Para a atleta Ribatejana Maria Martins, única portuguesa a conseguir participar numa prova de ciclismo de pista em Jogos Olímpicos, “a pressão é um privilégio”, que, aos 23 anos, vai gerindo no seio da “família” da selecção nacional.
“Senti, imediatamente após os Jogos Olímpicos Tóquio’2020, uma espécie de vazio que acho que todos os atletas acabam por viver. No meu caso, foram quase três anos a trabalhar para aquele objectivo, e em quatro horas a coisa dá-se, já está. “E agora?””, reflecte a jovem.
Maria Martins é a “mulher História” do ciclismo de pista português, tais são os feitos a que chegou pela primeira vez, de medalhas em Europeus e Mundiais à inédita participação olímpica, coroada com um sétimo lugar e diploma no omnium.
A pistard, que também corre na estrada profissionalmente, na britânica Le Col – Wahoo, enfrenta hoje esse mesmo concurso, que agrega scratch, tempo, eliminação e pontos, nos Mundiais de elite de Saint-Quentin-en-Yvelines, França.
Um Velódromo que receberá Paris’2024 e que é, portanto, um objectivo na mira de Tata Martins, depois de este ano, ainda por findar por estar a jogar no maior objectivo da época, ter sido “um bocadinho uma montanha russa”.
Apesar de ter andado “mais apagadinha” em parte da temporada, depois de um bom arranque, conseguiu ainda assim “treinar em casa e preparar o final da época”, e, por isso, tira “bastantes pontos positivos” de um ano que é quase “um aquecimento para o ciclo olímpico” seguinte, a partir de 2023.
“Foi complicado entrar novamente no ritmo. Era um sonho que tinha, ir aos Jogos, e realizá-lo tão rapidamente parecia… senti ali duas ou três semanas em que estava a navegar pelas nuvens. Mas, depois, consegui engatar bem, tenho pessoas que me ajudaram bastante a voltar à rotina de treino”, analisa.
Agora, mais de um ano volvido desde uns Jogos Olímpicos adiados para 2021 devido à pandemia de covid-19, “vai caindo a ficha” de que é a única pistard olímpica portuguesa, depois de “uns meses em que foi complicado assimilar”.
“Ser olímpica, ter tido o diploma, trouxe muitas coisas boas, mais boas que más, mas há sempre a questão da pressão e responsabilidades. Mas a pressão é um privilégio, não é qualquer um que pode ter pressão”, atira.
Esta confiança é quase traída pelos seus 23 anos, já carregados de medalhas em Europeus de elite, com dois bronzes, em 2019 e 2020, e em Mundiais, com um terceiro lugar no scratch de 2020, prova em que na quarta-feira foi 12.ª.
“Tive a sorte de poder começar em juniores a trabalhar com a selecção de pista. O seleccionador [Gabriel Mendes] desde cedo me agarrou e deu-me oportunidades que me permitiram ter a experiência que tenho hoje em dia. É-me útil nas corridas e tiro proveito disso”, declara.
A ciclista natural da Moçarria, uma terra com pouco mais de mil habitantes no concelho de Santarém, comenta estes assuntos no exterior do Velódromo onde se reúnem os melhores do mundo da pista, um lote no qual se inclui, e ao lado de João Matias, “o exemplo da experiência” e, aos 31 anos, o mais velho do quinteto luso convocado.
Esse grupo, de resto, é um que conhece há anos e que foi crescendo em conjunto, alcançando mais presenças, mais pódios e mais pontos no ranking ao longo dos últimos anos.
Apesar de ter estado sozinha em Izu, longe de Tóquio e da restante comitiva portuguesa nos Jogos Olímpicos, a missão a caminho de Paris’2024 é por todos assumida em conjunto, com o objetivo de aumentar o lote para a próxima edição.
“Para o ano, em termos de pista, os objectivos são claros: as provas importantes para a qualificação olímpica. Na estrada, quero entrar bem na época, no período das clássicas, e tentar ganhar a minha primeira corrida profissional, WorldTour ou não. Gostava de dar esse passo na carreira, e acho que é o que falta neste momento”, resume.
Além dos resultados, do treino, da preparação e do planeamento, há um ponto ainda mais importante, realça Maria Martins: “Não há grupo como o nosso”.
“Não somos colegas de equipa, somos mesmo uma família. Consegui a qualificação olímpica por causa dos colegas de equipa que tenho, pela preparação que me ajudaram a fazer, porque confiaram sempre em mim e apoiaram-me.
Foi muito graças a estes parceiros”, remata