O ISLA Santarém concretizou recentemente a sua transição para Instituto Politécnico, expandindo significativamente a oferta formativa com novos cursos estratégicos, reforçando a internacionalização, e avançando com a criação de uma residência estudantil para responder à crescente procura. Em entrevista ao Correio do Ribatejo, o Presidente Domingos Martinho detalha as mudanças e desafios futuros da instituição.
O ISLA Santarém viu recentemente concretizada uma importante mudança, passando a Instituto Politécnico. Quais foram as principais razões que levaram a instituição a avançar com esta alteração, e como decorreu este processo?
Esta mudança para Instituto Politécnico foi uma decisão estratégica, que vem na sequência de um percurso que iniciámos há mais de uma década. Desde 2012, ficou claro que, face à nossa dimensão e à estratégia então delineada pela entidade instituidora, o enquadramento ideal para o ISLA seria o do subsistema politécnico, concretamente no modelo de escola politécnica.
Passados mais de dez anos, o crescimento contínuo e a consolidação da nossa instituição mostraram que era o momento certo para avançar com esta alteração fundamental. O regime jurídico anterior, enquanto escola politécnica, impunha limitações à nossa expansão, nomeadamente quanto ao desenvolvimento de novas áreas científicas e à criação de cursos que não fossem estritamente nas áreas de gestão e das tecnologias relacionadas.
Nesse sentido, submetemos formalmente o pedido de alteração à tutela. Este processo foi, naturalmente, demorado devido às questões burocráticas habituais, tendo sido inclusivamente condicionado pela situação política nacional, marcada por períodos de governos em gestão. Contudo, em Dezembro de 2024, obtivemos finalmente a aprovação, com a publicação do decreto-lei em Diário da República.
Actualmente, estamos numa fase transitória, definida estatutariamente como um período de instalação de 90 dias, iniciado após a aprovação dos novos estatutos em Fevereiro de 2025. Nesta altura decorrem as eleições dos órgãos académicos fundamentais, nomeadamente os conselhos técnico-científicos e pedagógicos das duas novas escolas entretanto criadas: a Escola de Gestão e a Escola de Engenharia e Tecnologias.
Esta transformação representa um marco significativo no desenvolvimento do ISLA Santarém, permitindo não só o alargamento da nossa oferta formativa, mas também reforçando a nossa capacidade institucional e autonomia académica.
Esta mudança para Instituto Politécnico traz consigo a criação de novas unidades orgânicas e o lançamento de novos cursos. Quais são exactamente essas novas unidades e ofertas formativas, e que impacto terão na dinâmica educativa e na vida da instituição?
De facto, a passagem a Instituto Politécnico permitiu-nos criar duas unidades orgânicas fundamentais para a expansão da nossa oferta educativa: a Escola de Gestão e a Escola de Engenharia e Tecnologias. Cada uma destas escolas concentra áreas específicas de formação, permitindo-nos alargar significativamente a abrangência científica do ISLA e, consequentemente, captar novos públicos.
Já para o próximo ano lectivo, estamos a lançar duas novas licenciaturas que representam áreas estratégicas para o desenvolvimento do Instituto e da região. A primeira é a licenciatura em Engenharia Informática, uma aspiração antiga que finalmente conseguimos concretizar. Já desde 2020 vínhamos trabalhando para obter a acreditação deste curso, que havia sido bem avaliado inicialmente, mas que estava impedido de avançar pelo enquadramento jurídico anterior, mais limitado. Com a passagem a Instituto Politécnico, este obstáculo foi ultrapassado, permitindo-nos oferecer esta licenciatura de grande relevância, sobretudo considerando a procura crescente nesta área tecnológica.
Em simultâneo, vamos lançar uma licenciatura inovadora, denominada Gestão de Dados e Tecnologias em Saúde, criada em parceria com a Escola Superior de Saúde Santa Maria e o Instituto Superior de Educação e Ciências (ISEC), de Lisboa. Esta licenciatura terá uma dinâmica muito particular, uma vez que funcionará com turmas distribuídas pelas três instituições parceiras e com um corpo docente partilhado, permitindo que cada instituição contribua nas áreas onde detém maior especialização. Esta cooperação não é inédita no ensino superior português, mas será implementada por nós de forma especialmente estruturada, enriquecendo significativamente a formação e as experiências académicas dos alunos envolvidos.
