características diferentes dos existentes, responde às necessidades de intervenção para suster a instabilidade atual e, dentro de um espírito minimalista, incrementa a vida útil da estrutura, a qual, se nada for feito, se encontraria em risco de colapso, a médio prazo”, afirmava a despacho.
A aprovação foi condicionada à exigência de que “as novas estruturas introduzidas” fossem “assumidas como tal, distinguindo-se do objeto classificado, mas de forma a que a imagem do todo, dado que a intervenção se restringe a quatro pilares, não fique afetada pela sua presença” e ainda à realização de sondagens e acompanhamento arqueológico, acrescenta.
José Delgado, engenheiro civil de profissão, discorda, considerando que “outras soluções poderiam ter sido escolhidas e que de igual forma garantiriam o reforço e a estabilidade da zona com necessidade de intervenção”, criticando ainda os tratamentos de juntas e lacunas que no seu entender foi “pouco cuidado”.
Anabela Freitas reafirmou que a intervenção decorreu de acordo com as instruções das entidades competentes e que, apesar de não ser propriedade do município, este voltará a intervir neste monumento caso disponha de verbas para esse efeito.
A autarca adiantou que o levantamento feito pelos especialistas do IST identificou uma necessidade de intervenção que, no global, orça os 10 milhões de euros, tendo o município optado, face à disponibilização das verbas comunitárias para pequenas intervenções em monumentos nacionais, por intervir nos quatro pilares identificados como podendo pôr em causa o todo, numa empreitada que rondou os 300.000 euros.