A Escola Superior de Desporto de Rio Maior (ESDRM) assinalou hoje, quinta-feira, dia 05, o seu 22 aniversário. A esse propósito, o correio do Ribatejo esteve à conversa com Luís Cid, director de uma escola que se mantém em franco crescimento. Este ano, alcançou a meta dos mil alunos inscritos e quer continuar nesta trajectória. Nesta entrevista, o responsável dá a conhecer a mais jovem escola do IPSantarém, os projectos em que está envolvida e perspectiva o futuro.

Está há cerca de um ano como director da Escola Superior de Desporto de Rio Maior (ESDRM), que balanço faz até ao momento? No próximo dia 5 de Dezembro faz precisamente um ano que esta nova direcção tomou posse. Eu já pertencia à equipa anterior – com o Prof. João Moutão – e o balanço que faço é, claramente, positivo, mesmo com todas as dificuldades e constrangimentos. Não só os que são do domínio público, mas, do ponto de vista da escola, temos tido capacidade de fazer melhorias, manter aquilo que é a nossa oferta formativa e, neste contexto, ter a capacidade de crescer em termos de alunos, o que é sempre motivo de grande satisfação. Tínhamos como meta os 1000 alunos, era um desejo e um objectivo grande que foi alcançado. Por outro lado, os nossos cursos foram todos reavaliados, no ano passado, pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior A3ES, e foram todos eles acreditados por mais seis anos. O que nos dá, igualmente, uma enorme satisfação: e falo das cinco licenciaturas e dos dois mestrados. Curiosamente, conseguimos manter, não só os alunos que tínhamos o ano passado, mas conseguimos crescer ligeiramente. Temos vindo numa trajectória, desde há quatro ou cinco anos para cá, de crescimento acentuado. Este ano, estávamos à espera de uma ligeira diminuição por causa de algumas mudanças na orgânica da A3ES mas, de facto, verificamos que ultrapassamos os 1000 alunos. Chegamos aos 1018 alunos. Eu vejo isto como um ponto positivo. Com a tomada de posse da nova presidência, criou-se igualmente um conjunto de espectativas para gerar dinâmica no Instituto Politécnico de Santarém (IPSantarém) em áreas fundamentais, nomeadamente a investigação, prestação de serviços, entre outras e, de facto, temos tido capacidade de manter esse envolvimento, de ir captando novos projectos. Claro que nem tudo é fácil: há um grande desafio interno que é a eficiência e eficácia dos processos e da organização em si. Um director não serve para nada se não tiver os seus órgãos e sua instituição a funcionar em pleno, e temos tido essa capacidade. Temos feito o nosso percurso que julgo ser sólido.

Quais são, neste momento, os principais projectos que estão a ser desenvolvidos pela escola? Temos ainda a decorrer, na sequência dos últimos anos, um concurso relativo à modernização dos Institutos Politécnicos, para além de outros projectos. De momento, a escola não está coordenar nenhum deles mas estamos envolvidos em três projectos dessa natureza que estão a finalizar agora. Depois, temos quatro projectos no âmbito do Erasmus+, financiados pela EU e temos tido, igualmente, a capacidade de dar resposta relativamente a prestação de serviços às autarquias: temos muita ligação aos municípios e somos procurados para fazer planos de desenvolvimento desportivo das autarquias. Este ano, desenvolvemos uma parceria interessante com a Câmara Municipal de Óbidos, que é muito conhecido pelo turismo e pela dinâmica que tem, mesmo sendo uma localidade pequena.

Agora, a ideia é potenciar toda a vertente ligada ao turismo activo. E tendo a nossa escola uma área de formação em Desporto da Natureza e Turismo Activo, fomos procurados nesse sentido, para criar circuitos pedestres, circuitos clicáveis, dinamizar uma série de infra-estruturas que estão paradas e que é necessário potenciar, entre outros aspectos.

Estamos também a potenciar a nossa ligação ao mar, por via da nossa oferta formativa. Uma das questões que correu muito bem este ano foi a consolidação e afirmação do nosso curso Técnico Superior Profissional (TeSP) em Surfing no Treino e na Animação Turística, que excedeu as melhores espectativas. De 20 vagas a concurso, tivemos cerca de 50 candidatos. Isto permitiu trazer os melhores candidatos, e com isso aumentar a nossa responsabilidade: temos vindo a fazer uma ligação muito forte, principalmente à zona de Peniche, que tem muitos operadores turísticos, e muitas empresas ligadas ao surf. O curso responde, efectivamente a uma necessidade evidente do mercado de trabalho e destina-se a todos aqueles que pretendam desenvolver funções como treinador ou monitor de atividades de Surfing. Também tivemos a consolidação de um dos nossos mestrados em Actividade Física e Saúde, em que tinha, em anos passados, pouca procura, e agora está a ser consolidado. Neste momento, já ultrapassamos os 20 alunos inscritos. Esta formação tem uma vertente associada à investigação. Depois, temos um outro mestrado, em Treino Desportivo, que tem uma componente profissional mais forte.