Além disso, avançámos com um curso Técnico Superior Profissional totalmente inovador, focado especificamente em Inteligência Artificial. Trata-se do primeiro curso desta natureza registado pela Direcção-Geral do Ensino Superior, com uma abordagem muito direcionada às necessidades actuais do mercado de trabalho. Apesar de já existirem formações em ciência de dados e robótica, optámos por lançar um curso inteiramente centrado na Inteligência Artificial, respondendo assim às exigências do sector tecnológico actual e futuro.
Estas novas ofertas irão certamente contribuir para uma maior dinâmica académica, ajudando-nos a captar um leque mais alargado de estudantes, melhorando ainda mais a empregabilidade dos nossos diplomados e contribuindo para o desenvolvimento regional e nacional através da formação altamente qualificada que iremos proporcionar.
O nosso objectivo central é manter o ISLA Santarém alinhado com as reais necessidades do mercado de trabalho, proporcionando formação qualificada não só para jovens estudantes que iniciam agora o seu percurso académico, mas também para profissionais activos que precisam continuamente de actualizar e reforçar competências ao longo da vida. É neste contexto que se enquadram as nossas pós-graduações e MBAs.
O alojamento para estudantes tem sido uma preocupação crescente, sobretudo numa cidade como Santarém. Que soluções concretas está o ISLA Santarém a implementar nesta área, e como tem sido possível financiar essas iniciativas, tendo em conta os constrangimentos no acesso a fundos públicos?
A questão do alojamento é, sem dúvida, um dos grandes desafios que enfrentamos, especialmente considerando que a ausência de alojamento adequado em Santarém pode ser determinante para que alguns estudantes optem por não estudar na nossa cidade ou, simplesmente, não a considerem como uma possibilidade viável.
Conscientes desta situação, avançámos recentemente com um projecto muito concreto e já em fase avançada de execução. Trata-se da criação de uma residência estudantil, através da requalificação de um edifício que já era propriedade do ISLA. A nossa intenção é que esta residência esteja disponível já no próximo ano lectivo, proporcionando uma solução prática e economicamente viável aos nossos estudantes deslocados.
Este projecto está a ser integralmente financiado com recursos próprios do Instituto, o que realça ainda mais o nosso compromisso com o desenvolvimento académico e social da comunidade estudantil. Infelizmente, não foi possível aceder aos fundos públicos, nomeadamente os provenientes do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), devido a uma decisão governamental que excluiu as instituições de ensino superior privadas destes financiamentos. Esta exclusão constitui uma injustiça, do nosso ponto de vista, uma vez que as instituições privadas desempenham um papel complementar essencial na oferta formativa nacional.
Apesar destes constrangimentos, a residência estudantil é uma prioridade que mantivemos firme e decidida. Trata-se não apenas de melhorar as condições de vida e estudo dos nossos estudantes, mas também de tornar o ISLA ainda mais atractivo para alunos de outras regiões e países, garantindo-lhes uma experiência académica positiva e completa em Santarém.
Outro aspecto muito relevante é a internacionalização do ISLA Santarém. Que estratégias tem o Instituto adoptado nesta área e qual o impacto efectivo desta aposta na diversidade da comunidade académica?
A internacionalização é um dos pilares estratégicos mais importantes para o ISLA Santarém. Acreditamos firmemente que uma instituição com visão global contribui de forma decisiva para o enriquecimento académico e cultural dos seus estudantes e docentes. Esta aposta reflecte-se concretamente na diversidade que actualmente caracteriza a nossa comunidade académica, composta por alunos e professores oriundos de vários países.
Actualmente, cerca de 65% dos nossos estudantes são provenientes da região de Santarém e das NUT da Lezíria e do Média Tejo. No entanto, temos conseguido, de forma crescente, atrair alunos internacionais, principalmente da Guiné-Bissau, Angola e Brasil. São estes os três grupos internacionais mais representativos no ISLA, e o seu impacto é claramente visível na dinâmica diária da instituição.
Para além destes estudantes regulares, também recebemos anualmente alunos ao abrigo do programa Erasmus, vindos de instituições parceiras um pouco por toda a Europa. Estes alunos trazem diferentes perspectivas e práticas académicas, o que proporciona uma vivência enriquecedora, não apenas em sala de aula, mas também ao nível cultural e social. Os nossos próprios estudantes beneficiam enormemente deste ambiente diversificado, desenvolvendo competências fundamentais num mundo globalizado, como a capacidade de comunicação intercultural, a empatia e a abertura à diferença.
A nossa estratégia passa também por atrair professores e investigadores internacionais, que regularmente realizam visitas académicas ao ISLA. Estas visitas permitem-nos dinamizar projectos de investigação conjuntos, realizar seminários e workshops especializados, e promover o intercâmbio de conhecimento e experiências. Esta dimensão internacional contribui ainda para a visibilidade do Instituto, potenciando novas oportunidades de colaboração e fortalecendo a nossa posição no panorama académico europeu.
