A Associação Portuguesa dos Industriais de Curtumes disse hoje repudiar “com toda a veemência” práticas poluidoras como as identificadas pela ASAE, pedindo que seja especificado se a deposição de resíduos detectada é recente ou se tem décadas.
O secretário-geral da APIC, Gonçalo Santos, disse à Lusa que a prática de enterramento de resíduos como a descrita hoje pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), detectada em terrenos adjacentes a uma indústria de curtumes não identificada e situada em Alcanena, deixou de ser feita “há décadas” e que vê “com estupefacção” que possa ter ocorrido recentemente.
A ter acontecido, “as indústrias de curtumes unanimemente condenam de forma veemente práticas que não representam um sector que tem vindo a investir em medidas para acautelar a área ambiental e preza os valores da economia circular”, declarou.
Para Gonçalo Santos, se se comprovar que são recentes os enterramentos “de raspas azuis e verdes, bem como lamas provenientes das lagoas existentes, com eventual contaminação dos lençóis freáticos” e dos solos, referidos no comunicado da ASAE, a empresa em causa “tem de ser erradicada”, tal como deve acontecer em qualquer sector em que aconteça este tipo de prevaricação.
“Isto em nada representa a actividade actual do sector”, disse, referindo o cariz fortemente exportador de um sector que está agregado a cadeias de valor, nomeadamente do mercado de luxo, aeronáutico e automóvel, entre outros.
A ASAE divulgou o resultado de uma operação realizada juntamente com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), o Instituto da Soldadura e Qualidade e a Câmara Municipal de Alcanena, em cumprimento de um mandado de busca e de apreensão não domiciliário, numa indústria de curtumes localizada no concelho de Alcanena, na sequência de uma investigação por crime de poluição.
No decurso da operação, conduzida pela sua Unidade Regional do Sul – Unidade Operacional de Santarém, realizada por “suspeita da prática de deposição de resíduos de curtumes, foram realizadas várias escavações no solo, com recurso a uma retroescavadora, onde foi possível comprovar a existência, em dois terrenos adjacentes à indústria, de indícios de enterro de raspas azuis e verdes, bem como lamas provenientes das lagoas existentes, com eventual contaminação dos lençóis freáticos”, afirma a nota.
“Nestas diligências no solo foi confirmada a deposição incontrolada de resíduos orgânicos (peles), lamas e, ainda, resíduos de construção e demolição (RCD). Com estas aberturas, a maioria das valas acabou por ficar submersa com água, que brotava do solo (aquíferos), com cheiro e coloração, indiciando uma eventual contaminação dos solos”, acrescenta.
Segundo a ASAE, foram efectuadas quatro colheitas de solo e duas de água “para a devida análise laboratorial e consequente elaboração do respectivo parecer, no âmbito do processo-crime em curso”.