Francisco Maia Jerónimo preside à Associação de Futebol de Santarém há oito anos. Foram inúmeros os desafios que a associação ultrapassou para tornar o futebol da região mais competitivo, consolidando-a no 7º lugar do ranking das 22 associações distritais e regionais. Ao nosso Jornal, o presidente– que ocupa o cargo desde 2012 – faz o balanço destes anos à frente da instituição, fala dos projectos de futuro e dá-nos conta das prioridades da AFS, garantindo que a associação está atenta às mudanças no futebol distrital e ao lado dos clubes para ultrapassar esta crise. “Estaremos, todos, na primeira linha desta luta pelo nosso futebol distrital”, afirma ao Correio do Ribatejo.

Francisco Jerónimo preside, desde 2012, à Associação de Futebol de Santarém (AFS). Da tomada de posse até aos dias de hoje, como avalia a evolução do futebol no distrito?
Nestes últimos oito anos, o futebol distrital evoluiu de maneira mais sustentada, estabilizando o número de clubes mais bem preparados para os desafios que os tempos de hoje obrigam. A modernização dos serviços da Associação, com uma vasta equipa de directores empenhados e mobilizados por esta nobre causa, permite estar junto dos clubes, na vanguarda na implementação das novas tecnologias, na procura de maior eficiência, com ganhos nas respostas solicitadas e na simplificação de processos para redução de custos de funcionamento.
Com o trabalho enorme dos dirigentes dos clubes, que contribuem para serem encontradas as melhores soluções e implementados projectos com maior rigor, foi possível uma subida média do número de praticantes de 4 por cento ao ano, atingindo, actualmente, os 9500, consolidando o 7º lugar no ranking das 22 associações distritais e regionais.

Que impactos tem esta paragem forçada no Futebol da região?
A pandemia Covid-19 veio afectar de forma avassaladora Portugal, a Europa e o Mundo, e o futebol de uma maneira geral foi também seriamente afectado, quer do ponto de vista desportivo, quer ainda do ponto de vista financeiro. De tal forma que ainda não foi possível conhecer a real dimensão deste problema.
Nós, a família do futebol, mostrámos maturidade para parar no tempo certo, suspender o que tinha de ser suspenso, definir quadros competitivos para 2020/2021 e, agora, implementar um programa financeiro, já com a verba garantida de 100 mil euros, de apoio extraordinário aos clubes para o arranque da época 2020/2021.
Os nossos clubes que participam, quer no futebol jovem, quer nos escalões seniores, têm como modo de sobrevivência os apoios das autarquias, do pequeno comércio, indústrias locais e da criatividade dos seus dirigentes na realização de acções de angariação de receitas: todos sectores fortemente afectados pela Covid-19. Por isso, vamos ajudar os nossos clubes a superar as dificuldades que atravessam, e vão ainda atravessar nos próximos meses, para garantir a sua sustentabilidade futura.

Concorda com as decisões tomadas pela Federação Portuguesa de Futebol em relação às subidas e descidas nos campeonatos distritais?
A decisão da subida do representante do distrital ao campeonato nacional de futebol, foi conseguida num diálogo construtivo e, por vezes, de difícil concertação de posições com a FPF. Já relativamente às não descidas aos distritais, foi uma decisão consensual.

Com esta decisão, o União de Almeirim SAD subiu ao campeonato de Portugal e o campeonato distrital da 1ª divisão teve de ser reformulado. Esta foi uma decisão que já estava pensada?
No início do passado mês de Março, ninguém podia prever que, no dia 10, seriam suspensas as provas dos escalões da formação e, no dia 12, os seniores e toda a actividade desportiva da AFS. Por esta situação ter surgido de forma abrupta não podia ser uma decisão que já estava pensada, mas sim uma decisão que foi construída em articulação com aos clubes.

Como é que vai ficar a 2ª divisão?
A 2ª divisão vai ficar com as equipas que se vierem a inscrever, com o mesmo modelo competitivo, uma vez que não se prevê que haja desistências de clubes e, por isso, será disputado em duas séries.

As Associações de Futebol Distritais já têm data para o início da próxima temporada?
Ainda não há data para o início oficial da época desportiva 2020/21: aguardamos as orientações da FPF, articuladas com as tomadas de posição da Direcção Geral da Saúde. Todavia, vem sendo preparado o planeamento para a próxima época desportiva, em função dos dados que dispomos. Admitimos que, com a evolução da Pandemia, sejam necessários ajustes desse mesmo planeamento.

O futsal foi um caso de resolução mais lento. Concorda com a tomada de decisão da FPF em relação a esta modalidade?
Foi, de facto, um processo demasiado lento, com decisões de grande impacto na organização das provas nacionais, o que não nos parece adequado face ao período de grande excepção e imprevisibilidade em que vivemos. Não foi seguida a coerência que se esperava face a decisões tomadas pela FPF relativamente ao futebol.
Na subida á 1ª divisão nacional, não foi premiado o mérito desportivo para se indicar as duas equipas com melhor média de pontos. Quando o campeonato foi suspenso, a FPF marcou o apuramento com oito equipas, prova já incluída na próxima época, com planteis diferentes, em que a verdade desportiva de 2019/20 é posta em causa.

Que decisão foi tomada em relação ao Futsal distrital?
Relativamente ao futsal distrital, indicamos o representante do distrito para subida ao nacional o clube que estava na frente da classificação no momento da suspensão e, nesta época de transição, não estão previstas alterações ao modelo competitivo.