Esta aposta na internacionalização tem um impacto directo e positivo na própria cidade de Santarém. A presença crescente de estudantes e investigadores internacionais gera dinamismo económico, social e cultural, promovendo um ambiente cosmopolita e acolhedor, essencial para o desenvolvimento sustentável da região.
A internacionalização não é, para nós, apenas uma meta estratégica; é uma realidade concreta e crescente, que se reflecte diariamente nas nossas salas de aula e que constitui uma das maiores mais-valias do ISLA Santarém.
Um ponto crucial para muitos estudantes e famílias é o custo do ensino superior. Que sistemas de bolsas e apoios específicos oferece o ISLA Santarém aos seus alunos, e como procuram garantir igualdade de acesso, especialmente comparando-se com as instituições públicas?
Este é um tema fundamental para nós e fico satisfeito por abordá-lo, pois ainda persistem alguns equívocos sobre o ensino superior privado, nomeadamente a ideia errada de que não oferece bolsas ou apoios financeiros. No ISLA Santarém, os estudantes têm acesso exactamente às mesmas condições de candidatura às bolsas de estudo nacionais que são disponibilizadas aos estudantes das instituições públicas. Estas bolsas, atribuídas segundo critérios socioeconómicos definidos pelo Estado, garantem igualdade efectiva no acesso ao financiamento dos estudos.
Para além das bolsas nacionais, implementámos internamente medidas específicas de apoio financeiro para tornar o ISLA uma escolha ainda mais acessível e competitiva, especialmente para os alunos da nossa região. Entre estas medidas destaca-se a bolsa que denominamos «Para os alunos da nossa terra». Trata-se de uma redução substancial das propinas, cerca de metade do seu valor anual, correspondendo aproximadamente a 1.500 euros por ano lectivo. Este desconto aplica-se durante toda a duração do curso, podendo inclusivamente estender-se por um ano adicional, para apoiar alunos que eventualmente necessitem de mais tempo para concluir os estudos.
O objectivo claro desta bolsa é contrariar a saída de jovens da região para outras cidades ou para o estrangeiro. Percebemos que, muitas vezes, quando um jovem se desloca para estudar noutras regiões do país, dificilmente regressa, acabando por se fixar longe da sua comunidade original. Com esta iniciativa, pretendemos que os jovens permaneçam na região de Santarém, estudando numa instituição local de referência, perto do seu contexto familiar, reduzindo substancialmente as despesas adicionais com alojamento e deslocações que teriam se estudassem fora.
Para além desta iniciativa específica, temos ainda acordos estabelecidos com diversas entidades da região, permitindo aos seus associados uma redução adicional nas propinas que ronda os 10% a 15%. Este modelo não só beneficia directamente os alunos como promove indirectamente o associativismo local, contribuindo para fortalecer a comunidade regional.
Finalmente, implementámos protocolos com instituições bancárias que permitem aos estudantes obter financiamentos facilitados para cobrir os custos da sua formação académica, com condições vantajosas de pagamento, inspirados num modelo anglo-saxónico adaptado à realidade portuguesa. Estas medidas visam assegurar que, no ISLA Santarém, ninguém fica impossibilitado de estudar por motivos financeiros.
Esta estratégia abrangente de apoios financeiros reafirma o nosso compromisso de garantir igualdade de oportunidades no acesso ao ensino superior, independentemente da condição económica dos estudantes.
Um dos grandes factores diferenciadores do ISLA Santarém, desde a sua fundação, tem sido a forte aposta na empregabilidade dos seus estudantes. Como tem evoluído esta área, e qual a situação actual dos vossos diplomados relativamente ao mercado de trabalho?
A empregabilidade dos nossos diplomados é efectivamente uma das características mais marcantes e importantes do ISLA Santarém, desde a sua criação. Sempre tivemos uma abordagem muito prática e orientada para o mercado, assegurando que as competências adquiridas pelos nossos estudantes correspondem directamente às necessidades reais das empresas e organizações.
Actualmente, temos cerca de 1.500 estudantes a frequentar a instituição no ano lectivo de 2024-2025. Destes, aproximadamente um terço são profissionais activos que regressaram à escola para aprofundar conhecimentos ou adquirir novas competências, reflectindo a importância crescente da formação contínua e da aprendizagem ao longo da vida. Neste segmento em particular, a empregabilidade é naturalmente muito elevada, pois os estudantes já estão inseridos no mercado de trabalho e procuram essencialmente reforçar as suas qualificações para progredir profissionalmente.