Olhando para o futuro imediato, quais são os principais desafios da escola? Eu diria que o principal desafio, neste momento, é o de manter as pessoas num nível de motivação elevado, como têm demonstrado até aqui, e a todos os níveis, não só do ponto de vista da formação e da sua ligação e intervenção no ensino. Temos, de facto, algumas fragilidades que nos colocam em situações de maior risco e que se relacionam com o nosso corpo docente próprio. Temos 42 professores de carreira e as nossas necessidades de contratação situam-se perto dos 60. Ora, esse vai ser o nosso principal desafio, para consolidar, para desenvolver, e para termos outros objectivos relativamente áquilo que é a nossa oferta formativa, e também no envolvimento dos professores na área da investigação. Vamos ter que, claramente, consolidar o nosso corpo docente próprio. É diferente ter um professor a tempo inteiro do que ter dois docentes a tempo parcial. Portanto: há que criar condições, não só a nível da unidade orgânica, mas também em articulação com o próprio Politécnico, de termos medidas assertivas para envolver as pessoas noutro tipo de tarefas das quais dependem a qualidade do nosso ensino. Isto apesar de sermos uma escola que sempre apostou na formação dos seus docentes: 95% dos nossos professores de carreira ou são doutorados ou especialistas. Não há muitas instituições politécnicas que se possam orgulhar desses valores. E, com isso, estamos mais próximos da formação dos docentes universitários e isso dá-nos algum conforto para estes desafios.

Por outro lado, temos que olhar para a consolidação do nosso corpo não docente e olhar para o nosso campus que tem um desafio que não depende só de nós, em particular o processo da residência de estudantes.

Como é que está o processo de construção da residência de estudantes, reclamada há anos pela escola? Confesso que estou um pouco frustrado com a situação. Durante quatro anos desenvolvemos uma série de contacto, e de acções que levassem à sua construção. Registo que houve abertura por parte da tutela, em termos de diplomas legislativos, que promoviam a construção de residências. E nós fizemos o trabalho de casa, o IPSantarém fez o trabalho de casa, foi tudo revisto e em Junho do ano passado foi entregue no ministério essa pretensão e posteriormente aprovada. Neste momento, temos todas as condições para poder lançar o concurso. Só falta o mais importante, que é a transferência de verbas, tal como ficou acordado, e o compromisso assumido perante a nossa instituição e a Assembleia da República. Agora, essa promessa ainda não se verificou, nem sequer na intenção de atribuição de verbas adicionais do ministério para o plafond do Instituto para que pudesse ser lançado o concurso, o que nos deixa muito tristes.

Acho que ninguém tem dúvidas da necessidade desta residência. Mas esta situação, ao mesmo tempo que me deixa triste, também me dá força para continuar a lutar por ela porque acho que é uma infra-estrutura que nos faz falta e é de elementar justiça que a nossa escola a possa ter.

De ano para ano há cada vez mais necessidade de alojamento. Temos cerca de 75% de alunos deslocados e a cidade não tem a oferta necessária. E este ano, à semelhança do que acontece recorrentemente, tivemos alguns alunos que desistiram precisamente por causa desse factor. Felizmente, ocupamos 100% das nossas vagas, mais uma vez. Na primeira fase, ficamos logo perto dos 90%.

Aquilo que posso prometer é que, juntamente com os estudantes, não vamos baixar os braços e vamos continuar a nossa pressão neste sentido.

Actualmente, quais são os cursos que têm maior procura e os que registam maior empregabilidade? Para além dos dados que nos chegam através do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), fazemos todos os anos um levantamento interno para percebemos precisamente os factores da empregabilidade. Actualmente isso pesa na hora da escolha de uma dada formação: não é só o gosto de andarem cá na escola pelo desporto em si. O que tentamos transmitir aos nossos estudantes é: “venham para cá para ter uma profissão e serem apaixonados por ela”. Hoje em dia, as pessoas já se questionam muito sobre o factor da saída profissional. E nós contactamos todos os diplomados no ano seguinte a terem terminado o curso para saber qual a sua situação profissional. De facto, os números indicam que esse indicador se situa acima dos 80%. Não só a taxa de empregabilidade como também a empregabilidade na área específica do curso. Devo referir que alguns alunos conseguem emprego ainda antes de acabar o curso. Aqui também se vê aposta que fizemos na relação com as entidades que são nossas parceiras onde os alunos vão estagiar, grande parte delas fica com os nossos alunos.

