Cumpre-se esta sexta-feira, dia 22 de Agosto, o 103.º aniversário natalício do nosso saudoso Amigo João Gomes Moreira, que viria a falecer a 7 de Dezembro de 2017, aos 95 anos, na plenitude das suas faculdades intelectuais e dotado de um assinalável espírito jovial.

Falar do nosso João Moreira é falar um pouco de tudo o que envolva Santarém, sua terra natal, Vila Nova de S. Pedro, sua terra adoptiva, o Folclore, sua paixão maior, a par do Festival Internacional de Folclore de Santarém e do CIOFF, a Feira do Ribatejo / Feira Nacional de Agricultura, a Orquestra Típica Scalabitana, o Círculo Cultural Scalabitano, a Associação de Património Histórico-Cultural de Santarém, a Rádio Ribatejo, o Teatro, a Biblioteca Municipal de Santarém, o Turismo e, por fim mas não menos importante, o nosso Jornal “Correio do Ribatejo”, de que foi um dos mais dedicados colaboradores.

João Moreira foi um autêntico homem dos sete instrumentos, tantas eram as suas faculdades e tão imensa a sua disponibilidade e empenho. Este escalabitano ilustre, que em bom rigor foi um Cidadão do Mundo, irradiou simpatia e amizade por todos os sítios por onde passou, e tantos foram efectivamente.

Mau grado a provecta idade com que faleceu, João Moreira alardeava um espírito e um dinamismo notáveis, envolvendo-se em tudo o que lhe acalentava a alma e o coração. Tive a sorte, qual privilégio, de o ter tido como meu Amigo, e para o João Moreira era um irmão mais novo, embora tivesse idade para ser meu pai.

O relacionamento que mantivemos foi muito intenso, cúmplice até, pois as circunstâncias da vida proporcionaram-nos uma grande proximidade e um infinito companheirismo. Quando Celestino Graça morreu, cumprir-se-á no próximo dia 24 de Outubro meio século, João Moreira sucedeu-lhe em algumas das suas funções, nomeadamente na direcção do Festival Internacional de Folclore de Santarém e no CIOFF – Conseil International des Organizateurs de Festivals de Folklore.

Por esse tempo já eu acompanhava Celestino Graça passando depois a seguir as pisadas de João Moreira, integrando pela primeira vez a Comissão Organizadora do Festival Internacional de Folclore de Santarém no ano de 1977. O facto de ser então um dos responsáveis dos Grupos Infantil de Dança Regional e Académico de Danças Ribatejanas – ambos fundados e dirigidos até à hora da sua morte por Celestino Graça – impôs-me um frequente aconselhamento com João Moreira, dada a sua reconhecida experiência no meio.

Em Lisboa, onde João Moreira vivia e trabalhava, ou em Santarém, durante os fins-de-semana que aqui passava, o contacto era assíduo. Havia sempre coisas a conversar e havia sempre muitos ensinamentos que eu retinha dos seus judiciosos conselhos. Pelo país, em reuniões da Federação do Folclore Português ou em diversos festivais de folclore, deslocávamo-nos juntos partilhando esse tempo para aprofundar a tão aliciante matéria que a ambos apaixonava.

João Moreira deu cartas como ninguém na interacção fácil e muito afectuosa com todos os grupos folclóricos com que se cruzou gerando uma empatia extraordinária, pelo que acompanhá-lo em qualquer festival, no país ou no estrangeiro, era uma experiência singular. Mas acompanhar o João Moreira era também uma constante animação, pelas mais imprevistas situações em que tantas vezes nos víamos envolvidos.

Como continuo a participar em diversos fóruns onde o folclore constitui a componente fundamental da sua realização, a lembrança de João Moreira continua sempre viva, pelo que com toda a propriedade se pode dizer que só morrem os que são esquecidos. E posso garantir que o nosso Amigo João Moreira continua bem vivo e presente nas nossas reuniões.

A influência de João Moreira na organização do Festival Internacional de Folclore de Santarém foi determinante, posto que Celestino Graça confiava plenamente nas suas capacidades e no seu empenho, enquanto ele próprio se ocupava dos aspectos de maior melindre e na apresentação dos espectáculos, que tanto gostava de fazer.

Porém, foi a partir de 1977 que o Festival de Santarém mais se desenvolveu e melhor se estruturou, e isto fica a dever-se por inteiro a João Moreira, que carreou para a organização do Festival aspectos que até então eram muito incipientes, como era o caso dos cenários, dos camarins para os Grupos, do catálogo e do cartaz do Festival, do pagamento do “pocket monney” aos Grupos, das viagens a Lisboa, a Nazaré e a Fátima, e das dietas alimentares exigidas pelos Grupos, dada a especificidade das suas culturas.

O CIOFF aprofundou muitas das regras de organização dos Festivais, impondo melhores condições aos Grupos e ao Público, e João Moreira levou muito a sério estas alterações, o que ainda mais valorizou o Festival de Santarém em comparação com outros festivais que se realizavam no nosso país com a participação de grupos folclóricos estrangeiros, mas que não reuniam as condições exigidas pelo CIOFF.

O vasto conhecimento de João Moreira ao nível da organização de festivais de folclore adveio-lhe da presença anual em diversos festivais no estrangeiro, designadamente em Confolens (França), que é muito justamente considerado um dos melhores festivais do mundo, e a partir do qual tentámos adaptar o nosso Festival, de forma mais acentuada a partir de 2015, quando regressámos à Casa do Campino e alterámos expressivamente o formato do certame, que passou então a designar-se “Festival Celestino Graça – A Festa das Artes e das Tradições Populares do Mundo”, o qual mantém como âncora o Festival Internacional de Folclore, todavia integra na sua vasta programação outras actividades dedicadas, designadamente, ao artesanato, ao Fado, à Fotografia, aos Jogos Tradicionais, à Gastronomia, a exposições temáticas, ao Fandango, aos “Sons Autóctones – Sons da Memória”, uma interessante mostra de instrumentos musicais tradicionais, que terá lugar na Casa do Campino, no domingo, dia 7 de Setembro, a partir das 15 horas, antecedendo a Gala de Encerramento do Festival Celestino Graça.

O aprofundamento deste novo formato deve-se muito às sugestões de João Moreira, que em longas conversas dava nota da importância de criar atractivos para o Festival, quebrando a rotina em que habitualmente estes certames se tornam, pois, o público precisa de ser surpreendido. Não podemos estar mais de acordo com este pensamento do nosso Amigo João Moreira, pelo que com inteira justiça cada edição do Festival Celestino Graça tem muito do seu pensamento e do seu espírito.

A próxima edição do Festival Celestino Graça terá o seu início no próximo dia 2 de Setembro e lá contaremos com a presença espiritual, qual musa inspiradora, do nosso Amigo João Moreira, que nunca esqueceremos. Vamos ao Festival homenagear o Amigo João Moreira!

 

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