O Ferreira do Zêzere estava perto da subida à primeira divisão. É importante a região ter um clube representado nesta competição?
O Ferreira do Zêzere é a equipa com melhor mérito desportivo na 2ª divisão nacional, no momento da suspensão do campeonato, e é forçada a disputar o apuramento para a subida, o que não concordamos e fizemos sentir isso mesmo junto dos responsáveis da FPF. Precisamente por esta decisão estar a pôr em causa a verdade desportiva e contrariar a linha de orientação seguida para o futebol. Mas o Ferreira de Zêzere estará presente para vencer o apuramento e estar na próxima época no escalão máximo do futsal português, constituindo uma âncora para o desenvolvimento da modalidade e para a promoção da própria região.

A AFS anunciou já um pacote de medidas de apoio aos clubes. Esse apoio pode crescer ainda mais?
A AFS está na linha da frente na defesa dos seus filiados, atletas e colaboradores. No actual quadro restritivo das nossas actividades e porque soluções excepcionais exigem medidas excepcionais e a AFS está atenta á evolução de todo este processo para encontrar soluções adequadas a eventuais maiores dificuldades dos clubes.

Considera que existem infra-estruturas suficientes para a prática do futebol na região?
Apesar do grande investimento em infra-estruturas desportivas nas duas últimas décadas – iniciativa das autarquias maioritariamente – alguns desses equipamentos já necessitam de recuperação, pois já ultrapassaram o seu período de vida útil.
O crescimento de número de praticantes pressionou um aumento da procura, em termos de futebol e futsal: a chamada taxa de penetração na população entre os 5 e os 39 anos, nos 21 concelhos, é já de 5 por cento.
Em alguns concelhos, em particular aqueles com maior número de atletas, é necessário investir na construção de novos equipamentos desportivos, até para baixar o rácio de atletas por infra-estrutura desportiva, que, no estudo publicado pela AFS em 2017, já mostrava 1566 habitantes por infra-estrutura desportiva para a prática do futebol e futsal.

Os planos de apoio neste sector têm sido bem vistos pelos clubes e autarquias?
Os programas que a AFS, tem vindo a implementar no apoio à modernização de infra-estruturas desportivas têm sido utilizados pelos clubes e bem aceites pelas autarquias, pois constituem um elemento dinamizador para a concretização de projectos há muito desejados e necessários ao desenvolvimento desportivo.
Actualmente, o programa de apoio às infra-estruturas desportivas é mais abrangente, inclui a eficiência energética, para a redução de custos de exploração, equipamentos de apoio médico e de transportes de atletas. Também esta a decorrer a entrega de equipamentos de informática no âmbito do programa de apoio á modernização dos clubes

O futebol de formação também foi obrigado a parar. Isto implica um atraso no crescimento dos jogadores?
Todos esperamos que este período difícil seja ultrapassado sem mais agravamentos e, por isso, que sejam minimizados os problemas de arranque da próxima época desportiva.

Deu nota que o Futebol 9 pode avançar na próxima época desportiva. Como é que está a ser desenhada esta competição?
O Futebol 9 já é uma realidade no nosso futebol distrital. Este ano, o Tejo Cup já previa o escalão dos sub-13 com Futebol 9. Na sequência da reunião com os clubes com equipas na formação, foi clara a vontade de consolidar esta aposta.

É objectivo da Associação crescer mais no sector formativo?
A Associação está a cumprir um plano ambicioso de formação dos agentes desportivos, com a colaboração de personalidades de reconhecida qualidade, que tem como objectivo dotar os técnicos de ferramentas para que estejam melhor preparados para os desafios do futuro.

Durante este tempo de pandemia a AFS não parou e desenvolveu uma série de formações online para os técnicos. Esta opção à distância é para continuar ou, assim que for possível, voltam às sessões presenciais?
A Associação teve uma grande capacidade de adaptação à nova realidade e, aproveitando esta janela de oportunidade que as autoridades nacionais e a própria UEFA abriram, foi possível, em todo este período de confinamento, ter o plano de formação contínua com grande procura que ultrapassou os 2 mil participantes de treinadores de futebol e futsal. Esta nova experiência foi muito positiva e vai ficar para complementar a formação desportiva presencial.

Considera que os técnicos da região são bem formados?
A formação dos técnicos da região tem evoluído significativamente, com a dedicação e grande esforço destes, sendo que, hoje, estão já num patamar superior. A AFS teve, na época passada, um árbitro no escalão máximo do futebol.

É expectável que a região conte com mais profissionais neste patamar no futuro?
Para a nossa arbitragem, é muito importante ter um árbitro no escalão máximo do futebol português, uma vez que isso se constitui como uma referência para os mais jovens acreditarem que é possível atingir o topo da carreira. O trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Conselho de Arbitragem é o de garantir que continuamos a consolidar posições nos vários níveis da arbitragem nacional.

O trabalho dos núcleos da região tem sido muito importante, nas formações, trazendo árbitros internacionais à região? É este o caminho?
O trabalho desenvolvido pelos núcleos da arbitragem, nomeadamente na mobilização e formação dos árbitros, tem sido de grande relevância, sendo esta articulação e apoio do Conselho de Arbitragem o caminho certo em prol de uma arbitragem cada vez melhor.

Quais são os projectos que a AFS tem pensados para o futuro?
Neste período de grande perturbação, é decisivo trabalharmos para a sustentabilidade do futebol distrital.

Que mensagem quer deixar aos clubes, atletas e treinadores da região?
Todos os indicadores que recebemos das reuniões com os nossos clubes, são de clara vontade e empenho da parte dos dirigentes para ultrapassarmos esta fase difícil das nossas vidas. Estaremos, todos, na primeira linha desta luta pelo nosso futebol distrital. Juntos vamos vencer este jogo.

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