Dou o exemplo concreto aqui de Rio Maior: dos três ginásios que existem, quase a totalidade dos profissionais que lá estão são nossos ex-alunos. E isto acontece em igualmente em outros contextos.

Que aspectos diferenciam o ensino que é ministrado na Escola de Desporto de Rio Maior? Somos uma escola jovem, com 22 anos, e, na altura em que foi criada, foi feita uma aposta arrojada em termos do ensino desportivo que, na altura se resumia à formação de professores de educação física. Em Rio Maior, tentámos fazer diferente: começámos a fazer formação de treinadores, treino desportivo, de instrutores de ginásio, curso de condição física, entre outros. Aquilo que nos diferencia, portanto, é esta inovação, para alem da especialização em que sempre apostamos. Quando os TeSP’s surgiram, as outras escolas congéneres criaram TeSP generalistas na área do desporto. Nós tivemos esta discussão interna e não quisemos seguir esse modelo. Quisemos apostar em cursos de especialização, de técnicos superiores profissionais especializados. Nós temos o Treino Desportivo, Desporto, Condição Física e Saúde. Surgiu depois o curso de Desporto Natureza e Turismo Activo. Portanto, aquilo que nos tem diferenciado é esta capacidade que temos de nos renovar continuamente.

As pessoas quando vem para cá, aquilo que as atrai é, precisamente, esta especialização que oferecemos na área do desporto. Começámos em 98/99 com 11 professores, um funcionário e 51 alunos. E fomos crescendo: o facto de não termos, à época, instalações próprias, fez com que as nossas instalações fossem a cidade: até numa escola primária tivemos aulas.

Isto deu-nos uma certa resiliência, de estarmos próximos, não só entre nós, docentes, mas também entre os alunos: a cumplicidade de resistirmos a estas adversidades, sempre potenciando o desenvolvimento. Aqui conhecemos os alunos pelo nome, estamos próximos deles. Esta proximidade que existe continua a fazer toda a diferença.

Qual é a posição da escola em relação à internacionalização? Mais uma vez, neste aspecto, tivemos uma aposta arrojada: lançámos uma licenciatura no politécnico, na área do desporto, totalmente em inglês. Isto é muito atractivo do ponto de vista da internacionalização, mas não colhe ainda grande receptividade nacional. Os alunos nacionais ainda não procuram licenciaturas em inglês. A internacionalização não se faz só em termos de oferta formativa, principalmente na europa. Não há nenhum país nórdico que venha para cá, tirando alguma área muito especifica. E devemos apostar na internacionalização na Europa, mas através da investigação, projectos de investigação conjunta. E aí temos ainda passos largos a dar. E temos que, claramente, aproveitar as relações que temos com os países lusófonos.

O que é que um aluno pode esperar ao ingressar num curso da escola de deporto? O que podemos dizer é que aqui vai ser bem acolhido. Vai ter uma formação de qualidade que tentamos sempre melhorar dia após dia. Ele aqui vai ser o aluno, não vai ser só mais um. Somos uma escola com 1000 alunos, mas cada um deles tem nome. E, garantidamente, aqui vão adquirir competências diferenciadoras que, provavelmente, não conseguiriam adquirir noutro lado, para além de uma formação procurada e que oferece empregabilidade.

Como perspectiva o futuro da Escola? Hoje em dia, a sociedade é tão dinâmica que é complicado projectar o futuro. No entanto, nós temos que ser uma escola de referência a nível nacional do ponto de vista da formação em desporto e, para isso, temos que estar atentos à dinâmica do mercado nesse contexto. Aquilo que assusta mais é perdermos a capacidade de dinamismo e de acompanhar aquilo que é a dinâmica da própria sociedade e que nos acomodemos. Apesar das adversidades, sabemos bem de onde viemos, o que somos, e para onde queremos ir.

A diferenciação está no nosso ADN. Em termos de licenciaturas, nos próximos anos, provavelmente não vamos ter novas ofertas formativas. Mas a nível de cursos técnicos superiores profissionais e mestrados temos capacidade de progressão e podemos crescer. Temos também as formações de curta duração. Neste momento, temos uma orientação diferente, para os nossos diplomados, até para manter a relação com a escola. Quando olho para o futuro, eu vejo uma escola com um potencial enorme de afirmação. Na área da investigação científica, temos recursos humanos capazes de o fazer. Temos também alguns desafios pela frente, como a consolidação da nossa estrutura organizativa.

Quando se fala de internacionalização, defendo que pode ser potenciada também em termos de projectos de investigação, captando novos financiamentos para também almejarmos projectos dirigidos por nós e não irmos a somente a acompanhar outras instituições.

Para nós vermos esse futuro risonho, sabemos o que temos que fazer, haja coragem para o fazer: não nos podemos virar para dentro, temos que ter a capacidade de manter a ligação forte que temos com os nossos parceiros.

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