Nos cursos dirigidos a jovens que iniciam agora a sua vida profissional, especialmente nas licenciaturas, temos níveis de empregabilidade particularmente elevados, atingindo praticamente os 100%. Destaco particularmente as áreas das tecnologias, como a Informática, onde a procura por profissionais altamente qualificados excede claramente a oferta disponível. Em muitos destes casos, os estudantes têm oportunidades profissionais ainda antes de terminarem o curso, o que, curiosamente, se pode tornar um desafio, dado que por vezes os estudantes são tentados a interromper ou desacelerar os estudos para aceitar ofertas de emprego aliciantes.
A elevada taxa de empregabilidade é fruto do nosso esforço permanente em manter uma ligação próxima com as empresas e organizações regionais e nacionais. Desenvolvemos continuamente parcerias que permitem aos estudantes realizar estágios, desenvolver projectos concretos em contexto real de trabalho e frequentar seminários e workshops que complementam a sua formação académica com experiências práticas altamente valorizadas pelos empregadores.
Adicionalmente, temos vindo a reforçar as nossas estruturas internas, como o Gabinete de Apoio ao Estudante e o Gabinete de Psicologia, visando uma maior proximidade com os alunos, ajudando-os a enfrentar desafios académicos e pessoais, e reduzindo significativamente as taxas de abandono escolar, que actualmente se encontram bem abaixo das médias nacionais.
Em resumo, o ISLA Santarém mantém e reforça a sua reputação de elevada empregabilidade, demonstrando que a aposta numa formação rigorosa, prática e alinhada com as reais necessidades do mercado continua a ser uma fórmula eficaz e um dos nossos grandes factores de sucesso.
O ISLA Santarém comemora agora 41 anos de existência. Que mensagem gostaria de deixar à comunidade académica e regional nesta data simbólica, e quais são os grandes desafios e objectivos para o futuro da instituição?
A comemoração destes 41 anos é, acima de tudo, um momento de orgulho e reflexão para toda a comunidade ISLA Santarém. A mensagem principal que quero deixar é de reconhecimento pelo esforço e empenho de todos os que têm contribuído diariamente para o crescimento sustentado da instituição: alunos, docentes, colaboradores e parceiros regionais.
O nosso maior desafio recente era alcançar a passagem do ISLA a Instituto Politécnico até ao final da celebração dos nossos 40 anos, objectivo que conseguimos cumprir. Agora, com esta nova etapa já formalizada, queremos continuar a crescer não apenas em números de alunos ou cursos oferecidos, mas sobretudo em relevância, visibilidade e qualidade da formação que disponibilizamos.
Para os próximos anos, temos definido claramente os desafios principais: consolidar a expansão das nossas áreas científicas, reforçar a ligação à comunidade empresarial e à sociedade civil, e sobretudo aprofundar a nossa estratégia de internacionalização. Queremos aumentar a nossa presença em projectos científicos nacionais e internacionais, criar novas parcerias estratégicas e continuar a atrair talento altamente qualificado, tanto para o nosso corpo docente como para a nossa comunidade estudantil.
Um aspecto que considero especialmente desafiante é o reforço contínuo do corpo docente. O ISLA Santarém enfrenta, tal como muitas instituições em Portugal e no estrangeiro, o envelhecimento natural do seu corpo académico. A nossa capacidade de captar e reter novos docentes altamente qualificados, seja através da integração de especialistas reconhecidos nas suas áreas, seja recrutando jovens doutorados com potencial e vontade de contribuir para a instituição, será decisiva. Neste contexto, pretendemos também explorar a contratação internacional, nomeadamente a partir de países como o Brasil e outros da Europa, para enriquecer o nosso ambiente académico com novas perspectivas e práticas.
Finalmente, gostaria de sublinhar que o ISLA Santarém continuará fiel à sua missão de formar cidadãos altamente competentes e preparados para enfrentar um mercado de trabalho exigente e em permanente mudança. Acreditamos profundamente que o nosso sucesso se mede pelo sucesso dos nossos alunos e pela contribuição que damos ao desenvolvimento económico, social e cultural da região de Santarém.
Aos nossos alunos, futuros alunos, docentes e a toda a comunidade regional, deixo uma mensagem clara: contem com o ISLA Santarém como um parceiro activo, dinâmico e comprometido com o desenvolvimento sustentado da nossa comunidade. Que os próximos anos sejam marcados pela continuação deste percurso de excelência e inovação que sempre nos caracterizou.